Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2008 Michele Dunaway. Todos os direitos reservados.
RECEITA PARA UM CASAMENTO, Nº 374 - Maio 2011
Título original: The Marriage Recipe
Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.
Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.
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I.S.B.N.: 978-84-9000-239-1
Editor responsável: Luis Pugni


E-pub x Publidisa

 

 

Inhalt

Kapitel 1

Kapitel 2

Kapitel 3

Kapitel 4

Kapitel 5

Kapitel 6

Kapitel 7

Kapitel 8

Kapitel 9

Kapitel 10

Kapitel 11

Kapitel 12

Kapitel 13

INDIANA

Promoção

1

Rachel Palladia estava no seu limite, não tinha dinheiro, que era o que precisava.

Amaldiçoou tudo. Não, amaldiçoou-o a ele. Marco Alessandro, o seu noivo, de trinta e seis anos. Bom, o seu ex-noivo. Não ia casar com um homem que pensava que podia ir para a cama com a ajudante de cozinha, sempre que a sua libido lho pedisse.

– Sou italiano – dissera Marco, quando Rachel o surpreendera na sua própria cama com a ajudante de cozinha. – Os homens italianos têm amantes. O meu coração será sempre teu. Serás a minha esposa.

Rachel praguejara e atirara-lhe à cara o anel de diamantes. Depois, doara a cama e os lençóis a uma obra de beneficência. Até conseguir comprar outra cama, estava a dormir num colchão insuflável que, pelo menos, era puro e imaculado.

Rachel suspirou, bateu na mancha branca de farinha que havia em cima da mesa de trabalho, de aço inoxidável, e usou um rolo para tender a massa. Gastara vários milhares de dólares em coisas para o casamento, que não poderia devolver.

E o pior era que continuava a trabalhar para aquele filho da... Rachel conteve-se. A mãe dizia sempre que, desde que fora viver para Nova Iorque, com dezoito anos, falava como um camionista. Rachel tentava moderar o seu vocabulário, mas o fracasso da sua relação com Marco não estava a ajudá-la.

Pôs a massa nas formas e começou a cortá-la. Ter chegado tão longe para acabar assim... Rachel conteve a vontade de atirar a massa restante ao ar. Passara toda a vida a trabalhar em restauração. Começara no café da avó, em Morrisville, no Indiana. Depois, em vez de ir para a universidade, fora para o Instituto Gastronómico Americano. Em seguida, fora promovida em diferentes cozinhas, até aterrar ali, como chefe de pastelaria do Alessandro’s, um restaurante italiano elegante situado no noroeste de Manhattan.

Não imaginava quantas mulheres teriam passado pela vida de Marco, antes de ela o surpreender com a ajudante de cozinha, uma semana antes do dia de São Valentim.

Passaria o Dia dos Namorados sozinha, lamentando-se das feridas e recriminando-se por não se ter apercebido antes. Devia ser idiota. Naquele momento, estava presa a um contrato com uma cláusula de não-concorrência, que a impedia de ir trabalhar noutro restaurante, num raio de oitenta quilómetros. O que significava que não poderia trabalhar em Nova Iorque, uma cidade que adorava desde que chegara no Verão do seu décimo oitavo aniversário. A não ser que Marco acedesse a deixá-la ir embora, teria de ficar no Alessandro’s ou procurar trabalho noutra cidade.

Em Morrisville não havia o ambiente que existia em Nova Iorque. Era verdade que os arranha-céus não deixavam ver o sol, mas as luzes de néon e as multidões geravam uma energia inspiradora. Apesar de ser quase anónima naquela cidade com mais de oito milhões de habitantes, Rachel nunca se sentira rejeitada, como acontecera no liceu.

– Sobrevives?

Glynnis, o braço direito de Rachel, levou as formas e começou a recheá-las com o creme de chocolate.

– Estou bem – respondeu, escondendo as madeixas de cabelo castanho debaixo do boné de basebol. – Foi uma semana horrível. Por sorte, Marco está em Itália. Penso que, finalmente, serei capaz de o enfrentar quando voltar hoje.

