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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Abby Green. Todos os direitos reservados.

UMA SÓ NOITE CONTIGO, N.º 1439 - Janeiro 2013.

Título original: One Night with the Enemy.

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2013.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®,Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2510-9

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

Magda Vázquez permanecia entre as sombras, como uma fugitiva, observando a entrada do hotel luxuoso onde chegava o melhor da sociedade de Mendoza. Cerrou os dentes, pensando na artificialidade da iluminação, que dava à fachada um ar de conto de fadas.

Ela sempre fora mais cética do que fantasiosa, possivelmente por ter tido uma mãe que a mostrava como um troféu e um pai para quem só importava se tivesse sido um rapaz.

Abanou a cabeça para afugentar aqueles pensamentos e respirou fundo para travar o seu coração acelerado, ao mesmo tempo que um veículo prateado alcançava o fundo da escada. Suaram-lhe as mãos e secou-lhe a boca. Seria...?

Sim. Era Nicolas Cristobal de Rojas, o latifundiário mais famoso de Mendoza e de toda a Argentina, que nos últimos anos triplicara o valor da sua adega, para além de alcançar reconhecimento mundial.

Vestia um smoking preto e Magda pôde ver as suas feições marcadas quando olhou à sua volta com uma expressão aborrecida. Magda susteve a respiração ao ver os seus olhos azuis. Parecia mais magro e musculado e o seu cabelo castanho-claro continuava a fazer com que se destacasse no meio da multidão... para além de ter uma aura inconfundível de força e de poder sexual.

Depois, Magda viu uma loira esbelta cujo cabelo brilhava quase tanto como o vestido que vestia e que se ajustava suavemente a cada uma das suas curvas. A mulher entrelaçou o braço com o dele e Magda sentiu uma pontada imediata de dor no peito, ao mesmo tempo que rezava para não se sentir afetada.

Passara a sua adolescência a sonhar com ele, a desejá-lo. E os seus sonhos estúpidos tinham culminado numa catástrofe que tinha reavivado a antiga hostilidade entre as duas famílias, para além de destroçar ambos.

A última vez que vira Nic fora há anos, num clube de Londres. Quando os seus olhares se tinham encontrado, Nic enchera o seu de desprezo antes de se virar e desaparecer.

Magda endireitou os ombros ao mesmo tempo que respirava fundo. Não podia permanecer nas sombras toda a noite. Estava ali para dizer a Nicolas Cristobal de Rojas que voltara e que não tinha a menor intenção de lhe vender as suas terras. Nic devia sabê-lo para esquecer a hipótese de exercer a mesma pressão que exercera sobre o seu pai, aproveitando-se da sua fraqueza física e emocional.

Embora preferisse esconder-se por trás de um advogado, não podia permitir-se pagá-lo. E não queria que Rojas pensasse que o temia. Por isso devia esquecer o seu último encontro e concentrar-se no presente. E no futuro.

Ela sabia melhor do que ninguém até que ponto os Rojas podiam ser cruéis, mas mesmo assim, o facto de Nic tentar aproveitar-se do seu pai, que se achava capaz de qualquer coisa, tinha-a deixado atónita.

Com mãos trémulas alisou o vestido preto com lantejoulas que resgatara do armário da sua mãe para poder ir ao prestigioso jantar anual dos Vinhedos de Mendoza. Ao encontrá-lo, tinha-lhe parecido que tinha um decote discreto e só ao vesti-lo é que se apercebera de que, para além de lhe ficar curto, dado que era mais alta do que a sua mãe, deixava todas as costas a descoberto. Portanto, naquele instante, com as pernas virtualmente expostas, o cabelo preto, os olhos verdes e pele pálida, herança de uma bisavó de origem irlandesa, caminhou para o hotel, lamentando não poder passar mais desapercebida.

 

 

Nicolas Cristobal de Rojas tentou esconder um bocejo.

– Querido, sou assim tão aborrecida?

