cover.jpg
portadilla.jpg

 

 

Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Michelle Celmer

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Proibido apaixonar-se, n.º 1178 - Fevereiro 2014

Título original: Princess in the Making

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises

Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-4997-6

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo Um

 

Do avião, a costa de Varieo, com o seu mar azul e as suas praias de areia branca, parecia o paraíso.

Em vinte e quatro anos, Vanessa Reynolds vivera em mais continentes e em mais cidades do que a maioria das pessoas visitava durante toda a vida. Era normal, sendo filha de um militar. Mas esperava que aquele pequeno principado da costa mediterrânea se transformasse no seu lar para sempre.

– Já chegámos, Mia – sussurrou à filha, de seis meses, que depois de passar a maior parte da longuíssima viagem entre sonhos inquietos e gritos de pavor, sucumbira finalmente ao cansaço e dormia placidamente na cadeira.

O avião desceu, por fim, para a pista privada onde iriam ser recebidas por Gabriel, o seu... Parecia um pouco ridículo chamar-lhe namorado, tendo em conta que tinha cinquenta e seis anos, mas também não era exatamente o seu noivo. Pelo menos para já. Quando lhe perguntou se queria casar com ele, ela não dissera que sim, mas também não dissera que não. Era isso que aquela visita devia determinar, se queria casar com um homem que não só era trinta e dois anos mais velho do que ela e vivia no outro lado do mundo como, para além disso, era rei.

Olhou pela janela e, à medida que se aproximavam, ficava cada vez mais nervosa.

«Vanessa, no que é que te foste meter desta vez?»

O seu pai dir-lhe-ia que estava a cometer outro grande erro. A melhor amiga, Jessy, também questionara a sua decisão.

Vanessa sabia perfeitamente que estava a correr um risco. Aquele tipo de risco já lhe tinha corrido mal outras vezes, mas Gabriel era um autêntico cavalheiro e preocupava-se realmente com ela. Ele nunca lhe roubaria o carro e muito menos a deixaria abandonada num café no meio do deserto do Arizona. Nunca pediria um cartão de crédito em seu nome e estouraria o plafond num abrir e fechar de olhos. Não fingiria que sentia algo por ela só para que lhe escrevesse o trabalho de final de curso e depois trocá-la-ia por uma animadora. E, claro, nunca iria desaparecer depois de deixá-la grávida e sozinha.

As rodas do avião tocaram na pista e Vanessa sentiu que o coração lhe subia à garganta. Sentia-se nervosa, impaciente, aliviada e, pelo menos, mais uma dúzia de emoções.

O avião percorria a pista a caminho do pequeno terminal privado, propriedade da família real.

Gabriel não a via como uma esposa para exibir. Tinham-se tornado bons amigos, confidentes. Ele amava-a e ela não tinha a menor dúvida de que ele era um homem de palavra. Havia apenas um pequeno problema: embora o respeitasse profundamente e gostasse muito dele como amigo, não podia dizer que estava apaixonada por ele. Gabriel sabia disso, mas tinha a certeza de que, com o tempo, no final das seis semanas que ia durar aquela visita, Vanessa acabaria por amá-lo. Não tinha qualquer dúvida de que juntos seriam felizes para sempre e não era um homem que assumisse o casamento de ânimo leve.

Estivera casado durante três décadas com a primeira mulher e, segundo dizia, teriam continuado juntos outras três se um cancro não lha tivesse levado há oito meses.

Assim que o avião parou, Vanessa ligou o telemóvel e enviou uma mensagem a Jessy para que soubesse que tinham chegado bem. Depois, desapertou os cintos de segurança da cadeira que Gabriel comprara para Mia e abraçou-a com força, mergulhando no seu doce aroma de bebé.

– Já chegámos, Mia. A nossa nova vida começa aqui.

Segundo o pai, Vanessa transformara o hábito de cometer erros e tomar decisões erradas numa espécie de arte, mas agora tudo era diferente. Ela estava diferente e tudo graças à filha. Fora duro enfrentar oito meses de gravidez sozinha, para mais aterrorizada com a ideia de trazer ao mundo alguém que ia depender completamente dela. Houve momentos em que não tinha a certeza se iria conseguir ou se estava preparada para tal responsabilidade. Mas, assim que viu Mia e a segurou nos braços, após vinte e seis horas de trabalho de parto, apaixonou-se loucamente. Pela primeira vez na vida, Vanessa sentira que tinha uma missão: devia cuidar da filha e proporcionar-lhe uma existência feliz. Essa era agora a sua prioridade máxima.