– Achas que é suficientemente homem para reconhecer o que fez e continuar a trabalhar contigo? – perguntou Glynnis.

Acabara de rechear as formas dos bolos e estava a pô-las no forno.

Muitos restaurantes compravam as sobremesas já prontas, mas no Alessandro’s era tudo feito ali. Na verdade, durante os dois últimos anos, as sobremesas de Rachel tinham-se tornado tão populares, que o restaurante as vendia aos clientes e a outros estabelecimentos. Como saía com Marco, Rachel começara a ajudar a fazer crescer o negócio familiar. Dissera-lhe que, quando se casassem, lhe daria metade do restaurante. Insistira em dizer que os casais partilhavam tudo. Por sorte, não tinha partilhado com ela nenhuma doença sexualmente transmissível.

Rachel conteve a raiva. Não entendia como pudera ser tão ingénua, como pudera pensar que Marco era o homem ideal.

Falaria muito com aquele filho da... Com ele, corrigiu-se, quando fosse trabalhar. Desejou estar preparada.

Notava-se quando Marco Alessandro chegava ao restaurante. Era alto, carismático e tinha o aspecto de uma estrela de cinema. Todas as mulheres se viravam para olhar para ele. Chegou às quatro horas em ponto, cumprimentou os empregados e depois certificou-se de que tudo estava preparado para a hora do jantar. O restaurante abria às cinco. Às seis, já teriam uma lista de espera de uma hora, visto que não aceitavam reservas. Até os famosos tinham de esperar ao balcão.

– Ah, Rachel... – disse Marco, aproximando-se enquanto ela tirava a última fornada de bolos para o dia seguinte.

O seu turno acabava às sete. Várias cabeças se viraram para olhar para ele. A ajudante de cozinha fora despedida um dia depois de Rachel a surpreender com o seu noivo. Marco inclinou-se e deu-lhe um beijo na face. Ela manteve o olhar fixo na parede do fundo e percebeu que, como sempre, cheirava a aftershave e a menta.

– Que alegria ver-te. Senti a tua falta. Vamos falar no meu escritório.

Rachel deixou as formas em cima da mesa e seguiu-o, reparando que estava impecável, com um fato preto Armani, o seu uniforme habitual de trabalho.

A sua presença dominaria a sala e a cozinha. Fiscalizaria tudo, cumprimentaria os clientes de cada mesa e brindaria com eles, se houvesse algum acontecimento especial. Transformara o Alessandro’s num dos restaurantes mais populares de Nova Iorque. O seu irmão Anthony preferia ficar nos bastidores e trabalhava em horário de escritório. Era ele que geria toda a papelada. Marco fechou a porta atrás dele e fez um gesto a Rachel, para que se sentasse. Instalou-se na sua poltrona de couro e olhou para ela fixamente.

– Já te acalmaste? – perguntou. Ela inclinou a cabeça e franziu o sobrolho.

– Se me acalmei? – repetiu com incredulidade, sentindo que o seu coração acelerava.

– Sim. Suponho que, depois de uma semana fora, terás tido tempo para superar o infeliz incidente. Eu também estive a reflectir e pensei que talvez não tenha sido tão claro como devia.

– Não foste claro? Estavas com a ajudante de cozinha na nossa cama, na minha cama, e limitaste-te a dizer que os homens italianos tinham aventuras.

Marco ajustou a gravata vermelha no pescoço.

– Sim, bom, talvez tenha sido uma falta de consideração da minha parte.

– Achas que sim? Marco não parecia estar muito afectado.

– Tinha-me esquecido de que tu também tens sangueitaliano. É por isso que és tão fogosa. Enganei-me quando tive aquela aventura. A partir de agora, corrigir-me-ei. Não quero que a nossa relação acabe.

– Talvez devesses ter pensado nisso antes – replicou, furiosa. – O casamento é sagrado. Os meus pais estiveram casados durante trinta e dois anos, até o meu pai ter um enfarte. O casamento dos meus avós durou mais de cinquenta anos. Até que a morte nos separe. Monogamia. Lealdade. Todas essas coisas são importantes para mim. Confiava em ti.

