Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2011 Elizabeth Bevarly. Todos os direitos reservados.

O AMOR DO MULTIMILIONÁRIO, N.º 1056 - Março 2012

Título original: The Billionaire Gets His Way

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em portugués em 2012

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

I.S.B.N.: 978-84-9010-698-3

Editor responsável: Luis Pugni

ePub: Publidisa

Capítulo Um

A única coisa que Violet Tandy queria na vida era um lugar a que pudesse chamar o seu lar. Uma casa própria, não um lar de acolhimento como aqueles onde crescera. O tipo de lar que via nos filmes, com janelas brancas e árvores no jardim. E uma cerca em volta. Tinha que ter uma cerca. E um alpendre com uma cadeira de baloiço onde pudesse ler os livros que amara desde pequena, Jane Eyre, Lassie Volta a Casa e os livros de Louisa May Alcott. Mas seriam os seus livros e não teria que os devolver à biblioteca todas as semanas.

No jardim da casa haveria roseirais e lilases perfumados, buganvílias e glicínias a trepar pelos muros. Faria camisolas de tricô e pastéis caseiros para pagar a hipoteca. Viveria e deixaria viver e conformar-se-ia com a sua solitária existência. E jamais magoaria outra pessoa. Sim, uma vida tranquila numa casita confortável só para ela era a única coisa que Violet esperava da vida.

E por isso escrevera as memórias sobre a sua vida como «acompanhante» de luxo.

Ainda que Violet jamais tivesse sido acompanhante, nem de luxo nem de outro tipo. E as suas memórias não eram mais do que uma novela escrita para que parecessem memórias, uma moda que se tornava cada vez mais popular entre os leitores, ela incluída. Gracie Ledbetter, sua editora na empresa de publicações Rockcastle, gostara tanto da história que quando a chamou para lhe fazer uma oferta teve que admitir que, se não a conhecesse bem, teria acreditado que era realmente uma acompanhante de luxo e que a sua história não era mais do que um relato romantizado, camuflado, das suas experiências reais.

Na verdade, Gracie continuava a fazer isso, a falar da sua novela de uma forma encoberta, como se não estivesse convencida de que o livro era uma ficção. Mesmo no presente, um ano depois de assinar o contrato e semanas após a publicação do livro, continuava a dizer coisas como: «A suite Princesa no hotel Ambassador de Chicago faz-te mesmo sentir como uma princesa quando te deitas na cama?».

E como iria Violet saber? A razão pela qual vira a suite Princesa do hotel Ambassador era porque trabalhara lá como empregada, a fazer as camas. Mas cada vez que o recordava a Gracie, a sua editora dizia: «Ah, claaaro. Trabalhaste lá como empregada», com um tom que não agradava muito a Violet.

Uma vez perguntara-lhe se o croque monsieur com molho de trufa no Chez Alain deixava mesmo uma pessoa cheia durante três dias como dizia a crítica gastronómica.

E como iria Violet saber? A única razão pela qual provara o croque monsieur com molho de trufa no Chez Alain era porque trabalhara lá e todos os empregados provavam os pratos quando o chef mudava a ementa. Mas cada vez que o recordava a Gracie, a sua editora respondia: «Ah, claaaaro. Trabalhaste lá como empregada de mesa», de uma forma que não convencia Violet de todo.

Era indiferente. Gracie dizia aquelas coisas porque se deixara levar pela prosa de ficção. Com um pouco de sorte, o público reagiria da mesma forma e o livro transformar-se-ia num best-seller na famosa lista do New York Times. E, desse modo, ela ganharia dinheiro suficiente para comprar a casa com que sempre sonhara nos arredores de Chicago.

O adiantamento que lhe tinham dado pelo livro era mais modesto, mas graças à boa reação da equipa depois da primeira revisão do manuscrito, tinham mudado a data de publicação, tinham mudado o título para Saltos de Agulha, Champanhe e Sexo e tinham convencido Violet a adotar um pseudónimo mais sexy do que o seu nome: Raven French.