O seu maior desejo era que Mia tivesse um lar estável, com um pai e uma mãe, e ao casar com Gabriel poderia garantir à filha oportunidades com as quais ela jamais teria sonhado. Não era motivo mais do que suficiente para casar com um homem que não... não a deixava louca? Não eram mais importante o respeito e a amizade?

Ao olhar pela janela, viu uma limusina que acabava de parar a cerca de cem metros do avião.

Gabriel, pensou com uma mistura de alívio e emoção. Fora recebê-la tal como lhe tinha prometido.

Pegou na mala e em Mia e a assistente de bordo encarregou-se de tudo o resto.

Ali estava, pronta para começar uma nova vida. Outra vez.

O piloto abriu a porta do avião, deixando entrar uma baforada de ar quente carregada com cheiro de mar.

Saiu do avião, o sol da manhã brilhava com força e o asfalto libertava um calor asfixiante.

A porta da limusina abriu-se e a pulsação de Vanessa acelerou ao ver surgir um sapato caríssimo, seguramente italiano. Conteve a respiração até ver o proprietário do dito calçado... expirando depois com profunda deceção. Aquele homem tinha os mesmos traços marcados, o mesmo olhar profundo e expressivo de Gabriel, mas não era Gabriel.

Mesmo que não tivesse lido muitas coisas sobre o país, saberia instintivamente que o belíssimo cavalheiro que naquele momento se dirigia para ela era o príncipe Marcus Salvatora, o filho de Gabriel. Era igual às fotografias que vira dele: sobriamente intenso e demasiado sério para ter apenas vinte e oito anos. Vestido com umas calças cinzentas e uma camisa branca, que lhe realçava o tom bronzeado da pele e o negro do cabelo ondulado, parecia mais um modelo do que um herdeiro ao trono.

Vanessa olhou para o interior do veículo com a esperança de ver mais alguém, mas estava vazio. Gabriel prometera que a iria buscar, mas não cumpriu a promessa.

Ficou com os olhos rasos de água. Precisava de Gabriel. Ele tinha uma estranha capacidade de lhe transmitir confiança e a garantia de que tudo iria correr bem.

«Nunca te mostres fraca.» Era o conselho que o seu pai mais lhe repetira desde que se lembrava de ser gente. Por isso, respirou fundo, endireitou os ombros e saudou o príncipe com um sorriso nos lábios e uma inclinação de cabeça.

– Menina Reynolds – disse ele, enquanto lhe estendia a mão para a cumprimentar.

Vanessa mudou Mia, que soluçava suavemente, para o outro braço para poder apertar a mão a Marcus.

– Alteza, é um prazer finalmente conhecê-lo – disse. – Ouvi falar muito de si.

Marcus apertou-lhe a mão com firmeza e olhou-a fixamente nos olhos. Fixou-a durante tanto tempo e com tal intensidade, que Vanessa começou a perguntar-se se pretendia desafiá-la para um duelo ou algo parecido. Teve que resistir ao impulso de retirar a mão enquanto começava a suar debaixo da blusa. Quando, por fim, ele lhe soltou a mão, Vanessa sentiu um estranho formigueiro na pele onde ele lhe tocara.

«É o calor», pensou. Como podia ter aquele aspeto tão limpo e fresco enquanto ela se sentia a derreter?

– O meu pai pede as suas mais sinceras desculpas – informou-a, com uma voz profunda e suave muito parecida com a do pai. – Teve que sair do país inesperadamente. Por um assunto familiar.

Sair do país? Sentiu que lhe caía tudo aos pés.

– Disse quando é que volta?

– Não, mas pediu-me para lhe dizer que iria ligar.

Como é que pudera deixá-la sozinha num palácio cheio de desconhecidos? Sentia um nó na garganta e uma tremenda vontade de chorar.

Se tivesse fraldas e leite suficientes para fazer a viagem de regresso aos Estados Unidos, seguramente teria ponderado a possibilidade de voltar a entrar no avião e regressar a casa.