– E podes voltar a fazê-lo – disse Marco, como se fosse assim tão simples. – Fomos feitos um para o outro. A minha mãe gosta de ti. O meu irmão adora as tuas sobremesas e o facto de teres ajudado tanto no restaurante. A minha irmã nunca tinha aceitado nenhuma das minhas relações e tornou-se tua amiga. Somos iguais, Rachel. Não quero perder-te. Por favor, perdoa-me.

Ela reparou que não tinha falado de amor. Tinha vinte e nove anos, mas não se preocupava com o facto de ir fazer os trinta em meados de Abril. Apaixonara-se pela imagem de Marco, de homem de negócios. Talvez isso fosse a única coisa que a atraíra.

– Receio que já seja demasiado tarde – afirmou.

– Não entendo – respondeu Marco, pondo a mão no bolso do casaco e tirando uma caixa pequena e preta. – Aqui está o teu anel. Mandei-o limpar. Quero voltar a ter-te ao meu lado, que é onde tens de estar.

Rachel agarrou no avental. Assim que conhecera Marco, ele esforçara-se para a conquistar. Oferecia-lhe flores, convidava-a para jantar, comprava-lhe pequenas jóias da Tiffany. Não poupava gastos.

Tinha mais sete anos do que ela, acabara de fazer trinta e seis anos. Rachel pensou que era sofisticado e sensato. Com ele, sentira-se como uma princesa no reino de Nova Iorque. Marco levara-a a festas, ao teatro e mostrara-lhe um mundo muito diferente de Morrisville, no Indiana, onde o mais emocionante era ir ao bowling, ao bingo ou dançar no clube de campo.

Rachel sentia claustrofobia em Morrisville, mas os seus pais e os seus avós adoravam viver lá. A mãe e a avó continuavam a fazê-lo e eram muito felizes. Ela não era feliz naquele momento da sua vida. Pensou que tal-vez isso mudasse se casasse com Marco, mas enganara-se. O que conseguira fora ser ainda mais infeliz.

Tirou o boné e desfez a trança, deixando que os caracóis lhe caíssem sobre os ombros. Tinha ascendência italiana, embora se considerasse, sobretudo, americana. A herança não lhe parecia assim tão importante, excepto se pensasse no homem que tinha à sua frente.

– Marco, amas-me? – perguntou. Ele ficou surpreendido.

– Porque me perguntas isso? – inquiriu, indignado.

– É claro que sim. Pedi-te em casamento. Podia ter escolhido qualquer outra mulher, mas escolhi-te a ti porque és especial. Amo-te.

Rachel ficou ali sentada, com os braços cruzados. Marco sabia que não devia aproximar-se. Normalmente, depois de uma discussão, abraçava-a, passava os dedos pelo seu cabelo e sussurrava-lhe ao ouvido as palavras necessárias para resolver as coisas. Se o tivesse tentado naquele momento, Rachel ter-lhe-ia dado uma bofetada. Sabia muito bem o que Marco sentia. Só queria salvar o seu traseiro e garantir os lucros do restaurante.

– Não posso casar contigo – disse. Ele franziu o sobrolho, surpreendido.

– O quê? Aqui tens o anel. Volta a pô-lo e telefonaremos ao sacerdote, para que nos reserve outra vez uma data. Podemos resolver tudo. Não repararei em gastos.

Ela suspirou. Marco não a faria mudar de opinião.

– Marco, sê sincero. Não me amas. Sou prática. Sou uma grande cozinheira. A tua família aceita-me. Mas eu nunca conseguirei voltar a confiar em ti. Nem sequer conseguirei voltar a tocar em ti. Será melhor acabarmos com isto e seguirmos em frente com as nossas vidas.

– Estás a gozar comigo – respondeu, zangado. Ela abanou a cabeça.

– As pessoas acabam relações todos os dias. Talvez a imprensa publique alguma coisa sobre a nossa, mas tu és Marco Alessandro, encontrarás um modo de fazer com que a notícia atraia ainda mais clientes.