Nicolas olhou para a sua acompanhante e, com um sorriso forçado, disse:

– Claro que não.

Apertou-lhe o braço.

– Eu penso que estás aborrecido. Precisas de ir a Buenos Aires divertir-te. Não sei como aguentas o tédio deste lugar – disse, fingindo um calafrio. E desculpando-se para ir à casa de banho, afastou-se com um balançar sensual de ancas, próprio de uma mulher que sabia que os homens viravam a cabeça quando ela passava.

Nic, que era imune a esse tipo de artimanha, abanou a cabeça e agradeceu que a presença de Estela o livrasse do assédio das solteiras da alta sociedade de Mendoza. Não estava de humor para elas nem para nenhuma outra mulher que pretendesse mais dele do que uma relação casual. E até estava disposto a renunciar ao sexo se isso lhe simplificasse a vida. De facto, os seus últimos encontros nesse campo tinham sido... insatisfatórios, vazios.

Quanto a uma relação duradoura, aprendera com a relação doentia dos seus pais, e a sua escolha exigiria selecionar com muito cuidado, porque o que sabia era que queria herdeiros a quem deixar o seu legado.

Precisamente naquele instante, uma mulher apareceu à porta do salão de baile e, inexplicavelmente, Nic sentiu pele de galinha. Embora não conseguisse ver-lhe a cara, podia ver as suas pernas torneadas e a sua figura esbelta. Mas por algum motivo pareceu-lhe familiar. De repente, ela viu-o, ficou imóvel por uma fração de segundo e caminhou diretamente para ele.

Nic teve o impulso absurdo de fugir. À medida que se aproximava, uma ideia ia ganhando forma na sua mente. Mas não podia ser. Fora há tantos anos...

Mal se apercebeu do murmúrio abafado dos que o rodeavam quando ela parou à frente dele. Uma mistura de reconhecimento e incredulidade toldou-lhe a mente. Para além da consciência de que era espetacular. Sempre fora bonita, mas os anos tinham-na transformado numa beleza de figura escultural.

Só se apercebeu de que a tinha submetido a uma inspeção quando fixou o olhar nos seus olhos e viu que corava, o que bastou para ele sentir uma pressão na virilha.

Diversas emoções amontoaram-se no seu interior, entre as quais dominaram os sentimentos de traição e humilhação... Apesar dos anos decorridos.

Imediatamente, escondeu-se por trás de uma máscara fria de indiferença para se defender daquela pontada de desejo. Cravou o olhar nos seus olhos verdes e teve de esmagar a lembrança do sentimento que lhe despertava.

– Madalena Vázquez – disse, sem mostrar a confusão que sentia, – o que fazes aqui?

Magda respirou fundo. O percurso desde a porta até ele parecera-lhe eterno e estava consciente dos murmúrios e comentários que criava pelo caminho, entre os quais supunha que não se diria nada de bom depois da maneira humilhante como o seu pai as expulsara há oito anos.

Nic esboçou um sorriso cínico.

– Aceita as minhas condolências pela morte do teu pai.

Magda sentiu uma onda de indignação.

– Ambos sabemos que não te importa – disse, num sussurro, para evitar ser ouvida por outros.

Nicolas cruzou os braços, o que lhe deu um aspeto ainda mais imponente, e ela sentiu um formigueiro nas costas nuas. Tinha os punhos cerrados.

Ele encolheu os ombros.

– Mentiria se dissesse o contrário, mas eu gosto de ser educado.

Magda corou. Lera há muito tempo que o seu pai morrera. Ambos eram os sucessores de duas famílias que teriam dançado de alegria sobre as sepulturas dos seus correspondentes falecidos, mas ela não era capaz de se alegrar com a morte de ninguém, embora fosse um inimigo.

– Eu lamento a morte do teu – disse, incomodada, mas com sinceridade.

Nicolas arqueou uma sobrancelha e perguntou:

– Também inclui a minha mãe, que se suicidou quando o teu pai lhe disse que a tua mãe e o meu pai eram amantes há anos?