Ainda que ao princípio tivesse hesitado, finalmente aceitou e tinha que reconhecer que estava a funcionar. Durante a primeira semana, Saltos de Agulha debutara no número vinte e nove da lista. Após a segunda edição subira quatro lugares e estava prestes a entrar para os quinze primeiros. E depois de uma terceira edição, sem dúvida subiria ainda mais.

E por isso, Violet Tandy, Raven French, estava sentada em frente a uma mesa coberta de exemplares de Saltos de Agulha numa livraria da avenida Michigan numa solarenga tarde de outubro. E por isso, estava a olhar para os olhos azuis mais extraordinários do homem mais belo que alguma vez vira na sua vida.

Estava sentado na última fila e não desviara aqueles olhos dela uma única vez desde que se sentou. E esse escrutínio, ainda que bem-vindo, caso não o tivesse mencionado, o homem era belíssimo, estava a começar a fazê-la sentir-se desconfortável.

Era tão… intenso, tão assolador. Tão charmoso e tão desmedido. Até sentado era mais alto do que todos e os seus ombros eclipsavam a pessoa que se sentava atrás. O cabelo dele parecia mais negro do que o seu próprio, muito bem cortado. E aqueles olhos tão claros, de um azul quase transparente e rodeados por longas pestanas negras…

Apesar de ser sábado, usava um elegante fato escuro, algo que o fazia sobressair entre os restantes, todos vestidos informalmente.

Mesmo Violet, Raven, trazia roupa informal, escolhida pela sua publicista na editora Rockcastle. Marie aconselhara-a, como de costume, e naquele dia trazia calças pretas, um top de manga cocktail com decote em bico e, claro, sapatos de salto agulha. Tudo de marca porque Violet Tandy… ou seja Raven French, tinha que parecer uma autora de sucesso.

Violet não podia permitir-se ao luxo de comprar a roupa cara de que Raven precisava com o modesto adiantamento do seu livro. Felizmente, Marie levara-a a uma boutique na avenida Michigan especializada em alugar roupas de marca e joias para mulheres que queriam misturar-se com a alta sociedade.

Para aquele dia, Violet… ou melhor Raven, optara por um fato Prada e sapatos Stuart Weitzman. Para completar a indumentária, Marie escolhera um pingente e brincos Ritani com diamantes e ametistas de cor violeta que condiziam com os seus olhos.

Ainda que o seu verdadeiro nome não fosse Violet mas, lamentavelmente, Candy. Candy Tandy. Uma das indignidades às quais a sua mãe a submetera antes de a abandonar numa loja aos três anos, com um bilhete preso na t-shirt no qual a descrevia como uma menina problemática que nunca ninguém poderia amar.

Mas isso, juntamente com tudo o resto que vivera nos seus vinte e nove anos, era o passado e ela só queria pensar no futuro. Um futuro na sua casa cheia de roseirais onde adotaria todo o tipo de animais abandonados: gatos, cães, ovelhas, vacas, era-lhe indiferente. Um dia poderia até vir a ser mãe adotiva. Mas só se lhe garantissem que as crianças ficariam com ela para sempre e não andariam de uma casa para a outra, como lhe acontecera a ela em criança. Os seus filhos seriam capazes de fazer amigos dos quais não teriam que se despedir, poderiam manter relações profundas e não superficiais, como lhe acontecera a ela.

Por alguma razão, Violet voltou a fixar-se no homem da última fila e que continuava a observá-la intensamente. Não era o tipo de pessoa que tinha imaginado que leria o seu livro. Na verdade, parecia mais o tipo de homem que teria aparecido na sua novela como uma personagem, talvez um dos muitos amantes da sua protagonista. Cada um era uma combinação dos homens que Violet conhecera enquanto trabalhava em hotéis e restaurantes de luxo. Homens ricos, poderosos. Homens que se importavam mais com a sua imagem e reputação nos negócios e na sociedade do que com qualquer outra coisa ou pessoa.

