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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Harlequin Books S.A.

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Fome de amor, n.º 2182 - janeiro 2017

Título original: A Hunger for the Forbidden

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9397-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Alessia Battaglia ajustou o véu. A gaze leve acariciou a pele delicada do seu pescoço como o beijo suave de um amante. Fechou os olhos, quase conseguia senti-lo. Não fora capaz de esquecer os lábios quentes na pele nua e a mão, masculina e firme, na cintura.

Abriu os olhos e baixou-se para ajustar as fivelas dos sapatos de cetim branco.

Recordou as mãos do amante no tornozelo e como lhe tirara os sapatos de salto alto até a deixar nua à frente dele, nua pela primeira vez à frente de um homem. Mas não tivera tempo para os nervos a vencerem. O calor e o desejo que havia entre os dois tinham-na dominado por completo, tinham dominado os dois. Depois de tantos anos a fantasiar com aquilo…

Engoliu em seco e pegou no ramo de rosas vermelhas que deixara na cadeira. Olhou para ele e passou os dedos pelas pétalas aveludadas. Foi uma sensação que lhe causou outra onda de lembranças e pensou em como fora ter a boca do amante nos seios enquanto ela se agarrava com força ao seu cabelo escuro.

– Alessia?

Virou-se e viu que era a organizadora do seu casamento que batia à porta.

– Sim?

– Já está na hora – recordou-lhe a mulher.

Alessia assentiu com a cabeça e dirigiu-se para a porta. Os saltos ecoavam no chão de mármore da basílica. Saiu do quarto onde se vestira e foi para o vestíbulo amplo. Já estava vazio. Todos os convidados estavam na igreja, à espera que começasse a cerimónia

Emitiu um suspiro que ecoou nas paredes da sala. Começou a dirigir-se para o santuário e reparou nos murais pintados nas paredes ao lado da porta. Parou por um segundo, com a esperança de encontrar um pouco de paz nas cenas da Bíblia representadas naqueles murais.

Os seus olhos pousaram na pintura de um jardim. No centro, Eva entregava a maçã a Adão.

Recordou uma conversa que gravara no seu coração.

– Por favor. Só uma noite – pedira ela.

– Só uma, cara mia?

– É tudo o que posso dar-te.

Um beijo ardente e apaixonado transportara-a para um lugar onde nunca estivera. Não se parecera com nada do que experimentara antes. Fora muito melhor do que qualquer fantasia.

Ficou com falta de ar ao recordar aquele momento e afastou-se do mural, dirigindo-se para o pequeno vestíbulo que havia antes de entrar no santuário. O pai estava lá, muito elegante com o seu fato à medida. Antonioni Battaglia tinha o aspeto de um cidadão respeitável, embora todos soubessem que não o era. E aquele casamento, tão tradicional e pomposo, era apenas outra maneira de afirmar o seu poder. Um poder que esperava poder aumentar com a fortuna e o estatuto da família Corretti. Era a única razão por que ela estava naquela situação.

– Pareces-te com a tua mãe! – exclamou, ao vê-la.

Questionou-se se haveria verdade naquelas palavras ou se, simplesmente, lhe parecera que era o que tinha de lhe dizer num momento assim. O pai nunca mostrara carinho ou ternura. Não lhe parecera capaz de albergar tais sentimentos.

– Obrigada – agradeceu, baixando o olhar para o seu ramo.

– Isto é o melhor para a família – recordou-lhe o pai.

Era algo que já sabia. Aquele casamento era a chave para garantir o futuro dos irmãos e fora ela que tomara conta deles desde que a mãe morrera no parto do quinto filho. Pietro, Giana, Marco e Eva eram as pessoas mais importantes da sua vida e estava disposta a sacrificar-se para que tivessem um bom futuro.

Contudo, não podia ignorar a amargura que havia no seu coração. Estava muito arrependida, não podia evitá-lo, e as lembranças estavam a conseguir toldar o seu presente e a deixá-la muito confusa. As lembranças do amante, aquelas mãos, o corpo, a paixão… Adoraria que esse amante e o homem que esperava por trás daquelas portas da igreja, com quem ia casar-se, fossem a mesma pessoa. Mas não era.

– Eu sei – sussurrou ela, enquanto tentava ignorar como se sentia desolada naquele momento.

Nunca tivera um vazio tão grande no seu interior.

Abriram-se as portas grandes da igreja, revelando um corredor compridíssimo. A música mudou e todos se viraram. Tinha os olhos de mil e duzentos convidados nela. Estavam ali para assistir ao casamento das famílias Battaglia e Corretti, duas das mais poderosas da Sicília, depois de anos de rivalidade.

