bian1302.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Margaret Way, Pty., Ltd.

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A mulher mais bela, n.º 1302 - Julho 2016

Título original: Her Outback Commander

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2011

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8535-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Vancouver. Canadá

 

Ele reconheceu-a assim que ela entrou no hall do hotel. O porteiro segurara-lhe a porta com um sorriso amplo no rosto. Quem podia culpá-lo? Uma mulher como aquela provocava sorrisos. Mas o que não compreendia era como podia ter tanta certeza de que era ela. Intuição? Criara uma imagem mental dela com base na descrição que Mark dera à sua mãe, Hilary, numa carta que lhe enviara depois de se ter casado com a rapariga canadense.

Mas a descrição de Mark não lhe fazia justiça. Era linda. E sempre seria. E dela irradiava um ar refinado. Estava muito arranjada e tinha muito estilo. Ficara viúva há pouco tempo e era evidente que a sua aparência escondia o vazio da mulher que era realmente.

Ele escolhera um lugar onde podia passar despercebido para esperar por ela porque pensava que assim teria uma pequena vantagem ao vê-la antes de ela conseguir vê-lo. Desse modo, poderia ter uma ideia melhor sobre o tipo de mulher com que Mark se casara. Naquele momento, sentia-se incapaz de contrastar a realidade com a descrição que o seu irmão dera. Onde estava o seu cabelo loiro? E não devia ser uma mulher baixa? Era verdade que usava sapatos de salto alto e já se sabia que as mulheres mudavam de cor de cabelo com frequência.

Ele sabia que não se enganara na mulher, apesar de haver muitas discrepâncias. Aquela tinha de ser Mandy, a viúva de Mark. Não tinha aspecto de Mandy, nem de Amanda. Eram nomes bonitos, mas não condiziam. Talvez fosse uma das brincadeiras de Mark? Mark sempre mentira e, já desde a infância, contava meias verdades em que envolvia toda a gente. Até o seu pai confessara uma vez que receava que Mark se transformasse num sociopata. Quando Mark inventava alguma coisa não havia nada que o parasse. Nunca se preocupara com os outros e fora muito egocêntrico.

E quanto ao seu gosto pelas mulheres? Mark só se interessara pelas raparigas bonitas bem dotadas. O resto das qualidades, como por exemplo a ternura, o companheirismo, a espiritualidade ou a inteligência, pareciam-lhe muito menos importantes. Mark sempre gostara de raparigas com estilo. Marcia, a sua irmã gémea, sempre as chamara cabeças ocas, à excepção de Joanne Barrett, a namorada que Hillary escolhera para o seu filho e que Mark abandonara cruelmente. A mulher com quem finalmente escolhera casar-se era a excepção à regra.

Ao ver que ela parava e olhava à sua volta, ele levantou-se e levantou a mão para se identificar.

Ela não sorriu ao vê-lo.

Ele também não sorriu depois.

O seu coração estava paralisado com tanta frieza.

Ela aproximou-se dele, olhando para ele como se não se apercebesse dos olhares de admiração que recebia por parte de homens e mulheres. Mas provavelmente estava tão habituada que nem sequer se apercebia disso.

Infelizmente, ele não teria tempo para fazer turismo em Vancouver, uma bonita cidade rodeada de mar e montanhas, mas admitia que num lugar tão frio não se sentia confortável. No exterior, longe do aquecimento central que havia no hotel, o ar era gélido. Ele nunca estivera num lugar tão frio, nem sequer quando passara algum Inverno na Europa. Nascera e fora criado num rancho da Austrália à beira de Simpson, um dos maiores desertos do mundo. E fora lá por um motivo concreto: preparar o corpo do seu meio-irmão para o levar para casa e convidar a viúva de Mark a regressar com ele à Austrália, para assistir ao funeral e conhecer finalmente a família. A família que ela decidira ignorar durante os dois anos que durara o seu casamento.

