Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2011 Melanie Milburne. Todos os direitos reservados.

UMA PRINCESA POBRE, N.º 1384 - Maio 2012

Título original: His Poor Little Rich Girl

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em portugués em 2012

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

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I.S.B.N.: 978-84-687-0287-2

Editor responsável: Luis Pugni

ePub: Publidisa

CAPÍTULO 1

Rachel esperou mais de uma hora pelo suposto investidor para a sua marca de moda. Ainda não recuperara do jet-lag e tinha de se esforçar para manter os olhos abertos enquanto lia uma revista na sala de espera.

No fim, conduziram-na para o escritório do executivo. Quase lhe tremiam as pernas por causa dos nervos.

Rezou para conseguir salvar o seu negócio e não perder aquilo por que tanto tinha lutado.

– Lamento muito, menina McCulloch – disse o executivo de meia-idade com um sorriso de desculpa, antes de Rachel ter tempo para se sentar. – Mudámos de ideias. Estamos a reestruturar a nossa empresa. Não estamos preparados para correr riscos e apostar numa estilista desconhecida como a menina. Terá de ir procurar apoio financeiro noutro lugar. Já não estamos interessados.

Rachel pestanejou, emocionada.

– Não estão interessados? – repetiu ela. – Mas pensei… A sua carta dizia… Depois de vir até aqui!

– Um perito famoso em finanças aconselhou-nos a mudar de ideias – explicou o homem. – E a decisão da direção é inalterável. Sugiro-lhe que considere outras opções para o seu negócio.

Outras opções? Que outras opções?, perguntou-se Rachel, invadida pelo desespero. Tinha de conseguir lançar a sua marca de moda na Europa. Trabalhara muito e fizera muitos sacrifícios para o conseguir. E o seu sonho não podia acabar assim. Ficaria como uma imbecil se falhasse. Se não conseguisse o dinheiro, a sua empresa acabaria. Precisava de um impulso económico e precisava dele com urgência.

Não podia fracassar.

Rachel franziu o sobrolho, olhando para o executivo.

– Que perito vos aconselhou?

– Lamento muito, mas não estou autorizado a dar essa informação.

Rachel ficou rígida e a sombra da suspeita ganhou forma dentro dela.

– Disse que era um perito famoso em finanças.

– Sim.

– Trata-se de Alessandro Vallini? – perguntou ela, furiosa.

– Lamento muito, menina McCulloch. Não posso confirmá-lo nem negá-lo.

Rachel levantou-se e pôs a mala ao ombro com decisão.

– Obrigada pelo seu tempo – disse ela e foi-se embora.

Rachel procurou a morada do escritório de Alessandro Vallini na internet. Era um edifício muito elegante, símbolo do êxito do seu proprietário. O seu triunfo fora enorme. Aquele homem era um exemplo perfeito de como era possível chegar longe, apesar da sua origem humilde. Ela não tinha planeado vê-lo, mas ia ter de o enfrentar.

– Eu gostaria de ver o senhor Vallini – pediu Rachel, sem mais rodeios, à rececionista.

– Lamento muito, mas o senhor Vallini está a passar o verão na sua casa de Positano – replicou a rececionista. – Está a gerir o negócio de lá.

– Então, quero marcar uma reunião o mais depressa possível.

– É uma cliente?

– Não, mas…

– Lamento muito, o senhor Vallini só vai atender novos clientes depois do verão – indicou a rececionista. – Quer que marque uma reunião para setembro ou mais tarde?

Rachel franziu o sobrolho.

– Falta mais de um mês para isso! Só estou aqui até ao fim de agosto.

– Nesse caso, lamento muito…

– Olhe, eu não sou uma cliente, na verdade – esclareceu Rachel. – Sou uma velha amiga dele de Melbourne. Ele trabalhava para o meu pai. Esperava poder vê-lo enquanto estou aqui. O meu nome é Rachel McCulloch.

Houve uma pausa.

– Tenho de falar com ele primeiro – indicou a rececionista e pegou no telefone. – Importa-se de se sentar ali?

Rachel sentou-se num dos sofás de couro, tentando não pensar na última vez que vira Alessandro. Se a sua intuição não a enganava e fora ele que se encarregara de fazer com que não lhe dessem o financiamento de que precisava, isso só queria dizer uma coisa. Ainda não a perdoara.

– Lamento muito, mas o senhor Vallini não deseja vê-la – disse a rececionista.

Rachel levantou-se com um salto.

– Devo vê-lo – insistiu ela. – É muito importante.