Magda empalideceu ao descobrir que Nic sabia e viu na tensão das suas feições e no seu olhar a raiva que escondia por trás daquela máscara de boa educação. Abanou a cabeça. Não sabia nem que o seu pai lhe contara, nem que a mãe de Nicolas se suicidara.

– Não tinha...

Nic parou-a com um gesto da mão.

– Não, claro. Estavas muito ocupada a gastar a fortuna familiar e a percorrer a Europa com a tua mãe esbanjadora.

Magda engoliu em seco. Tinha acreditado que poderia entrar, dizer o que queria e ir-se embora. Mas a antiga disputa familiar continuava viva e crepitante entre eles, juntamente com algo mais em que Magda não queria pensar.

Subitamente, Nic olhou à sua volta, deixou escapar um gemido e, segurando-a pelo braço, conduziu-a até um canto discreto. Lá, abandonou todo o vestígio de contenção e mostrou um rosto sombrio e irado. Magda soltou-se e esfregou o braço.

– Como te atreves a tratar-me como se fosse uma criança?

– Perguntei-te o que fazes aqui, Vázquez. Não és bem-vinda.

A sua arrogância indignou Magda. Dando um passo em frente, disse:

– Para tua informação, tenho tanto direito como tu de estar aqui. Vim para te dizer que nem o meu pai cedeu face à tua pressão para vender as suas terras, nem eu o farei.

Nicolas olhou para ela com desprezo.

– Só te resta uma porção de terreno ermo. Nele não se produz vinho há anos.

Magda escondeu a dor de saber que o seu pai abandonara a terra.

– Tu e o teu pai ocuparam-se de o tirar do mercado até não conseguir competir.

Nicolas cerrou os dentes.

– O mesmo que sofremos várias vezes. Eu adoraria dizer-te que nos dedicamos a conspirar para vos destruir, mas se os vinhos Vázquez deixaram de se vender, foi porque eram de qualidade inferior. Não precisaram da nossa ajuda.

A verdade que continham aquelas palavras esbofeteou Magda, que deu um passo atrás, mais pelo temor que despertava nela o efeito que tinha no seu corpo do que pela ferocidade das suas palavras. Não pôde apagar uma imagem dos tempos em que se apertava tanto contra ele que podia sentir a prova de quanto o excitava. Era embriagador, apaixonante. Tinha-o desejado tanto que estivera disposta a...

– Finalmente, encontro-te!

– Agora não, Estela – disse ele, com firmeza.

Magda agradeceu a interrupção e olhou para a bonita loira que vira entrar no hotel com Nic. Tentou ir-se embora, mas ele parou-a.

– Estela, espera por mim na mesa – disse, bruscamente.

A mulher olhou para eles alternadamente com os olhos esbugalhados e afastou-se.

Magda abanou o braço para que a soltasse, ainda emocionada com a lembrança. Sentiu que o vestido lhe deslizava de um ombro e viu uma labareda nos olhos azuis de Nicolas. Falou precipitadamente, dizendo-se que se enganava, que não tinha o poder de o perturbar:

– Vim para te dizer que voltei e que não tenciono vender a propriedade dos Vázquez. Preferia queimá-la. E, para o caso de te interessar, tenciono devolvê-la à sua glória.

Nicolas ergueu-se antes de deitar a cabeça para trás e deixar escapar uma gargalhada.

Quando voltou a olhar para Magda, esta sentiu um calor ardente no corpo.

Nic abanou a cabeça.

– Deves ter feito uma grande interpretação para conseguir que o teu pai ta deixasse em herança. Pensava que teria preferido deixar tudo a um cão.

Magda cerrou os punhos, sentindo um golpe de dor ao recordar como o seu pai estivera zangado, e com razão.

– Não sabes do que estás a falar – disse.

Nicolas continuou como se não a tivesse ouvido.