Ele não acreditava que continuasse a ignorá-los. Para começar, Mark deixara-lhe um legado considerável. E muito pouca gente rejeitava dinheiro. Além disso, algumas pessoas mereciam saber porque Mark agira como o fizera. Primeiro, Hilary, a sua mãe. Depois Marcia, a sua irmã gémea, e também Joanne. Ele não precisava de nenhuma explicação. Os comportamentos de Mark nunca o tinham surpreendido. Nem ao seu falecido pai, que passara os dois últimos anos da sua vida inválido devido a uma fractura na coluna que não melhorara depois de duas operações. Para piorar as coisas, o seu pai sofrera um estranho tipo de amnésia depois do acidente. Não recordava nada sobre o dia em que caíra do seu cavalo, apesar de ter sido criado em cima de um cavalo e de ser um cavaleiro experiente.

 

 

Ela dirigiu-se para ele com calma, apesar de, por dentro, não estar nada calma. Aquele era Blaine Kilcullen. O irmão de Mark. Ela tê-lo-ia reconhecido, mesmo que ele não tivesse levantado a mão para se identificar. Era uma mão autoritária. A mão de um homem habituado a conseguir a atenção de maneira imediata. No entanto, o seu gesto não lhe parecia arrogante. Era um homem alto. Muito mais alto do que Mark. E tinha costas largas e pernas esbeltas. Estava em forma e tinha um corpo escultural. Mas também Lúcifer fora um anjo antes da queda.

O comentário de repulsa que Mark fizera em relação ao seu irmão invadiu a sua cabeça.

«Tão atraente como Lúcifer e igualmente mortal.»

Dissera-o com raiva e até ódio. Mark fora um homem que podia ser encantador e, no minuto seguinte, se tornava frio e era impossível saber qual fora o motivo dessa mudança.

Mark dissera que o seu irmão era a causa de grande parte da infelicidade e da dor que sentia.

«Blaine foi o motivo por que tive de me ir embora. Deixando a minha casa e o meu país. O meu pai morreu, mas muito antes de morrer rejeitou-me, por causa de Blaine e do seu carácter manipulador. Blaine estava decidido a livrar-se de mim e fê-lo da pior maneira possível. Invejava o amor que o meu pai sentia por mim. E, no fim, o meu pai rejeitou-me. Nunca era suficientemente bom. Nunca bastava. A neve terá de cobrir o deserto de Simpson antes de voltar a dirigir a palavra ao meu irmão», recordou as suas palavras.

Infelizmente, Mark conseguira o seu desejo. Pelo menos, em parte. O destino obrigara-o a não voltar a falar com o seu irmão. E morrera na neve. Sofrera um acidente ao chocar com uma árvore enquanto esquiava. Amanda e ela tinham-no presenciado. E nunca conseguiriam esquecê-lo. Mas Mark gostava de se comportar de maneira temerária, como se fosse um adolescente. Talvez o facto de ter de demonstrar constantemente que era superior ao seu irmão tivesse determinado a sua atitude? Às vezes, ela receava que ele pudesse suicidar-se. Certamente, tinha motivos. Mas, então, convencera-se de que estava a exagerar. Afinal de contas, não era psiquiatra.

– Amanda? – o rancheiro estendeu a sua mão bronzeada.

Chegara o momento de contar outra das histórias de Mandy. Passara tantos anos a encobrir a sua prima que começava a cansar-se.

– Lamento, senhor Kilcullen – apertou-lhe a mão com firmeza e surpreendeu-se ao ver como o seu corpo reagia. Tentou disfarçar a sua reacção com uma explicação. – Receio que não houvesse tempo para o informar. Sou Sienna Fleury, a prima de Amanda. Amanda pediu-me para vir no seu lugar. Tem enxaqueca. Sofre-as com frequência.

– Compreendo.

Muito educado. Mas ela não tinha problemas para ler a sua mente. Mostrava indiferença pela mulher com que Mark se casara. E rejeição pela família Kilcullen.

– Por favor, permita-me oferecer-lhe as minhas mais sinceras condolências – disse ela. – Gostava de Mark – não era verdade, mas nunca gostara de falar mal dos mortos. Ao princípio, tivera de fazer um grande esforço para gostar de Mark. Ele sempre tivera alguma coisa no seu olhar que a incomodava. Amanda, no entanto, apaixonara-se loucamente por ele, portanto, se a família rejeitasse Mark, sabia que equivaleria a rejeitar Amanda. Coisa que ela não podia fazer depois de ter cuidado de Amanda durante anos como se fosse a sua irmã mais velha.