Violet conseguiu desviar o olhar do sedutor estranho para se concentrar nas restantes pessoas que tinham ido ouvi-la falar sobre o seu livro antes de levarem uma cópia autografada. A maioria eram mulheres. As mulheres sempre se tinham sentido fascinadas pelo sexo à venda e pelas protagonistas femininas que usavam a sua sexualidade, a arma mais poderosa que possuíam, para conseguir o que queriam na vida. Mulheres que desfrutavam de encontros com homens que pagavam exorbitantes quantias de dinheiro para lhes fazer coisas… ou pedir que lhes fizessem coisas que muitas pessoas nunca fariam com os seus maridos.

Francamente, ela não era propriamente uma mulher do mundo. Tivera namorados desde a adolescência, mas nunca entendera de todo o fascínio que muita gente sentia pelo sexo. Os homens da sua vida não tinham sido muito especiais e também não a tinham feito sentir especial. Seguramente por isso, não tivera muitos. Para ela, o sexo era uma necessidade física como comer, dormir ou tomar banho. Mas não precisava dele com frequência.

Uma mulher que trabalhava para a editora anunciou que era altura de começar e Violet concentrou-se no assunto que tinha entre mãos: olhar para o belíssimo homem da última fila.

Não!, corrigiu-se a si mesma. Para olhar para as pessoas que tinham ido ouvi-la falar da sua novela. Fazendo um rápido cálculo mental, Violet multiplicou o número de lugares pelo número de filas e acrescentou outras quinze pessoas que estavam de pé. O total era cinquenta e dois e todos tinham ido comprar o seu livro. Fantástico.

Quase podia cheirar as rosas.

Falou durante vinte minutos sobre as mulheres que controlavam a sua própria sexualidade e sobre o suposto encanto de manter relações sexuais sem emoções. E continuou com o enigma de como algo físico podia estar unido a algo tão emocional como o amor.

Evitou falar das suas próprias experiências já que ela era uma pessoa reservada e não achava que ninguém estivesse interessado no seu passado de criança pobre e abandonada. Em vez disso, concentrou-se nas motivações e objetivos de Roxanne, a sua protagonista. Falou sobre como cada um dos clientes de Roxanne simbolizava um aspeto da condição humana e como a sua heroína tentava estar acima do seu trabalho, sem permitir que a afetasse.

Na verdade, Violet… ou seja, Raven, organizara o livro de forma a que cada capítulo após o primeiro, no qual Roxanne era contratada por uma madame chamada Isabella, tinha como título o nome da cada um dos seus clientes. Por exemplo, o introvertido Michael, que representava a necessidade de Roxanne de se libertar das suas inibições. Ou William, um homem sem prisões que lhe mostrou um mundo novo. Ou o estudioso Nathaniel, que aumentou a sua sede de conhecimento, enquanto o alegre Jack a ajudara a descobrir a capacidade de ser feliz. E todos eles eram amantes de calibre olímpico que lhe davam orgasmos fabulosos.

O livro culminava no último capítulo: Ethan. Ethan era a noção idealizada do homem perfeito, o que preenchia Roxanne como os restantes não podiam fazer e que a levara a alturas sexuais e emocionais que… enfim, que não existiam no mundo real. Aquele era um trabalho de ficção afinal de contas. Ethan era muito masculino em todos os sentidos, mas adorava mulheres e respeitava os seus desejos e a sua independência…

Sim, como se isso acontecesse na vida real.

Quando terminou a sua conversa, Violet, Raven, abriu uma ronda de perguntas e uma dúzia de mãos levantaram-se. O homem da última fila continuava a observá-la fixamente. Na verdade, a sua intensidade tornara-se hostil. Violet não sabia o que o podia ter aborrecido tanto, pelo que olhou para uma mulher de cabelo branco e aspeto de avozinha das histórias que tinha levantado a mão.

– Diga.

A mulher sorriu enquanto se levantava da cadeira.

– É verdade que foi você quem inventou a posição sexual chamada «poster desdobrável»?