– Tenho ordens estritas para a informar de que o senhor Vallini não quer recebê-la.

Rachel sentiu-se ultrajada. Estava claro que Alessandro estava a brincar com ela. Pensaria mesmo que ia aceitar um «não» como resposta depois do que ele acabara de lhe fazer? Não ia deixar que levasse a sua avante. Encontrá-lo-ia, mesmo que ele não quisesse.

Obrigá-lo-ia a vê-la.

Com o estômago às voltas, Rachel percorreu a estrada da costa de Amalfi para Positano. Não era tanto pelas curvas como pelo seu nervosismo. Tinha planeado alugar um carro, mas o seu cartão já não tinha crédito. Fora uma experiência bastante vergonhosa, algo que não esqueceria com facilidade. Então, telefonara para o seu banco na Austrália, embora isso não tivesse resolvido as coisas. Estava com saldo negativo e não queriam dar-lhe crédito no banco, sobretudo, depois de Craig ter usado a sua assinatura em vários empréstimos que pedira há anos.

Rachel precisava do dinheiro mais do que nunca.

O autocarro deixou-a junto do caminho que levava à Villa Vallini, no topo de uma colina. No entanto, quando o condutor abriu o porta-bagagens para tirar a sua mala de viagem, não estava lá.

– Devemos tê-la guardado num dos outros autocarros – justificou-se o condutor, fechando o porta-bagagens.

– Como é possível? – inquiriu ela, tentando não entrar em pânico.

O homem encolheu os ombros.

– Acontece por vezes. Falarei com a central e direi para a enviarem para o hotel. Se puder dar-me a morada, eu encarregar-me-ei disso – ofereceu-se o condutor e tirou um caderno do bolso.

– Ainda não tenho um hotel reservado – indicou Rachel e mordeu o lábio, pensando na sua conta bancária.

– Dê-me o seu número de telemóvel e telefonar-lhe-ei quando encontrarmos a mala.

Depois disso, Rachel ficou de pé na estrada, vendo como o autocarro se afastava. Pousou o olhar na casa que tinha à sua frente. Era uma residência enorme, um pouco afastada das outras casas. Tinha quatro andares, estava rodeada de jardins e também tinha uma piscina. Enquanto subia o caminho até lá, o sol brilhava sobre o oceano azul e ela suava sem parar. Cada vez lhe doía mais a cabeça.

Cheia de determinação, no entanto, Rachel chegou até à porta principal da mansão imponente. Havia um intercomunicador sobre uma coluna de pedra.

– Não queremos visitantes – disse uma mulher antes de Rachel conseguir falar.

– Mas eu… – balbuciou Rachel, aproximando-se do intercomunicador.

Não houve resposta. Rachel olhou para a casa, franzindo o sobrolho, com o sol a bater-lhe nos olhos. Agarrou-se às grades ferro forjado e respirou fundo antes de carregar no botão novamente.

A mesma mulher respondeu.

– Nada de visitas.

– Tenho de ver Alessandro Vallini. Não tenciono ir-me embora sem o ver.

– Por favor, vá-se embora.

– Mas não tenho para onde ir – replicou Rachel, prestes a suplicar. – Podia dizer isso ao senhor Vallini, por favor? Não tenho para onde ir.

O intercomunicador ficou em silêncio novamente e Rachel virou-lhe as costas, para se sentar à sombra. Baixou a cabeça, apoiando-a nos joelhos dobrados, incapaz de acreditar no que estava a acontecer. Era como se aquilo não pudesse acontecer-lhe a ela. Fora criada entre montanhas de dinheiro, mais do que muita gente via em toda a sua vida. Durante muito tempo, pensara que seria sempre assim. Não sentira o que era a necessidade, nem suspeitara que podia ficar sem nada. No entanto, fora assim. E, embora se tivesse esforçado para reconstruir a sua vida durante os dois últimos anos, acabara por suplicar à porta do homem que abandonara há cinco anos. Seria assim que o destino se ria dela?

Perdida no desespero, Rachel fechou os olhos e rezou para que não lhe doesse tanto a cabeça. Disse-se que, dentro de alguns minutos, se levantaria e tentaria tocar novamente, até Alessandro aceitar recebê-la…

– Continua lá? – perguntou Alessandro à governanta, Lucia.

– Sim, senhor – respondeu Lucia, virando-se da janela. – Está ali há uma hora. Está muito calor lá fora.