– É bem sabido que o teu pai não era importante quando morreu. O empresário suíço com quem a tua mãe se casou vai financiar-te este capricho? – cerrou os dentes. – Ou conseguiste um marido rico? Encontraste um em Londres? Da última vez que te vi, estavas no lugar apropriado.

Magda enfureceu-se.

– Não, a minha mãe não vai financiar nada. E eu não tenho um marido rico, nem um namorado, nem um amante, embora não seja da tua incumbência.

Nicolas olhou para ela com ironia.

– Queres dizer que a princesa Vázquez vai recuperar um vinhedo arruinado sem nenhuma ajuda? É o teu novo passatempo, agora que se acabaram as festas de Cannes?

Magda sentiu que a invadia a raiva. Nicolas não tinha ideia de quanto se esforçara para demonstrar ao seu pai que podia ser tão boa como um homem, tão capaz como o seu falecido irmão. Mas já não teria a oportunidade de o conseguir porque o seu pai tinha morrido. E não estava disposta a perder o seu legado. Tinha de demonstrar que conseguia fazê-lo. Não consentiria que outro homem se interpusesse no seu caminho, tal como fizera o seu pai.

– Isso é exatamente o que vou fazer, Rojas – disse, acaloradamente. – Não esperes ver um cartaz a dizer «vende-se».

Enquanto ela recuava, desejando não ter de lhe mostrar as suas costas nuas, ele disse com frieza:

– Dou-te duas semanas antes de vires ter comigo a suplicar. Nunca trabalhaste no vinhedo. Há anos que a adega Vázquez não produz um bom vinho e o teu pai piorou as coisas ao vender a um preço muito elevado. Faças o que fizeres, fracassarás. Eu próprio me certificarei disso.

Magda sentiu um dardo a cravar-se no peito, Nicolas sabia que não trabalhara no vinhedo porque ela lho dissera. Era uma informação íntima que ele se permitia usar contra ela.

– Portanto, como vês – disse ele, dando um passo em frente, – é apenas uma questão de tempo até a tua propriedade fazer parte da nossa. Não prolongues a tua agonia. Pensa nisso, poderias estar em Londres na semana que vem, num desfile de modas, com dinheiro suficiente para comprares o que quisesses. Farei com que não tenhas motivos para voltar.

Magda abanou a cabeça ao mesmo tempo que tentava ignorar a sensação de estar a um passo do abismo. O grau de hostilidade que Nicolas mostrava assustava-a.

– Este é o meu lar tanto como o teu. E se quiseres expulsar-me, terá de ser morta – recuou mais uns passos antes de acrescentar: – Não te aproximes da minha propriedade, Rojas. Não serás bem-vindo.

Ele sorriu com sarcasmo.

– Estou impressionado, Vázquez. Eu gostarei de ver até quando resistes.

Magda desviou finalmente o olhar dele e, virando-se, dirigiu-se para a porta com toda a dignidade que conseguiu. Só quando chegou ao todo-o-terreno velho do seu pai e se sentou atrás do volante, é que baixou a guarda e percebeu o tremor que percorria o seu corpo.

O mais espantoso era que Nic tinha razão e que a tarefa estava destinada ao fracasso. Mas isso não impediria que tentasse. Demorara anos a reconciliar-se com o seu pai. Se lhe tivesse telefonado antes, ela teria vindo há anos porque, desde que se lembrava, sempre quisera trabalhar no vinhedo.

Quando recebera a carta sentida do seu pai doente em que manifestava o seu arrependimento, Magda não hesitara nem um minuto em voltar e salvar a terra. A relação entre eles nunca fora fácil. Ele nunca escondera que teria preferido um filho e que o lugar de uma mulher era na casa e não no negócio da viticultura. Mas no seu leito de morte, compensara-a por toda uma vida de desatenção. Magda rezara para chegar antes de ele morrer, mas o seu pai falecera enquanto ela voava para Buenos Aires. O advogado da família recebera-a com a notícia e ela tinha ido diretamente para o enterro.