Oh, não. Violet teve que fazer um esforço para conter uma gargalhada. Evidentemente, confundira-a com a protagonista da novela.

– Não, não, não fui eu mas a protagonista do meu livro, Roxanne.

A mulher ergueu as sobrancelhas em sinal de confusão.

– Mas eu pensei que você era a Roxanne.

– Não, senhora. Eu sou… a Raven.

– Mas não foi você quem escreveu o livro?

– Sim, mas…

– E o livro são as memórias de uma prostituta de luxo.

– Sim, mas…

– Então foi você quem inventou aquela posição.

– Não, eu…

– O que eu gostaria de saber – uma mulher de cabelo escuro interrompeu-a – é como é que funciona isso do creme de menta. Bebia-o você antes de fazer sexo oral com os seus clientes ou era para uso externo?

Violet ficou horrorizada com a pergunta. Lera sobre o creme de menta numa revista, mas nunca o tinha provado.

– Na verdade, eu não…

Mas antes que conseguisse terminar, outra mulher, esta uma loira universitária de óculos, levantou-se.

– O meu namorado e eu vamos passar o verão em Itália. Poderia contar-nos algo mais sobre o clube sexual ao qual Francesco a levou quando estiveram em Milão?

Violet abriu a boca para responder, mas da sua garganta não saiu uma única palavra. Evidentemente, todos pensavam que ela era Roxanne. Não se davam conta de que o livro era um trabalho de ficção. Ainda que parecessem memórias, na contracapa dizia claramente que era uma novela. E as críticas tinham saído na secção de ficção de todos os jornais… para não dizer que as aventuras de Roxanne eram tão exageradas que ninguém poderia acreditar que tinham acontecido a uma pessoa verdadeira.

Ou sim?

A pergunta sobre o clube em Milão pareceu iniciar uma tempestade de perguntas. Tinha mesmo mantido relações sexuais com Sebastian na montanha russa? Por que motivo não quis fazer o filme porno que Kevin queria que fizesse? Onde tinha comprado aquelas cuecas abertas entre pernas de que Terrence tanto gostava?

As perguntas continuavam e continuavam até que aquilo se transformou num caos. Felizmente, a dona da livraria interveio, indicando que o momento de perguntas e respostas havia terminado e a senhora French ia assinar para todos aqueles que quisessem levar um exemplar de Saltos de Agulha, Champanhe e Sexo autografado.

Nem todos os que tinham ido à conversa se puseram na fila, mas muitos fizeram-no. E ainda que todos quisessem continuar a fazer-lhe perguntas, a dona da livraria encarregara-se de os empurrar amavelmente. Quando finalmente assinou a última cópia, Violet estava exausta.

Infelizmente, enquanto guardava a esferográfica na mala, imaginando-se no seu apartamento com umas calças de fato de treino e uma t-shirt a ver o Casablanca, alguém pousou violentamente um exemplar do livro sobre a mesa. Surpreendida, Violet olhou para cima e encontrou os incríveis e transparentes olhos azuis do estranho. Uns olhos que já não pareciam zangados mas absolutamente furiosos.

– Perdoe-me… não o tinha visto.

Sem dizer nada, ele limitou-se a empurrar o livro para ela. Violet, nervosa apesar de não saber porquê, tirou a caneta da mala, olhando para a mão que tapava a capa, com uns sapatos de verniz negro, uma taça de champanhe efervescente e umas cuecas vermelhas. Era uma mão grande e masculina cujo polegar parecia acariciar as cuecas da capa… e no dedo anelar levava um anel de ouro e ónix, que poderia ou não ser uma aliança de casamento.

Como a mão não se movia do livro e ela não o podia assinar, Violet olhou para cima. E quando ele a olhou com evidente hostilidade, a sua confusão aumentou.

Violet tentou recordar-se se o conhecia e se lhe fizera algo que justificasse aquela expressão.

Teria apagado a sua reserva no Chez Alain? Teria costurado mal a bainha das suas calças quando era costureira no Essex Tailors ou enviado a sua casa as joias erradas quando era vendedora numa joalharia? Não, de certeza que não. Não só não cometera aqueles erros nos seus anteriores trabalhos como, com toda a certeza, recordaria aqueles olhos.