Alessandro esfregou o queixo, mantendo uma luta interna com a sua consciência. Ele estava fechado na sua torre enquanto Rachel estava sob o sol abrasador. Não esperara que chegasse assim, sem avisar. De facto, dera ordens à sua secretária para não marcar reuniões. Esperara que aquilo bastasse para a fazer desistir. Quanto tempo demoraria a render-se e ir-se embora? Porque não conseguia entender que não queria vê-la? Não queria ver ninguém.

– Meu Deus, penso que vai desmaiar! – exclamou Lucia, agarrando-se ao parapeito da janela com ambas as mãos.

– O mais provável é que esteja a fingir – disse Alessandro com calma, voltando a pousar a atenção nos seus papéis. Fez o possível para ignorar as sensações de angústia e culpa que o embargavam.

Lucia afastou-se da janela com o sobrolho franzido.

– Talvez devesse levar-lhe um pouco de água, para ver se está bem.

– Faz o que quiseres – replicou ele, virando uma página do relatório que tinha entre as mãos, embora sem o ver. – Mas não deixes que se aproxime de mim.

– Sim, signor.

Quando Rachel abriu os olhos, viu uma italiana de meia-idade com um copo de água numa mão e um jarro com gelo e limão na outra.

– Quer beber alguma coisa antes de se ir embora? – perguntou a mulher, passando-lhe o copo através da grade.

– Obrigada – replicou Rachel, aceitou o copo e bebeu com ansiedade. – Dói-me muito a cabeça.

– É por causa do calor – indicou Lucia, enchendo-lhe o copo. – Agosto é assim. É possível que esteja desidratada.

Rachel bebeu outro copo e mais um. Sorriu para a mulher, devolvendo o copo.

Grazie. Salvou-me a vida.

– Onde está alojada? – perguntou Lucia. – Em Positano?

Rachel levantou-se, agarrando-se à grade para manter o equilíbrio.

– Não tenho dinheiro para pagar um hotel. E perdi a minha bagagem.

– Não pode ficar aqui – repetiu Lucia. – O signor Vallini insiste que…

– Só quero falar com ele durante cinco minutos – replicou Rachel, afastando uma madeixa de cabelo húmido por causa do suor. – Por favor, pode dizer-lho? Prometo não demorar. Só peço cinco minutos do seu tempo.

A outra mulher cerrou os dentes.

– Podia perder o meu trabalho por isto.

– Por favor… – suplicou Rachel.

A italiana suspirou, deixando o copo e o jarro sobre o pilar de pedra.

– Cinco minutos, mais nada – avisou Lucia e abriu a porta.

Rachel entrou antes de a outra mulher mudar de opinião. Atrás dela, a porta fechou-se com um ruído estridente.

Os jardins da entrada eram magníficos. Rosas de todas as cores enchiam o ar com a sua fragrância embriagadora. Uma grande fonte salpicou Rachel com a sua frescura ao passar. Desejou poder ficar ali parada por um momento, deixando que as suas gotinhas de água a ajudassem a acalmar a tensão.

A governanta abriu a porta da casa. Foram recebidas pelo ar fresco do interior. O chão era de mármore reluzente, tal como as escadas que levavam ao primeiro andar. O teto estava adornado com lustres de cristal e havia quadros de valor incalculável nas paredes. O sol penetrava por janelas grandes, dando um toque dourado a tudo o que tocava.

Era uma casa impressionante, sobretudo tendo em conta as origens de Alessandro. Como o fizera? Como era possível que um órfão das ruas de Melbourne tivesse conseguido chegar tão longe em tão pouco tempo? Depois de ter vários empregos no final do liceu, com vinte e quatro anos tinha fundado uma empresa de jardinagem, enquanto estudava gestão. Naquele momento, com trinta e três anos, era dono de um império empresarial internacional. Fora a rejeição de Rachel que o motivara para triunfar ou o êxito estivera escrito no seu destino?

– Espere aqui, vou falar com o senhor Vallini – indicou a mulher, apontando para uma cadeira.

Rachel ignorou a cadeira e olhou à sua volta. Aquilo era mais luxuoso do que qualquer um dos hotéis de cinco estrelas em que estivera ao longo dos anos. O seu próprio lar familiar fora impressionante, mas não tanto como a casa de Alessandro. Parecia um palácio com as suas obras de arte incontáveis e decoração sofisticada.

O ruído de passos atrás dela fizeram-na virar-se.

– Aceitou recebê-la durante cinco minutos.