Ergueu a cabeça e respirou fundo, mas o corpete do vestido ameaçava sufocá-la a qualquer momento. A renda que cobria o vestido era pesada e áspera. Sentia que todos aqueles metros de tecido se agarravam a ela e tinha tanto calor que começou a sentir-se maldisposta.

Era um vestido lindo, mas demasiado pesado para o seu gosto. Recordou então, mais uma vez, que aquele vestido não tinha nada a ver com ela. Nem com aquele casamento.

O pai seguiu-a até ao interior da igreja, mas não lhe ofereceu o braço. Já entregara a filha quando assinara um contrato com o falecido Salvatore Corretti e não parecia sentir a necessidade de cumprir o protocolo e acompanhá-la até ao altar para a entregar ao futuro marido. Viu que a observava, como se quisesse certificar-se de que estava tudo bem, tal como ele ordenara. Sentia-se vigiada.

Sentiu uma gota de suor a descer pelas costas e outra lembrança atingiu-a com força nesse instante.

Fora incrível acariciar a pele suada das costas dele, cravar-lhe as unhas nos ombros enquanto as coxas o rodeavam. Não conseguia parar de pensar no seu corpo musculado e esbelto…

Pestanejou, nervosa, e olhou para Alessandro. O noivo, o homem com quem ia casar-se.

«Senhor, perdoa-me», pensou, envergonhada com os seus próprios pensamentos.

E, então, sentiu-o. Percebeu que ele estava ali, como se conseguisse vê-lo, como se lhe tivesse tocado.

Olhou para o lado onde estava a família Corretti e o seu coração parou durante um segundo.

Matteo. O seu amante. O grande inimigo do noivo.

Estava tão bonito como sempre. Tinha a habilidade de a deixar com falta de ar cada vez que o via. Alto, de ombros largos e físico perfeito, estava muito arranjado com o fato à medida que usava. Tinha uma pele suave e morena, queixo quadrado e muito masculino. E uns lábios que tinham sido feitos para dar prazer.

Contudo, aquele homem não parecia o mesmo com quem partilhara a cama há um mês. Pareceu-lhe diferente e frio. Viu raiva nos olhos dele. Pensara, quase esperara, que Matteo não se importasse que ela estivesse noiva de Alessandro, que uma noite de paixão com ela seria como com qualquer outra mulher.

Esse pensamento tê-la-ia magoado, mas achava que teria sido melhor do que ter de ver ódio no olhar dele.

Conseguia recordar aqueles olhos escuros com um tipo de fogo muito diferente neles. Vira desejo e necessidade naquele olhar. E um desespero que ela também sentira no seu interior.

Não se esquecera de como o desejo toldara completamente a sua mente nem da expressão tão perto da dor no rosto de Matteo quando lhe tocara.

Olhou para Alessandro, mas ainda conseguia sentir que Matteo a observava. Tinha a necessidade de se virar para olhar para ele. Fazia-o sempre. Fora assim durante anos. Sempre se sentira atraída por ele.

E, por uma noite, tivera-o. Porém, a partir daquele dia, já não voltaria a acontecer.

Falharam-lhe os pés por um segundo. Quase perdeu o equilíbrio e olhou novamente para os olhos de Matteo.

Tinha tanto calor que aquele vestido quase a sufocava. O véu era demasiado pesado e a renda do pescoço era demasiado apertada.

Parou de andar. Travava uma batalha no seu interior e dava-lhe a impressão de estar prestes a partir-se em mil pedaços.

 

 

Matteo Corretti estava tão fora de si que lhe custava controlar-se.

Era uma tortura ver como Alessia Battaglia se aproximava de Alessandro, o primo, o rival nos negócios e, mais do que qualquer outra coisa, o inimigo, com a intenção de se unir a ele para sempre.

Sentia que era dele. A sua amante, a mulher mais bela que vira na vida. Tinha uma pele suave, dourada e perfeita, uns traços lindos e uns lábios maravilhosos. Mas tinha mais alguma coisa, uma vitalidade e paixão que o tinham fascinado e confundido ao mesmo tempo. A maneira de se rir, os sorrisos… Estava tão cheia de vida. Enfeitiçara-o desde que a vira pela primeira vez quando era apenas uma criança.