Ele bateu na mesa.

– Receava que fosses teimosa. E Anthony também o receava. Portanto, sugeriu que fosse falar com um advogado antes de ir para Itália.

– Um advogado? – repetiu Rachel, estranhando. Para quê? Já te devolvi o anel. Não te devo mais nada.

– Tens um contrato com o Alessandro’s – disse, levantando o tom de voz. – Enquanto eras minha noiva, esse contrato era apenas um pedaço de papel. Uma formalidade. Agora, que já não queres casar comigo, Anthony insiste que eu... O restaurante, quero dizer... Suponho que todos devemos proteger-nos.

– Anthony – disse ela. – O que é que queres? Estás a despedir-me?

– Não, não – respondeu Marco. Pegou na caixa do anel e voltou a guardá-la. – Não quero que te vás embora. E o meu irmão também não. Anthony só quer que as coisas sejam como têm de ser.

– O que queres dizer? – perguntou ela, sabendo que estava a usar o irmão para parecer menos malvado.

Marco limpou o casaco e depois olhou-a nos olhos, enquanto fazia um ultimato:

– Queremos que nos entregues as tuas receitas. Tudo o que tenhas criado enquanto trabalhavas no Alessandro’s pertence-nos.

– Está louco? – inquiriu ela, levantando-se com um salto. Não conseguia acreditar que estava a pedir-lhe algo parecido. – São minhas.

– Não – contradisse Marco, abanando a cabeça. – São as minhas receitas. Do Alessandro’s. Criaste-as enquanto trabalhavas aqui, em troca de um salário. Visto que não queres casar comigo... Ficarão aqui.

Do bolso interior do casaco tirou um envelope grande. Deixou-o em cima da mesa e aproximou-o de Rachel.

Ela viu o nome do escritório de advogados num canto. Com dedos trémulos, pegou no envelope e tirou o seu conteúdo. Escrito com tinta preta, havia um documento em que a avisava de que a levariam a julgamento se não entregasse todas as suas receitas ao restaurante. Não podia acreditar que Marco fizera algo parecido com tanta... Premeditação.

– Estás a entregar-me uma carta para me intimidar?

– Foi ideia de Anthony – respondeu Marco, como se ao culpar o irmão o acto fosse menos mesquinho, – mas tudo seria muito mais simples se casasses comigo, como tínhamos planeado. A nossa relação era muito boa.

– Até não conseguires manter a braguilha fechada – replicou Rachel, voltando a ler a carta. – Não entendo a razão disto. Trabalho para ti. Cozinho aqui. Os teus clientes comem as minhas sobremesas. Isso não tem de mudar só porque já não estamos noivos.

– Mas poderia mudar no futuro. E se decidires ir-te embora?

– Tenho uma cláusula de não-concorrência de seis meses – recordou-lhe.

– Sim, mas seis meses não é nada. Se te fores embora, todo o dinheiro que o Alessandro’s investiu em ti será perdido. Isto é um negócio e, por muito que goste de ser generoso, Anthony tem razão, não podemos deixar que vás embora com o que é nosso.

Rachel pôs as mãos na cintura.

– Vejamos. Portanto, ou caso contigo ou dou-te as minhas receitas, não é?

– Estar casada comigo não seria assim tão horrível – respondeu Marco, sorrindo. – E, pelo menos, receberias uma coisa permanente em troca.

– Quem garante que te entregaria as minhas receitas? – perguntou Rachel.

– Como sempre te disse, os casais partilham tudo. E, quando ficasses grávida e tivesses de ficar em casa com as crianças, a pessoa que te substituísse continuaria com o teu trabalho. Também não penso que seja para tanto.

Grávida? Em casa com as crianças? O que vira naquele homem?

– És um antiquado.

– A tradição faz parte da minha herança.

– Por favor – disse, soprando, farta daquela farsa. – Já ouvi o suficiente. Não tenciono dar-te as minhas receitas que, na verdade, procedem do livro de cozinha da minha avó e não da tua cozinha.