Rachel respirou fundo e seguiu a mulher pelas escadas de mármore. Ao passar junto de um espelho e olhar-se, desejou ter tido alguns minutos para se arranjar. Tinha o cabelo pegajoso, a cara muito rosada e o nariz queimado pelo sol. Tinha a blusa manchada de suor e as calças brancas imaculadas que vestira naquela manhã pareciam ter saído de uma escavação arqueológica. Parecia qualquer coisa menos uma estilista.

A governanta bateu a uma porta e, desviando-se, abriu para que Rachel pudesse entrar.

A porta fechou-se atrás dela. Era um escritório com biblioteca e uma grande secretária à frente da janela. Comparada com a luminosidade do resto da casa, aquela sala parecia escura e de mau agouro, tal como o homem que estava sentado atrás da mesa.

Quando Rachel olhou para ele nos olhos do outro extremo da sala, sentiu um aperto no coração. O olhar dele era tão azul e tão profundo como o oceano.

O silêncio abateu-se sobre eles como uma laje de granito. A única coisa que Rachel conseguia ouvir era os batimentos do seu próprio coração acelerado.

Alessandro tinha um rosto especial. Não era bonito ao estilo clássico, mas era muito atraente. O seu nariz reto dava-lhe um ar aristocrático, tal como o seu queixo forte.

Não estava a sorrir.

Rachel perguntou-se quando teria sido a última vez que ele sorrira. E para quem. Talvez para uma amante? Ela tinha investigado um pouco e descobrira que saíra com uma modelo de alta-costura há alguns meses. Também descobrira que nenhuma das suas relações durara mais de um mês ou dois. Não conseguira descobrir mais nada sobre a sua vida privada, para além de ser um dos homens mais ricos de Itália e um dos solteiros mais desejados.

– Foste muito amável por aceitares receber-me – disse ela, obrigando-se a ser cortês.

Alessandro recostou-se na cadeira e observou-a em silêncio. Rachel sentiu-se incomodada por ele não se levantar para a receber. Estaria a fazer de propósito? Claro que sim. Queria demonstrar que a desprezava. No entanto, ela não ia deixar que a tratasse como se fosse lixo. Podia ter perdido tudo o resto, mas ainda tinha o seu orgulho.

– Senta-te.

Rachel continuou de pé.

– Não vou roubar-te muito tempo – disse ela, tentando esconder o seu ressentimento.

Alessandro esboçou um sorriso.

– Não, asseguro-te que não – replicou ele e olhou para o relógio. – É melhor dizeres porque vieste e que seja rápido, porque só tens quatro minutos. Tenho outras coisas para fazer, muito mais importantes do que falar contigo.

Rachel tremeu de raiva. Ele queria que as coisas fossem assim? Sentado no seu pedestal, dignando-se a falar com ela, só para se vingar. Era uma questão de vingança. Que outra coisa podia ser? Devia estar muito contente por terem trocado de papéis. O jardineiro transformara-se num homem rico e a jovem herdeira não tinha um tostão.

– Quero saber se foste tu que sabotaste a minha tentativa de conseguir financiamento para a minha empresa – disse ela, lançando-lhe adagas com o olhar.

– Não faço ideia do que estás a falar.

– Não penses que sou tola. Sei que foste tu – replicou ela, furiosa.

Alessandro continuou a observá-la como se fosse uma menina a fazer uma birra.

– Estás enganada, Rachel – afirmou ele, com calma. – Eu não fiz nada contra a tua empresa.

Rachel mordeu o lábio, esforçando-se para não perder a paciência.

– Vim a Itália só para assinar um contrato de financiamento para a minha marca de moda. Mas, assim que entrei no escritório dos investidores, disseram-me que já não iam apoiar-me porque um perito famoso os tinha aconselhado a não o fazerem.

– Estimo o elogio e que tenhas assumido de maneira automática que eu era o perito, mas asseguro-te que não tenho nada a ver com esse assunto.

Rachel olhou para ele cheia de raiva.

– Vou perder tudo aquilo por que tanto trabalhei. Tinha as minhas esperanças naquele financiamento e tu sabias. Foi por isso que fizeste o que fizeste. Ninguém me ajudará agora que lhes deste a tua opinião. Mas esse era o teu plano, não é assim? Querias fazer-me suplicar.

Alessandro observou-a por um instante.

– Esta pequena reunião que maquinaste é só uma farsa para me pedires dinheiro, não é assim?

Ela não podia estar mais furiosa.