– Obrigado, menina Fleury – o seu humor suavizou-se ao ouvir aquela voz encantadora. O seu sotaque canadense era tranquilizador. Ao olhar para ela, recordou que Hilary lhe contara que a maneira de falar da dama de honor de Amanda lhe parecera estranha. Seria possível que ela fosse a dama de honor? Aquela mulher passara de ser a viúva de Mark a ser a possível dama de honor de Amanda.

Sienna percebeu a sua mudança de atitude e questionou-se a que se deveria. Para Mark, os seus irmãos eram inimigos e, por isso, Amanda não entrara em contacto com a família do seu falecido esposo, nem se esforçara em reconciliar-se com ela. Até se empenhara em não os avisar de que Mark sofrera um acidente mortal. Mas isso era contra as regras de comportamento. Sienna contactara com o seu pai, Lucien Fleury, um dos artistas mais famosos do Canadá, para lhe suplicar que fizesse a chamada que Amanda não queria, ou não podia, fazer.

– Sempre foi problemática, não foi? Pobre Mandy!

Amanda era a sua sobrinha. A sua irmã Corinne e o seu marido tinham falecido num acidente de viação quando Amanda tinha cinco anos. Os pais de Sienna, Lucien e Francine, tinham adoptado Amanda e a pequena fora criada com Sienna, que era dezoito meses mais velha, e com o seu irmão Emile, que se transformara num arquitecto e decorador de interiores famoso.

A voz grave de Blaine Kilcullen interrompeu o seu pensamento.

– Apetece-lhe um copo antes de jantar? – perguntou ele, sem revelar o que pensava a respeito dela e do seu papel de substituta da viúva do seu meio-irmão.

– Parece-me bem – o que mais podia dizer? Parecia-lhe tão assustador como Mark dissera. Mas devia dar-lhe liberdade de acção. Aqueles não eram tempos felizes.

 

 

Quando chegaram à sala luxuosa, ele ajudou-a a tirar o casaco e deixou-o nas costas da cadeira junto do cachecol amarelo que ela tinha à volta do pescoço. Passara bastante tempo desde que ela estivera naquele hotel do centro de Vancouver. O hotel era famoso pelo seu estilo europeu.

Segurou-lhe a cadeira. Ela sentou-se e alisou o cabelo.

– O que quer beber? – desviou o olhar do seu cabelo comprido e olhou para o balcão do bar.

– Talvez um coquetel de brande? – na verdade, não lhe apetecia beber nada.

Ele decidiu beber um conhaque.

Ela observava-o com o seu olhar de artista, mas tentando fazer com que não fosse evidente. Com vinte e seis anos já fizera várias exposições de arte. Também era uma fotógrafa com talento, embora o seu primeiro trabalho fosse gerir a galeria de arte que o seu pai tinha em Vancouver e controlar a que tinha em Toronto e a que tinha em Nova Iorque. E o que pensava sobre o homem que tinha à sua frente? Blaine Kilcullen, um ganadeiro australiano, era o homem mais atraente que vira na sua vida, mesmo apesar da expressão séria do seu rosto. Mas podia estar a sofrer a morte do seu irmão. Remorsos amargos? Pensamentos a respeito do que podia ter sido?

Vestia um fato preto com uma gravata de seda às riscas azuis e prateadas. Ela pensou que, provavelmente, ficaria igualmente elegante vestido com a roupa tradicional de ganadeiro. As suas pernas compridas e o seu corpo magro formavam uma silhueta perfeita. O surpreendente era que Mark não se parecia nada com o seu irmão. Mark tinha o cabelo castanho-claro e olhos escuros. Aquele homem tinha o cabelo espesso e as sobrancelhas pretas. No entanto, os seus olhos tinham o brilho do gelo.