Sempre o tinham feito acreditar que os Battaglia eram pouco menos do que uns monstros. Ela, pelo contrário, parecera-lhe um anjo desde o começo. Mas nunca lhe tocara. Nunca infringira essa espécie de ordem tácita imposta pelo pai e pelo avô. Afinal de contas, ela era uma Battaglia e ele, um Corretti. Havia mais de cinquenta anos de guerra entre as duas famílias.

Tinham-no proibido de falar com ela e, quando era criança, só infringira essa ordem uma vez.

Mas as coisas tinham mudado depois disso e o patriarca da família, o avô Salvatore Corretti, pensara que poderia beneficiar de uma união com os Battaglia. Por isso, naquele dia, entregavam-na a Alessandro como se sfosse uma cabeça de gado.

Cerrou os punhos, furioso. Há mais de treze anos que não sentia aquela raiva. Era o tipo de raiva que, normalmente, conseguia manter escondida dos outros. Receava explodir a qualquer momento e sabia muito bem o que podia acontecer então. Achava que ninguém poderia considerá-lo responsável pelo que faria se tivesse de ver Alessandro a tocar em Alessia. Ou a beijá-la…

Viu que Alessia ficava imóvel. Com os olhos grandes e escuros, olhou para Alessandro e, depois, novamente para ele. Aqueles olhos… Aqueles olhos estavam sempre presentes nos seus sonhos.

Alessia baixou a mão e o ramo caiu ao chão. O som suave das rosas a bater no chão de pedra ecoou numa capela que ficou em silêncio de repente.

Depois, Alessia virou-se, agarrou na saia de renda pesada e começou a correr pelo corredor. Os metros de tecido branco flutuaram ao seu redor enquanto corria. Só olhou para trás uma vez e fê-lo para olhar para ele com olhos assustados.

– Alessia! – exclamou ele, sem conseguir controlar-se. – Alessia!

O grito e os murmúrios dos presentes abafaram as suas palavras. Correu para a porta. As pessoas levantaram-se e algumas saíram para o corredor, bloqueando o seu caminho. Mal se apercebia do que se passava, das caras dos convidados que deixava para trás… Só queria sair dali e encontrá-la.

Quando saiu para a grande praça, Alessia já estava dentro da limusina que esperava pelos recém-casados. Estava a tentar pôr a saia e a cauda do vestido dentro do veículo. Alessia viu-o e o rosto dela mudou. Viu uma esperança nos olhos dela que o deixou com falta de ar.

– Matteo… – sussurrou ela.

– O que estás a fazer, Alessia?

– Tenho de ir – replicou Alessia.

Tinha os olhos fixos em qualquer coisa que havia atrás dele, parecia ter medo. Soube que estava assim por causa do pai e sentiu a necessidade repentina de apagar todos os seus medos, não queria que tivesse de recear nada.

– Para onde? – perguntou, num tom rouco.

– Para o aeroporto. Espero por ti lá – informou ela.

– Alessia…

– Matteo, por favor. Vou esperar.

Alessia fechou a porta e o carro afastou-se. Naquele momento, Antonioni Battaglia saiu da igreja.

– Tu! – exclamou, fora de si, ao vê-lo ali. – O que fizeste?

E Alessandro também saiu da igreja, fulminando-o com o olhar.

– Sim, primo, o que fizeste?

 

 

Alessia pagou à empregada da loja de roupa com as mãos trémulas. Comprara umas calças de ganga, uma t-shirt e ténis de desporto. Não queria destacar-se nem ser reconhecida e parecera-lhe a escolha perfeita. Sabia que ninguém esperaria ver uma Battaglia vestida desse modo.

A sua família passara algum tempo a fingir um nível económico muito melhor do que tinha. O pai pedia dinheiro emprestado para manter a imagem de homem poderoso. O seu emprego como ministro do Comércio da Sicília dava-lhe um certo grau de poder de que beneficiava continuamente, mas essa atividade não lhe proporcionava grandes lucros.

Viu que a empregada a observava com curiosidade e não estranhou. Afinal de contas, não era normal ver uma jovem vestida de noiva e sozinha numa pequena loja para turistas como aquela.

– Posso usar o provador? – perguntou, depois de pagar os artigos.

Não gostava de ter de usar o dinheiro do pai para fugir e, muito menos, da forma como conseguira esse dinheiro. Não queria pensar no que deviam ter pensado no banco ao vê-la a entrar vestida de noiva e a exigir levantar dinheiro com um cartão que estava em nome do pai.

– Sou uma Battaglia – dissera ao empregado, no mesmo tom depreciativo e autoritário que Antonioni usava sempre. – Portanto, claro que posso aceder à conta da família.

