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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Sandra Marton

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

O príncipe de gelo, n.º 29 - Maio 2014

Título original: The Ice Prince

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5151-1

Editor responsable: Luis Pugni

 

Conversión ebook: MT Color & Diseño

Índice

 

Portadilla

Créditos

Índice

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Volta

Capítulo 1

 

A primeira vez que reparou nela foi na zona VIP da Air Italy.

Que reparou nela? Mais tarde, isso parecer—lhe-ia uma piada de mau gosto. Como poderia não ter reparado nela?

A verdade era que tinha irrompido na sua vida com a subtileza de uma chuva de petardos. A única diferença? Os petardos teriam sido menos perigosos.

Draco estava sentado numa poltrona de couro perto das janelas, fingindo que lia um documento no seu computador portátil, quando na verdade estava muito cansado pela falta de sono e pelo jet lag, e demasiado dorido para ler.

E, caso isso fosse pouco, tinha também uma terrível dor de cabeça.

Seis horas do Maui a Los Angeles. Duas horas de escala lá e mais seis horas até Nova Iorque. E as duas horas seguintes de escala estavam a converter-se em três.

Ninguém teria gostado de uma viagem tão longa, mas para ele, que estava habituado a viajar no seu luxuoso 737 privado, aquilo estava a ser uma tortura.

Mas não tivera opção, dadas as circunstâncias.

O seu avião estava na manutenção e tinham-no avisado com tão pouca antecedência de que devia voltar para Roma, que não tivera tempo de se organizar de outra maneira.

Nem sequer Draco Valenti, o príncipe Draco Marcellus Valenti, porque tinha a certeza de que a sua eficiente secretária tinha tentado utilizar o seu título para lhe tornar a viagem mais suportável, conseguira alugar um avião para fazer um voo intercontinental com tão pouco tempo de antecedência.

Portanto, tivera de viajar do Maui para Los Angeles num estreito banco central, entre um homem que tinha passado todo o voo a ressonar e uma mulher de meia-idade que lhe tinha contado a vida toda.

O voo até ao aeroporto Kennedy fora mais agradável, já que tinha conseguido um lugar na primeira classe, embora a pessoa que lhe calhara ao lado também tivesse vontade de conversar, apesar de Draco ter guardado silêncio.

E já só faltava um último voo para chegar a casa. Para aquele tinha conseguido dois lugares na primeira classe: um para ele e o outro para se assegurar de que faria a viagem sozinho.

Naquele momento, estava na sala VIP, onde tinha pretendido descansar um pouco, acalmar-se, antes do confronto que o esperava.

Não ia ser fácil, mas não ganharia nada perdendo o controlo. Se a vida lhe tinha ensinado alguma lição era aquela. Portanto, estava em silêncio, tentando controlar a raiva, quando a porta da sala se abriu com tanta força que bateu contra a parede.

E ele sentiu mais uma pontada na cabeça. Justamente o que necessitava...

Levantou o olhar.

E viu-a.

Desagradou-lhe de imediato.

Era atraente. Alta. Magra. Loira, mas isso não era a única coisa que importava.

Usava um fato cinzento-escuro. Armani ou alguma marca parecida. E tinha o cabelo apanhado numa trança. Num ombro tinha uma mala pequena e no outro, uma pasta muito cheia.

E, depois, havia os sapatos. Pretos. Demasiado práticos, salvo pelos saltos muito altos.

Draco franziu o sobrolho.

Já vira aquele conjunto em inúmeras ocasiões. O penteado severo. O fato formal. E os sapatos de salto alto. Era um aspeto de que gostavam as mulheres que queriam as vantagens de ser mulher, mas que exigiam ser tratadas como homens.

Típico...

E Draco não se importava de estar a pensar de forma sexista.

Viu que a mulher percorria a sala com o olhar. Era tarde, portanto, só havia três pessoas. Um casal idoso sentado num sofá pequeno e ele. A mulher olhou para o casal e em seguida para ele.

Ele devolveu-lhe o olhar. Uma expressão indecifrável sulcou o seu rosto. Um rosto bonito, teve de admitir Draco. Os olhos grandes. As maçãs do rosto marcadas. A boca generosa e um queixo decidido. Esperou. Tinha a sensação de que ela ia dizer algo... Mas viu-a a desviar o olhar e pensou: «Bene».

Não estava com humor para dar conversa a ninguém. Só estava com humor para estar sozinho, para voltar para Roma e resolver o problema que o ameaçava lá. Portanto, voltou a concentrar a atenção no seu computador e ouviu que a mulher se aproximava do balcão de informação, que naquele momento estava vazio.

– Olá? – chamou com impaciência. – Olá? Há alguém?

Draco levantou a cabeça. Fantástico... Não só era uma mulher impaciente, como também irritável e estava a olhar por cima do balcão como se pensasse que havia alguém escondido lá atrás.