Serviram-lhes as bebidas e ela preparou-se para o que viria depois. A conversa seria difícil. O mais irónico era que nem sequer era um problema dela. Amanda era a viúva de Mark. Era ela que devia assistir àquela reunião, com um membro da família de Mark. Mas Amanda usara o velho truque. Com o passar dos anos, tornara-se uma artista na altura de ficar doente. Todos tinham tolerado as suas birras, desculpando-a por ter perdido os seus pais, mas quando chegara à adolescência notara-se que gostava de se servir dos seus sentimentos. Nesse mesmo dia, dissera com lágrimas nos olhos que não conseguiria encontrar-se com o irmão de Mark.

«Falamos do irmão que tentou devastar-lhe a vida, Sienna. Esperas que eu fume o cachimbo da paz com ele? De maneira nenhuma!», Sienna recordou as suas palavras.

Mark convencera Amanda e a sua família de que odiava o seu irmão, culpando-o de o ter banido da casa da família Kilcullen. Aparentemente, era um forte no deserto situado no meio do nada. Ela procurara a zona na Internet e lera sobre as mudanças assustadoras que aconteciam no deserto de Simpson depois da chuva. Parecia fascinante.

Mark pensara de outra maneira.

– Eu gosto do Canadá. É suficientemente longe, do outro lado do mundo – de vez em quando, Mark começava a discutir de forma acalorada e com muita raiva. Uma vez, Sienna sugerira a Amanda que Mark precisava de ajuda de um profissional, mas ela ficara histérica.

– Como te atreves? Como te atreves?

Sienna nunca mais voltara a mencioná-lo.

O curioso era que Mark não conhecera Amanda em Vancouver. Tinham-se conhecido quando Amanda e Sienna estavam de férias em Paris. Naqueles tempos, Mark trabalhava atrás do balcão de um hotel de luxo.

– É um trabalho divertido. Além disso, permite-me conhecer imensas raparigas bonitas.

Mark vivera para se divertir, trabalhando em coisas relacionadas com a hotelaria e no sector dos serviços. Era um homem muito atraente, mas nunca se comprometia com nada. Amanda apaixonara-se por ele em muito pouco tempo.

Ninguém se surpreendera demasiado quando Mark as acompanhara a casa quase um mês mais tarde. Conhecera os seus familiares e eles perceberam um certo desequilíbrio na sua pessoa, mas foram tolerantes por respeito a Amanda. Ela não fizera caso a ninguém, embora tivesse sido uma boa ideia ouvi-los. Ao fim de seis meses, Mark e ela tinham-se casado numa pequena cerimónia. Por parte de Mark não assistiu nenhum convidado, embora houvesse muitos Fleury e amigos para fazer uma boa celebração. Mais tarde, tinham descoberto que Amanda estava grávida e não dissera a ninguém. Infelizmente, sofrera um aborto um mês depois. No entanto, não voltara a ficar grávida durante o resto do seu casamento curto e infeliz.

Sienna perguntava-se com frequência se fora por isso que Mark se casara com Amanda, embora fosse verdade que Amanda era muito bonita e podia ser muito agradável quando queria. Sienna nunca tivera a impressão de que Mark estivesse apaixonado pela sua prima. Talvez a tivesse usado? A família de Amanda era rica. O seu pai era um artista famoso, a sua mãe, dermatologista e o seu irmão estava prestes a transformar-se num decorador famoso. Por esse motivo, estava tudo bem. E a Mark nunca lhe faltara o dinheiro. Aparentemente, tinha dinheiro pessoal. Os trabalhos que desempenhava eram apenas passatempos. A certa altura, ele tentara convencê-la a deixá-lo trabalhar com ela na galeria. Ela nem pensara nisso. Não queria tê-lo por perto. Ele inquietava-a. Um ano depois do casamento, demonstrara-lhe porquê. Ela não suportava pensar naquela tarde terrível e vergonhosa. Ainda a atormentava. Desde aquela noite, ela odiava-o...

 

 

Blaine Kilcullen continuava a falar e afastou-a dos seus pensamentos inquietantes.

– Espero que a sua prima se sinta bem amanhã para falar comigo, menina Fleury. Preciso de a ver.

– É claro – concordou ela, pensando que chegaria a paz mundial antes de Amanda sair da cama.

– Qual é o verdadeiro motivo por que não quis vir, menina Fleury?