A questão era que precisara de ter dinheiro no bolso para poder fugir e a última coisa que queria era usar os cartões e deixar um rasto de papel para que conseguissem localizá-la.

Alessia entrou no vestiário e começou a tirar o vestido asfixiante. O pai escolhera-o, quisera que fosse muito tradicional. E que, é claro, fosse do branco mais puro, como correspondia a uma noiva virgem.

«Se ele soubesse…», pensou.

Mudou rapidamente de roupa e saiu do provador, apanhando o cabelo num rabo de cavalo. Calçou os sapatos e endireitou-se. Finalmente, conseguia respirar.

– Obrigada – agradeceu à empregada. – Fique com o vestido. Pode vendê-lo, se quiser.

Saiu da loja e afastou-se pela rua concorrida. Sentia-se muito aliviada.

Deixara a limusina à frente do banco e, depois de conseguir dinheiro, dera uma gorjeta generosa ao motorista por a ter ajudado a fugir.

Parou na calçada e levantou a mão para que um táxi parasse ao seu lado.

– Aeroporto di Catania, per favore – pediu ao motorista, quando entrou.

 

 

Matteo não ficou na basílica. Limitara-se a ignorar as perguntas do primo furioso e fora buscar o carro desportivo.

Sem pensar no que fazia, pô-lo a trabalhar e foi em direção ao aeroporto. O coração acelerava e a adrenalina fluía por todo o seu corpo. Sentia-se como se estivesse a viver um sonho, como se nada do que estava a acontecer fosse real. E também sentia que não tinha o controlo daquela situação, algo que nunca ou quase nunca se permitia. Tivera poucos momentos durante os quais baixara a guarda por completo e todos estavam relacionados de alguma forma com Alessia. Aqueles breves instantes tinham-lhe permitido perceber como poderia ser a sua vida se deixasse que aquele frio terrível que habitava dentro dele se misturasse com as chamas apaixonadas de alguém como Alessia.

Aquela mulher era a sua fraqueza. Uma fraqueza que nunca devia ter-se permitido e uma tentação em que não devia voltar a cair. Não conseguira esquecê-lo…

 

 

«Os seus olhos encontraram-se no espelho que havia por trás do bar. Uns olhos que reconheceria em qualquer lugar. Virou-se bruscamente e viu-a, ficando com falta de ar.

Pousou o copo e atravessou o bar, que estava cheio de gente, ignorando os colegas.

– Alessia.

Era, depois de treze anos, a primeira vez que falava com ela.

– Matteo.

Tremera com a doçura com que pronunciara o seu nome.

Passara um mês desde que tinham passado uma noite juntos em Nova Iorque. Pensara que se tratava de um encontro casual, mas começava a duvidar.

Ainda recordava o sabor da pele dela e como fora acariciar as curvas suaves dos seios. Ainda conseguia ouvir os suspiros e gemidos e não esquecera como tremera de desejo entre os seus braços.

Não desejara estar com nenhuma outra mulher depois disso.

Custou-lhes esperar até chegar ao quarto do hotel. Mal conseguiam controlar a urgência do seu desejo. Sentiam quase desespero.

Matteo fechou a porta com força enquanto pressionava o corpo doce de Alessia contra a parede. Ela usava um vestido comprido com uma abertura generosa de lado que deixava as pernas esbeltas e bronzeadas a descoberto.

Agarrou uma daquelas coxas e puxou-a até fazer com que Alessia rodeasse a sua anca com a perna. Tremeu ao sentir a dureza da ereção contra as curvas suaves e quentes.

Contudo, não era suficiente. Sabia que nunca seria.

Matteo parou num sinal vermelho e praguejou. Estava impaciente e a necessidade vencia-o. Só se sentira assim uma vez, só sentira a intensidade daquele desejo uma vez, devorando-o por dentro como uma besta faminta.

«Finalmente, estava nua à frente dele e conseguia sentir os seios contra o peito. Tinha de a ter. Todo o seu corpo tremia de desejo.»

– Estás pronta para mim, cara mia?

– Para ti, estou sempre…

Penetrou-a e sentiu algo diferente. O seu corpo não parecia estar preparado… Nunca experimentara algo parecido. Alessia gritou e cravou-lhe as unhas nas costas. Soube que era dor o que sentia naquele momento, não prazer.

Alessia era virgem quando tinham feito amor em Nova Iorque. Era dele, só dele.

Porém, no dia seguinte, descobrira que não era realmente dele. Fora tudo uma mentira.

Quando acordara, Alessia já se fora embora.