Mia começou a chorar e Marcus arqueou uma sobrancelha.

– Esta é a Mia, a minha filha.

Ao ouvir o seu nome, a pequena levantou a cabeça do ombro de Vanessa e olhou para Marcus com uns enormes olhos azuis cheios de curiosidade, e o cabelo loiro colado às bochechas por causa das lágrimas. Normalmente, tinha bastante receio de desconhecidos, pelo que Vanessa se preparou para os gritos. Porém, em vez de começar novamente a chorar, Mia dirigiu a Marcus um enorme sorriso, deixando ver os seus dois únicos dentes, com o qual teria derretido o coração mais impassível. Talvez por se parecer tanto a Gabriel, que Mia adorava, a criança confiava nele instintivamente.

Como se fosse algo contagioso, Marcus não conseguiu resistir e sorriu-lhe também. Vanessa sentiu aquela vertigem agradável que uma mulher sente quando está atraída por alguém. Algo que, logicamente, a horrorizou e que a fez sentir-se culpada. Que tipo de depravada era para se sentir atraída pelo futuro enteado?

Devia estar mais cansada do que imaginava porque era óbvio que não estava a pensar com clareza.

Ao voltar a olhar para ela, Marcus parou de sorrir.

– Vamos?

Vanessa assentiu enquanto assegurava a si mesma que tudo iria correr bem. Mas, ao entrar na limusina, começou a questionar-se se não estaria a meter-se numa situação sobre a qual não teria qualquer controlo.

 

 

Era ainda pior do que imaginara.

Sentado à sua frente, Marcus observou a sua rival, a mulher que conseguira cativar o pai apenas oito semanas depois da morte da rainha.

Ao início, quando o pai lhe contou, Marcus pensara que tinha perdido a cabeça. Era demasiado jovem e mal a conhecia. Mas agora, ao vê-la pessoalmente, as dúvidas sobre os motivos pelos quais o rei estava tão fascinado com ela tinham desaparecido. Tinha o cabelo louro natural, a silhueta de uma modelo e um rosto que poderia ter inspirado Leonardo da Vinci ou Tiziano.

Ao vê-la sair do avião, com o olhar confuso e um bebé contra o peito, tivera esperança de que tivesse o cérebro tão vazio como algumas daquelas louras que apareciam nos reality shows americanos. Mas quando a olhou nos olhos, viu a inquestionável inteligência que havia nela. Inteligência e um certo desespero.

Tinha um aspeto tão desalinhado e exausto que, com muita pena sua, foi incapaz de não sentir pena dela. Mas isso não mudava o facto de ela ser o inimigo.

A criança continuou a soluçar na sua cadeira e depois soltou um grito tão agudo que lhe provou uma ligeira dor nos seus ouvidos.

– Calma, meu amor – disse-lhe, segurando na mãozinha da filha e olhando depois para Marcus. – Lamento. Normalmente é muito tranquila.

Sempre gostara de crianças. Um dia teria filhos já que, como único herdeiro, tinha a responsabilidade de perpetuar o legado da família Salvatora.

Claro que isso poderia mudar. Com uma mulher tão jovem, o seu pai poderia ter mais filhos.

Essa ideia, de o pai ter filhos com outra mulher, era como um murro no estômago.

A menina Reynolds baixou-se para tirar de um saco um biberão com algo que parecia sumo e deu-o à filha. A pequena meteu-o na boca, chupou-o por alguns segundos, depois fez beicinho e atirou-o para o chão, atingindo Marcus no pé.

– Lamento – voltou a desculpar-se, enquanto a filha começava a chorar de novo.

Ele pegou no biberão e deu-lho.

Depois tirou um brinquedo para tentar entretê-la, mas após olhar para ele por uns instantes, a criança atirou-o também e desta vez atingiu Marcus na perna. Também não funcionou um segundo brinquedo.

– Lamento – repetiu ela.

Marcus deu-lhe os dois brinquedos e depois permaneceram em silêncio durante alguns incómodos minutos, até que ela lhe disse:

– É sempre assim tão falador?

Não tinha nada para dizer àquela mulher, mas mesmo que tivesse, por causa da criança, teria que gritar para se conseguir fazer ouvir.