– Não compliques mais as coisas do que é necessário – recomendou Marco, levantando-se. – Estás alterada. Não devia ter ido para Itália. Devia ter-te mimado mais... Telefonarei a Anthony, para que me substitua esta noite. Sairemos. Comprarei a jóia que escolheres.

– Não – respondeu ela, apoiando ambas as mãos na secretária e inclinando-se para a frente. – Acabou. Tu e eu acabámos. Acabámos.

Ele levantou-se.

– Rachel, por favor, acalma-te. Sê sensata. Não sou teu inimigo.

– Tu, não, é Anthony – disse ela, abanando a carta à frente da cara dele. – Bom, não tenciono jogar o vosso jogo. Não vão roubar as minhas receitas.

Dito aquilo, dirigiu-se para a porta.

– Rachel, as coisas vão ficar feias – avisou Marco. Ela virou-se.

– Já são feias – disse. – És um cretino egoísta. Não quero ter-te por perto. Demito-me. Ele sentiu-se indignado.

– Não podes demitir-te. Quem se ocupará das sobremesas? E não encontrarás trabalho em nenhum outro lugar. Eu certificar-me-ei disso.

Rachel não conseguiu conter-se.

– Não há nada mais perigoso do que uma mulher despeitada, tem cuidado.

– Tu e as tuas frases estúpidas. Sempre as odiei.

– Tanto me faz. Não podes ameaçar-me. Não tens poder sobre mim. E não conseguirás as minhas receitas, por-tanto, deixa-me em paz, Marco. Já estou fora da tua vida.

Saiu do escritório e só se apercebeu de que ele a seguia quando ouviu os seus passos na cozinha. – Não sairás daqui até me dares as tuas receitas! – gritou. – Essa carta diz que tens de o fazer. Todos olhavam para eles.

– Não podes pedir-me nada. Demito-me – replicou Rachel, num tom muito alto.

– Posso pedir-to e fá-lo-ei – avisou Marco. – Terás notícias dos meus advogados. Dos advogados de Anthony, quero dizer.

Ela revirou os olhos.

– Por favor. Nem o teu irmão, nem tu me metem medo. Na verdade – olhou para os bolos de chocolate que acabara de fazer, – queres as minhas receitas?

– São propriedade do Alessandro’s – repetiu Marco. Rachel sorriu.

– Está bem. Toma – pegou no bolo mais próximo e atirou-lho.

Alguns segundos mais tarde, Marco tinha a lapela do fato cheia de chocolate. Rachel ficou onde estava, desafiante. Ele deu um passo em frente, mas depois parou, consciente de que tinham público.

– Comprarei um fato novo com o teu último salário – disse.

– Nesse caso... – Rachel virou-se, pegou noutro bolo e atirou-o, acertando-lhe no pescoço. – Agora, já vale a pena.

Os outros empregados olharam para Rachel com admiração, antes de continuarem a trabalhar. Glynnis foi a única que a seguiu.

– Se não o tivesse visto com os meus próprios olhos, não teria acreditado. Todos vão falar de ti durante dias. Embora não possa dizer que Marco não o mereça.

– Foi óptimo trabalhar contigo – respondeu Rachel, começando a perceber o que acabara de fazer. Tirou o avental e deixou-o em cima de uma mesa.

– Telefona-me quando quiseres – disse Glynnis. – Eu gostaria de continuar a trabalhar contigo, para onde quer que vás.

– Obrigada, mas quero que saibas que, agora, não vou poder trabalhar em lado nenhum – confessou, pegando no casaco, na sua mala e num pequeno caderno com algumas receitas, pois tinha todas as outras no seu apartamento.

– Vais dar-lhas? – perguntou Glynnis.

– É claro que não – respondeu Rachel, rindo-se com desinteresse. – Não vai levar-me a tribunal e, se o fizer, pagará por isso.

– O que farás? Se não trabalhares, não terás dinheiro para pagar a um advogado – avisou Glynnis, preocupada.

– Bom, tenho um trabalho à minha espera – respondeu, para tranquilizar a amiga.