De volta à Sicília, fora a uma festa familiar e só quando chegara ao evento é que soubera que era uma festa de noivado, para celebrar a união de Alessandro e Alessia e o fim de uma guerra entre as duas famílias.

Com o apoio da família de Alessia, os Corretti iam ter tudo o que precisavam para poder revitalizar a zona portuária degradada de Palermo e fortalecer a empresa familiar.

Mal conseguia controlar a raiva quando pensava que já estava noiva de Alessandro quando fora para a cama com ele. Entregara-se por completo sabendo que ia casar-se com outro homem.

Durante o último mês, tivera de suportar vê-los juntos e odiara ver o seu maior inimigo a arrebatar-lhe o que mais desejava no mundo. Alessia era tudo o que sempre desejara, mas o que nunca se permitira ter.

Pensara em fazer alguma loucura quando os via juntos. Desejara agarrar em Alessandro para o afastar dela e evitar que voltasse a tocar-lhe.

Não entendia o que acontecia com Alessia nem como o afetava tanto. Nunca fora tão possessivo com ninguém nem sentira essa paixão que ameaçava sufocá-lo. Não costumava comportar-se dessa maneira, era um homem muito contido, alguém que amava a lógica e a realidade, o dever e o sentido de honra.

Sobretudo, porque sabia que, quando baixava a guarda e se deixava levar pelas emoções, não controlava as consequências dos seus atos e o perigo de isso acontecer era demasiado grande.

Era um Corretti e sabia que era como o pai e o avô. Procedia de uma família que sempre fora impulsionada pela cobiça, a agressividade e o desejo de ter sempre mais dinheiro e mais poder. Muito mais do que qualquer homem podia precisar.

E, embora normalmente costumasse usar a lógica, tivera de aceitar e justificar ações que teriam horrorizado a maioria das pessoas.

Saiu da estrada e carregou no travão. Parou e ficou agarrado ao volante com força.

Não se reconhecia quando estava com Alessia e achava que nada de bom podia sair daquilo. Passara a vida a tentar mudar o homem que parecia estar destinado a ser. Tentara manter o controlo para levar a sua vida numa direção diferente da que o pai escolhera para ele. Mas Alessia punha esse empenho em perigo.

Voltou à estrada, daquela vez, em direção contrária ao aeroporto.

Carregou num botão no tabliê do carro para falar com a secretária.

– Lucia? – perguntou, quando a mulher atendeu.

– Sim?

– Não me passes chamadas até te dizer o contrário. Vou estar fora por um tempo.

 

 

Já tinham passado três horas. Achava que nem o pai nem os seus homens a procurariam no aeroporto porque não imaginavam que Alessia faria algo tão audaz como sair da Sicília.

Inquieta, mexeu-se na cadeira de plástico e limpou a face mais uma vez, embora as lágrimas já tivessem secado. Ficara sem lágrimas. Não fizera outra coisa senão chorar desde que chegara ao aeroporto. Sobretudo, quando ficara claro que Matteo não ia aparecer.

E, pouco depois, quando tivera de ir a uma das casas de banho públicas para vomitar, começara a chorar com amargura. Fora a uma das lojas do aeroporto para adquirir o que evitara comprar durante aquela última semana.

Começara a chorar outra vez quando, no teste de gravidez, tinham aparecido duas pequenas linhas cor-de-rosa. Sim, tal como receara, estava grávida.

Estava devastada e sentia-se desolada.

Tentara animar-se, pensando que, pelo menos, não estaria completamente sozinha, teria um bebé. Mas essa ideia não conseguira consolá-la. Só sabia uma coisa. Não podia voltar para Alessandro nem para a família. Ficara grávida do homem menos conveniente, de um que, na verdade, não queria estar com ela.

Aparentemente, só a desejara uma vez, mas não queria pensar nisso. Estava furiosa. Tinham-no feito mais de uma vez nessa noite e estava a sofrer as consequências. Recordava ter usado proteção na cama. Mas, depois, quando tinham tomado banho juntos de madrugada… Nenhum dos dois fora capaz de pensar com clareza nem tinham querido perder tempo com esses detalhes.

Anunciaram que os passageiros deviam embarcar no voo para Nova Iorque. Era o último aviso.

Levantou-se, pegou na mala, que era a única coisa que tinha com ela, a única coisa que tinha em seu nome, e deu o bilhete ao homem do balcão.

– Para Nova Iorque? – perguntou ele, para verificar a informação.

Alessia respirou fundo antes de responder.

– Sim.