Ao ver que ele não respondia, ela continuou a falar com evidente nervosismo.

– Não imagina como estava ansiosa para chegar e poder conhecê-lo. O Gabriel falou-me imenso de si e de Varieo.

Marcus não partilhava o mesmo entusiasmo e não tencionava fingir o contrário. Também não acreditava que ela estivesse a ser sincera. Não era preciso ser um génio para perceber a razão por que estava ali, que o que a atraíra no pai dele era o dinheiro e a posição social.

Tentou novamente calar Mia com o biberão e, desta vez, a criança agarrou-o, bebeu durante um momento e, então, os seus olhos começaram a fechar-se.

– Não dormiu bem durante o voo – explicou, como se ele se importasse. – Além disso, tudo isto é novo para ela. Calculo que precisará de algum tempo para se habituar a viver noutro lugar.

– O pai da criança não colocou nenhuma objeção a que ela viesse para outro país? – não conseguiu evitar a pergunta.

– O pai dela deixou-me quando descobriu que eu estava grávida e não sei nada dele desde essa altura.

– É divorciada?

Ela abanou a cabeça.

– Não éramos casados.

Fantástico. Outro ponto negativo contra ela. Como se o divórcio não fosse suficientemente mau, o pai procurara uma mulher que tivera uma filha sem estar casada. Onde raio teria a cabeça? Pensaria realmente que Marcus aprovaria a entrada na família de alguém com aquele historial?

A desaprovação deve ter-se refletido no seu rosto porque Vanessa olhou-o nos olhos e disse-lhe:

– Alteza, eu não me envergonho do meu passado. Embora as circunstâncias possam não ter sido as ideais, a Mia é a melhor coisa que alguma vez me aconteceu e, por isso não me arrependo de nada.

Não tinha papas na língua. Talvez não fosse a melhor característica para uma futura rainha, embora a sua mãe sempre tivesse sido famosa por não hesitar em dizer a sua opinião, uma postura que muitas jovens mulheres do país tinham aprendido. No entanto, existia uma clara diferença entre ter princípios e ser irresponsável. Além do mais, sentia um nó no estômago só de pensar que aquela mulher pudesse pensar que estaria à altura da falecida rainha ou que pensasse que a iria substituir.

Só esperava que o pai recuperasse o bom senso antes que fosse tarde demais, antes que caísse no ridículo de casar com ela. Por muito que desejasse lavar as mãos e ignorar tudo aquilo, prometera ao pai que iria recebê-la e que a ajudaria a instalar-se. E ele era um homem de palavra. Para ele, a honra não era apenas uma virtude, era uma obrigação. Fora isso que a mãe lhe ensinara. Apesar de tudo ter um limite.

– O seu passado – começou a dizer-lhe, – é algo que só diz respeito a si e ao meu pai.

– Mas é óbvio que já formou uma opinião a esse respeito. Talvez devesse tentar conhecer-me melhor antes de me julgar.

Marcus inclinou-se para a frente e olhou-a nos olhos, para que não tivesse a menor dúvida sobre a sua sinceridade.

– Não tenho intenção de perder tempo.

Ela nem sequer pestanejou. Enfrentou o olhar dele com um fogo nos olhos que dava a entender que não se ia deixar intimidar, e ele sentiu... algo. Uma emoção entre o ódio e o desejo. O que o horrorizou foi o desejo, que foi como uma bofetada de luva branca.

E, então, Vanessa teve a audácia de sorrir, algo que o enfureceu e o fascinou ao mesmo tempo.

– Muito bem – disse ela encolhendo os ombros.

A atitude mostrava que ou não acreditava nele ou era-lhe indiferente o que ele achava.

Para ele, era indiferente qual fosse. Toleraria a presença dela por respeito ao pai, mas jamais a aceitaria.

Com um desconforto que não estava habituado a sentir, pegou no telemóvel como se ela não estivesse ali. Pela primeira vez desde a morte da mãe, o pai parecia realmente feliz e isso era algo que Marcus nunca iria querer negar-lhe. Mas apenas porque achava que aquilo não ia durar.

Com um pouco de sorte, o pai abriria os olhos e enviá-la-ia de regresso para o sítio de onde viera antes que fosse demasiado tarde.