– Bolas... – disse a mulher.

E Draco apertou os lábios com desprezo.

Era impaciente, irritável e americana. Pelo seu sotaque, pela sua atitude altiva. Ele lidava com americanos com frequência, já que a sede da empresa era em São Francisco e, embora admirasse a franqueza dos homens, não gostava nada da falta de feminilidade de algumas mulheres.

Costumavam ser bonitas, sim, mas gostava de mulheres carinhosas. Suaves. Cem por cento mulheres. Como a amante que tinha naquele momento.

«Draco...», tinha-lhe sussurrado ela na noite anterior ao entrar com ele no duche da casa que arrendara no Maui para fazerem amor lá. «Oh, Draco, adoro homens dominantes...»

Ninguém poderia dominar a mulher que estava à espera diante do balcão, a bater com o salto de um sapato contra o chão. Que homem seria louco ao ponto de o tentar?

Como se lhe tivesse lido o pensamento, a mulher virou-se e voltou a percorrer a sala com o olhar.

Pousou-o nele.

Foram só alguns segundos, mas olhou para ele com tanta intensidade que Draco sentiu curiosidade.

– Lamento tê-la feito esperar – disse uma voz ofegante. Era a assistente de terra, que acabava de chegar a toda a pressa. – No que posso ajudá-la? – acrescentou.

A mulher virou-se para ela.

– Tenho um problema muito grave – ouviu-a a dizer antes de baixar a voz.

Ele suspirou e baixou o olhar para o seu computador. O facto de ter reagido àquela mulher, nem que fosse só por um segundo, demonstrava como estava cansado.

E tinha de recuperar antes de chegar a Roma.

Estava habituado a situações difíceis, de facto, gostava de as resolver, mas aquela ameaçava converter-se num escândalo público e isso não lhe agradava. Não queria publicidade, nem a procurava.

Tinha erguido um império financeiro das ruínas do que o seu pai, o seu avô e os seus inúmeros antepassados lhe tinham deixado e que estivera prestes a desaparecer em várias ocasiões ao longo dos últimos quinhentos anos.

E fizera-o sozinho.

Sem acionistas. Nem estranhos. Sozinho.

Essa era a grande lição de vida numero due. Só os tolos confiavam nos outros.

Por isso, partira do Maui a meio da noite, assim que a sua secretária lhe telefonara.

Draco tinha-o ouvido. Em seguida, praguejara, levantara-se da cama e saíra do quarto em direção à praia.

– Manda-me a carta por faxe – dissera. – E tudo o que houver nessa maldita pasta.

E a sua secretária tinha-lhe obedecido. Vestido com uns calções e uma t-shirt, Draco estivera a ler tudo até que a luz rosada do amanhecer começara a refletir-se no mar.

E então soubera o que tinha de fazer. Abandonar a brisa fresca do Havai para ir sofrer o calor de Roma no verão e enfrentar o representante de um homem que tinha um modo de vida que ele desprezava.

O pior de tudo era que pensara que tinha resolvido o assunto semanas antes. Aquela carta inicial de um tal Cesare Orsini. Outra, quando tinha ignorado aquela, seguida de uma terceira, que o fizera falar com um dos seus assistentes.

– Quero que descubras tudo o que for possível a respeito de um americano chamado Cesare Orsini – tinha-lhe ordenado.

Cesare Orsini tinha nascido na Sicília e tinha emigrado para os Estados Unidos há cinquenta anos com a sua esposa, e tinha-se tornado cidadão americano.

E tinha compensado a generosidade da sua terra adotiva convertendo-se num valentão, num gângster com dinheiro e músculos, e naquele momento tinha a determinação de obter algo que pertencia há séculos à Casa Valenti e a ele próprio, o príncipe Draco Marcellus Valenti da Sicília e de Roma. O ridículo título.

Draco não costumava utilizá-lo, nem sequer se lembrava dele. Embora o tivesse utilizado para responder às missivas daquele americano e pedir-lhe com tom formal, mas claro, que o deixasse em paz.

E o homem tinha contra-atacado com uma ameaça.

Não uma ameaça física. Que pena...

Mas uma ameaça muito mais engenhosa:

 

Enviarei um representante para que se reúna consigo, Sua Alteza. Caso não consigam chegar a um acordo, ver-me-ei obrigado a levar a nossa disputa a tribunal.

 

Queria processá-lo? Aquele homem queria apresentar publicamente uma reivindicação que não tinha sentido?

Em teoria, nem sequer podia fazê-lo. Orsini não tinha nada a exigir, mas na sua Sicília natal as velhas rixas nunca se resolviam.

E os meios de comunicação converteriam aquilo num circo internacional...

– Desculpe.