Rachel teria de ir com o rabo entre as pernas para pedir o emprego, mas dar-lho-iam.

– Outro trabalho? Onde? – quis saber Glynnis.

– No Kim’s – respondeu, cada vez mais convencida da ideia.

– Kim’s? É na Jérsia?

– Não, em Morrisville, no Indiana.

– Nunca ouvi falar dele – admitiu Glynnis.

Esse era o problema.

– Ninguém ouviu falar dele – admitiu Rachel, tremendo. Estava a começar a digerir as consequências do que fizera.

Odiaria ter de sair de Nova Iorque. Adorava a cidade. Jurou a si mesma que o exílio seria apenas temporário. Sorriu com valentia.

– Sabes o que as raparigas duras fazem quando as coisas ficam feias? – perguntou.

Glynnis abanou a cabeça.

Rachel pegou na mala e deu-lhe um abraço. Tinha a esperança de voltar a vê-la em breve.

– Vão para casa – acrescentou.

– Nunca pensei que o meu regresso causasse tanto alvoroço – comentou Rachel, enquanto guardava o último prato limpo.

– Não permitas que os falatórios te afectem – aconselhou a avó.

2

O café só servia pequenos-almoços e almoços e, assim que o último cliente, Harold Robinson, acabasse a chávena de café, o dia de trabalho teria acabado. Harold gostava de ser o último a sair e passara anos a ignorar o cartaz que dizia que fechavam às três em ponto.

– Todos se alegram muito por te ver, é só isso.

– Sim, claro – respondeu Rachel.

Estava há dois dias em Morrisville. Depois de sair do Alessandro’s, pusera-se imediatamente em movimento. Uma semana depois de ter acabado com o ex-noivo, deixara Nova Iorque com todos os seus pertences no por ta-bagagem.

Infelizmente, não se fora embora com rapidez suficiente para evitar receber outra carta do advogado de Anthony e Marco Alessandro. Não só tinham descontado o fato de Marco no seu último vencimento, deixando-o em apenas seis dólares e dez cêntimos, como também lhe davam trinta dias para que lhes entregar as receitas, se não quisesse que empreendessem acções legais.

A quantia em que valorizavam as suas receitas era astronómica.

Já não tinha de pagar uma renda, mas tinha de enfrentar os pagamentos do cartão de crédito. Além disso, ia ter de acrescentar um advogado ao seu orçamento apertado. Recusava-se a permitir que a mãe e a avó a ajudassem. Já era bastante voltar para o seu quarto da infância, que ficara tal como estava quando ela se fora embora para Nova Iorque. A sua janela dava para a casa de Colin Morris, o seu amigo de infância, que já não vivia lá. Quando eram jovens, utilizavam lanternas para conversarem até às tantas da noite.

Rachel negociou com a avó, que lhe pagaria onze dólares à hora para trabalhar no Kim’s. A avó quisera pagar mais, mas Rachel sabia que, se o fizesse, o dinheiro sairia do seu bolso e não da caixa do café. Tinha de ser ela a enfrentar os seus problemas.

Começaria por ir ao escritório Lancaster e Morris, que passara mais de cinquenta anos a aconselhar as pessoas de Morrisville sobre assuntos legais.

Rachel pegou no casaco. Atravessaria a rua, o estacionamento e estaria no escritório antes de a sua valentia a abandonar. Tinha medo de ouvir o que Bruce Lancaster ia dizer-lhe. Era um dos melhores advogados do Estado e amigo de infância, mas Rachel tinha de admitir que a horrorizava pensar que podia concordar que Marco tinha o direito de lhe pedir as receitas.

– Vou-me embora – disse. A avó despediu-se dela.

– Vejo-te em casa, logo à noite.

O forte vento balançou as decorações de Páscoa que havia na rua. Em Morrisville havia enfeites para todas as festas. Naquele momento, consistiam num coelho branco com uma cesta cheia de ovos e anunciavam a festa de Páscoa dos Cavaleiros do Colombo, que teria lugar em meados do mês de Março.

Rachel abotoou melhor o casaco e não demorou a