– Não maquinei nada! Quanto ao dinheiro, não me atreveria a… – começou a dizer ela e, interrompeu-se, ao pensar que talvez ele pudesse emprestar-lhe o dinheiro. Ao fim e ao cabo, era um homem muito rico. Tinha contactos em toda a Europa que podiam ser-lhe muito úteis. Seria um golpe para o seu orgulho, sim, mas o que importava perder o orgulho em comparação com perder a sua empresa?, disse-se. Precisava de apoio económico em menos de vinte e quatro horas se quisesse seguir em frente. – Estarias disposto a emprestar-me o dinheiro? – perguntou.

Alessandro continuou a olhar para ela com os seus olhos azuis enormes.

– Precisaria de conhecer melhor o teu negócio antes de te dar uma resposta. Talvez tenha sido por isso que os teus investidores mudaram de ideias. Talvez tenham investigado um pouco os teus antecedentes ou tenham tido medo de que o teu noivo desviasse os fundos para as suas operações de venda de droga.

Rachel sentiu-se como se a tivesse esbofeteado. Corou, envergonhada com um passado que não conseguia esquecer. E perguntou-se se alguma vez poderia deixar para trás os seus erros e a sua cegueira.

– Já não estou com Craig Hughson. Há três anos.

– E o teu pai? Não tem algum milhão para ajudar a sua filha?

Rachel mordeu o lábio.

– Não lhe pedi.

– Porque não poderia ajudar-te mesmo que lhe pedisses, não é assim? – adivinhou ele, arqueando as sobrancelhas.

– Imagino que saibas que perdeu tudo há três anos – indicou ela, odiando-o por lho recordar e sabendo que estava a desfrutar de tudo aquilo. O seu pai tratara Alessandro muito mal quando fora o seu chefe.

– Sempre foi um jogador – comentou ele. – É uma pena que não tivesse em conta os riscos.

– Sim… – murmurou Rachel como resposta. De certa forma, ela sentia-se culpada pela bancarrota do seu pai, pois intuía que tinha a ver com a sua rutura com Craig Hughson. Quando ela cancelara o casamento, Craig retirara todo o dinheiro que tinha investido no negócio da família. Fora dinheiro sujo, sim, mas dinheiro. Numa questão de dias, o seu pai ficara sem um cêntimo e ela vira a sua carreira como modelo a acabar, salpicada pelo escândalo.

– Quanto queres? – perguntou ele.

– Estarias disposto a fazê-lo?

– Por um preço – respondeu ele, com os olhos fixos nela.

– Suponho que te referes aos juros do empréstimo – aventurou ela, tentando decifrar o seu olhar.

– Não.

– Penso que não entendo. O que procuro é apoio financeiro para lançar a minha marca na Europa. Tem de ser tudo legal. Estou disposta a pagar juros, desde que sejam razoáveis.

– Não estava a falar de um empréstimo – indicou ele. – Considera-o um presente.

– Um… presente?

– Com condições.

– Não posso aceitar dinheiro como presente. Insisto em pagar-to assim que puder. Talvez demore um pouco, depende do êxito do lançamento da marca, mas…

– Não estás a compreender, Rachel. Não vou financiar a tua empresa.

Ela olhou para ele, confusa.

– Mas não disseste que ias dar-me o dinheiro?

– Sim.

– Não entendo porque farias isso – admitiu ela, com o coração acelerado. – Da última vez que falámos… – acrescentou e interrompeu-se, pois não queria recordar aquela cena terrível, na noite em que fizera vinte e um anos.

– Não vais perguntar-me quais são as condições?

– Se queres que me desculpe pelo que aconteceu… Entre nós… Lamento – disse ela e mordeu o lábio. – Queria falar-te de Craig, dizer-te que tinha de me casar com ele. Devia tê-lo feito. Mas, assim que comecei a sair contigo, não tive coragem. Não queria que nada danificasse a nossa relação…

Alessandro ficou em silêncio, com expressão ininterpretável.

– Tive de trabalhar muito para chegar até aqui, depois do meu fracasso como modelo – prosseguiu ela. – Tenho empregados com filhos e com hipotecas. Não se trata só de mim e do meu dinheiro. A minha sócia também pôs tudo o que tinha no negócio. É uma boa amiga.

Alessandro observou os seus grandes olhos verdes, uns olhos que não conseguira esquecer, tal como o seu cabelo encaracolado e as suas feições aristocráticas. O seu nariz pequeno e arrebitado dava-lhe um ar inocente que não tinha nada a ver com a sua verdadeira personalidade. Na verdade, era uma pequena oportunista sem escrúpulos, uma caçadora de fortunas.