Nem sequer tivera a oportunidade de entrar em contacto com a sua mãe, que estava num cruzeiro com o seu quarto marido, dez anos mais novo do que ela.

Mas nunca se sentira tão só como naquele instante, depois de enfrentar a animosidade de Nicolas e uma tarefa que, quisesse ou não reconhecê-lo, era descomunal.

Segundo se dizia, os antepassados de Nic e dela eram dois amigos espanhóis que tinham emigrado juntos para a Argentina e que, depois de se instalarem, tinham decidido plantar um vinhedo. Mas em algum momento surgira um problema entre eles em que uma mulher tinha um papel importante. Falava-se de um romance truncado, de uma traição amarga. Como vingança, o antepassado de Magda jurara arruinar os Rojas e, para isso, tinha fundado os Vinhedos Vázquez na propriedade do lado.

Os seus vinhos tinham adquirido uma fama inesperada em prejuízo dos Rojas e a rivalidade tinha aumentado. A violência entre as duas famílias rebentara regularmente e até um membro da família Rojas fora assassinado, embora nunca tivessem podido provar que o assassino fora um Vázquez.

Ao longo dos anos, houvera diversas reviravoltas na fortuna de um vinhedo e de outro e, quando Magda nascera, estavam muito próximos. A velha hostilidade entre ambas as famílias alcançara uma trégua, mas apesar da calma aparente, Magda crescera sabendo que, se dirigisse a sua atenção aos Vinhedos de Rojas, seria castigada.

Ao recordar o desprezo com que Nic lhe chamara «princesa», corou. Naquela época, só se tinham encontrado em atos sociais em que outros convidados se esforçavam para que as famílias não encontrassem.

A sua mãe aproveitara essas ocasiões para apresentar a sua filha à última moda, forçando Magda, de gostos simples e com afeição à leitura, a aparentar ser a filha interessada na moda que ela teria querido ter. A sua bonita mãe quisera uma cúmplice, não uma filha.

Magda sentira-se tão incomodada naquelas situações que fizera o possível para passar desapercebida, ao mesmo tempo que estava consciente da atração perigosa que Nicolas Cristobal de Rojas exercia sobre ela, seis anos mais velho do que ela e de uma arrogância e virilidade inegáveis, mesmo em plena adolescência. A tensão e a distância entre ambas as famílias só tinha contribuído para o tornar mais fascinante e misterioso.

Assim que fizera doze anos, a sua família enviara-a para um internato inglês, de que unicamente voltava durante as férias. Ela vivia só para essas férias e deixava que a sua mãe a passeasse como uma boneca só para poder ver Nic nos jogos de polo ou nas festas a que assistiam ambas as famílias. Às vezes, observava-o da janela do seu quarto, a inspecionar os vinhedos a cavalo, e via-o como um deus loiro, forte e poderoso.

Sempre que o vira em público, estava rodeado de raparigas. Ao recordar a loira que o acompanhava naquela noite, deduziu que nada mudara nesse aspeto...

Há oito anos, a paz instável que se estabelecera rebentara e Magda descobrira a verdadeira intensidade do ódio que havia entre as duas famílias. O facto de, por uns dias, ter conseguido fazer com que Nicolas mudasse a opinião que tinha dela, deixara de ter importância porque uma vida de publicidade era mais poderosa do que uma semana de intimidade alimentada pela luxúria.

Magda abanou a cabeça e pôs o motor a trabalhar com dedos trémulos. Tinha gasolina suficiente para chegar a Villarosa, a uns vinte quilómetros de Mendoza. Não duvidava que Nic teria reservado uma suíte no hotel, até onde o acompanharia a sua amiga loira e esbelta. Pelo contrário, ela tinha uma casa em ruínas para onde voltar, onde a companhia elétrica cortara o fornecimento por falta de pagamento e onde, tanto ela como os escassos e leais membros que restavam dos empregados, dependiam de um gerador.

Enquanto acelerava, Magda imaginou os antepassados da família Rojas a rir-se da sua situação patética.