Como era evidente que não queria que lhe assinasse o exemplar, perguntou-lhe tão amavelmente como pôde:

– Isto… queria fazer algum comentário sobre o meu livro?

A expressão do estranho suavizou-se quase impercetivelmente. Observava-a quase como se fosse ele quem estivesse a tentar recordar-se se se conheciam e se lhe fizera algo sem se aperceber. O que era absurdo porque um homem como ele seguramente nunca fazia nada sem se aperceber.

Por fim, afastou a mão da capa e abriu o livro numa página que tinha marcado com um pedaço de tecido que parecia arrancado violentamente de uma peça de roupa. Depois empurrou o livro para Violet e indicou a página com o dedo.

– O capítulo vinte e oito.

Só isso, nenhuma pergunta, nenhuma observação, só o número de um capítulo chamado Ethan, uma das personagens masculinas. Era a personagem mais citada em todas as críticas, de quem falavam nos programas de televisão, a culminar de todos os outros personagens: masculino, forte, seguro de si mesmo e, obviamente, rico. Um homem impiedoso e arrogante. Ainda que a sua relação com Roxanne tenha sido cruamente sexual, tinha uma ternura por Ethan que quase, quase, fizera com que a protagonista se apaixonasse loucamente por ele.

E isso mostrava que era impossível que Violet se tivesse baseado em experiências próprias. Ela não pretendia apaixonar-se pois era incapaz de sentir essa emoção.

Antes de chegar à adolescência aprendera a não se entregar a ninguém porque, inevitavelmente, mais tarde ou mais cedo teria que se separar dessa pessoa. Ou levá-la-iam para outro lar de acolhimento ou levariam as suas amigas… às vezes também perdera os seus pais de acolhimento devido a uma doença, problemas económicos ou um simples capricho.

E por isso não pretendia arriscar amar alguém.

– Queria fazer-me alguma pergunta sobre o capitulo vinte e oito? – perguntou-lhe. – Sobre o Ethan?

– Não é uma pergunta, é uma exigência.

– Não entendo…

– Exijo que se retrate – disse ele, sem a deixar terminar.

Violet olhou para ele, desconcertada.

– Que me retrate? De que é que vou retratar-me? Estamos a falar de uma novela, um trabalho de ficção…

– Malicioso, difamatório e falso – interrompeu-a ele. – Especialmente o capítulo vinte e oito.

Evidentemente que era falso, era uma novela. Por que motivo pensavam as pessoas que eram memórias? Ninguém lia as contracapas? Sendo um trabalho de ficção não podia ser difamatório nem malicioso, pelo que a sua exigência era totalmente ridícula.

– Lamento muito que não tenha gostado do livro, senhor…

– Ter gostado ou não é irrelevante. Mas o capítulo vinte e oito é uma acusação e exijo que se retrate. O facto de ter mudado o nome da pessoa…

– Eu não mudei o nome de ninguém – interrompeu-o Violet, que começava a ficar impaciente. – O Ethan é uma personagem fictícia e o livro é…

– Não consegue disfarçar a identidade de alguém só por lhe mudar nome, senhora French – continuou o homem. – Descreveu o aspeto do Ethan, a sua profissão, o seu escritório, a sua casa, os seus interesses e gostos, a sua… técnica na cama, tudo. Em detalhe, ainda por cima – depois de dizer aquilo afastou o pedaço de tecido que marcava a página. – Até dá o nome da marca da sua roupa interior.

Violet abanou a cabeça, estupefacta, pensando que era um louco. Voltou-se para a proprietária da livraria esperando que solucionasse aquilo, mas a jovem estava a olhar para o estranho com a boca aberta, mais constrangida do que a própria Violet.

Talvez se se deixasse levar pelo rumo da conversa, pensou, ele a deixasse em paz.

– Muitos homens usam roupa interior de seda, senhor…