Draco pestanejou. Levantou o olhar. A mulher americana e a assistente de terra estavam ao seu lado.

– Senhor – disse a assistente. – Lamento imenso, mas a senhora...

– Tem uma coisa de que preciso – disse a outra mulher, com voz rouca.

– Sim?

Ela ruborizou-se.

– Sim, tem dois bilhetes para o voo 630 para Roma. Dois bilhetes em primeira classe.

Draco franziu o sobrolho. Fechou o computador e levantou-se lentamente. A mulher era alta, sobretudo com aqueles saltos ridículos, mas ele superava-a. Gostou que tivesse de levantar a cabeça para olhar para ele.

– E?

– Necessito de um!

Draco esperou alguns segundos. Em seguida, olhou para a assistente de terra.

– É habitual na sua companhia partilhar informação sobre os passageiros com qualquer um que a peça?

A rapariga ruborizou-se.

– Não, senhor. É óbvio que não. Nem sequer sei... como a senhora soube que o senhor...

– Estava a fazer o check-in, a pedir que me mudassem para a primeira classe, quando a assistente me disse que não havia lugares livres e que você, que estava a ir-se embora naquele momento, levara os últimos dois. Perguntei-lhe com quem viajava e a assistente disse-me que sozinho, portanto, segui-o até aqui e...

Draco levantou a mão para a calar.

– Deixe-me ver se entendi bem... – disse-lhe com naturalidade. – Chateou a assistente para que lhe desse a informação...

– Eu não chateei ninguém. Só lhe perguntei...

– E voltou a chatear esta menina.

– Não chateei ninguém! Só deixei claro que necessito de um desses lugares.

– Deixou claro que quer um desses lugares.

– Querer, necessitar, o que interessa? Você tem dois lugares. Não pode sentar-se nos dois.

Draco pensou que era uma mulher muito segura de si mesma, que se sentia no direito de fazer o que quisesse. Por acaso, não tinha aprendido que ninguém tinha direito a fazer nada?

– E porque necessita do lugar? – perguntou-lhe Draco.

– Porque só se pode ligar o computador na primeira classe.

– Ah... – disse ele, sorrindo. – E precisa de utilizar o computador.

Ela fulminou-o com o olhar.

– Evidentemente.

Ele assentiu.

– Mas porquê? É viciada no solitário?

– Viciada no quê?

– No solitário – repetiu Draco, com tranquilidade. – O jogo de cartas.

Ela olhou para ele como se fosse idiota ou algo pior. Draco sentiu vontade de se rir. Uma coisa muito curiosa, tendo em conta que não tivera vontade de se rir desde que a sua secretária lhe telefonara.

– Não – respondeu ela, com frieza. – Não sou viciada no solitário. Isto é uma viagem de negócios. Uma viagem de última hora. Tenho de assistir a uma reunião importante.

Naquela ocasião, foi a sua maneira de falar o que interessou a Draco.

Não se tinha incomodado em barbear-se. Só tomara um duche e vestira umas calças de ganga gastas e uma camisa azul-clara arregaçada e com o primeiro botão do colarinho desabotoado. Tinha calçado uns velhos mocassins e pusera o primeiro relógio que comprara quando tinha conseguido o seu primeiro milhão de euros: um Patek Phillipe. Tinha escolhido aquela marca porque em adolescente tinha roubado um e em seguida sentira-se culpado e atirara-o ao Tibre.

Por outras palavras, estava vestido de forma informal, mas cara. E uma mulher com um fato Armani deveria ter-se dado conta disso. Tinha comprado dois bilhetes em primeira classe, não um. E, tudo junto, deveria significar que era um homem com muito dinheiro e talvez com muito tempo e nada que fazer com ele, enquanto ela era uma mulher muito ocupada.

– Entende porque é tão importante para mim?

Draco assentiu.

– Entendo – respondeu-lhe com um sorriso. – É importante porque o quer.

A mulher revirou os olhos.

– Meu Deus, o que interessa? O lugar está livre.

– Não está livre.

– Bolas, vai sentar-se alguém nele ou não?

– Ou não – respondeu ele. E esperou.

Ela hesitou. Era a primeira vez que o fazia desde que se aproximara e, de repente, mostrou um ar vulnerável, como se fosse realmente uma mulher e não um robô.

Draco também hesitou.

Tinha comprado dois bilhetes para estar sozinho e para que ninguém o incomodasse. Não estava com humor para conversas educadas, nem para partilhar o seu espaço com alguém.

Não obstante, poderia suportá-lo.

A mulher não lhe agradava, mas o que interessava? Ela tinha um problema. Ele, a solução. Podia dizer-lhe: «Va bene, signorina. Sente-se ao meu lado».

– Que horror! – disse a mulher, zangada. – Um homem que se acha melhor do que os outros.

E a assistente de terra fez um som parecido a um gemido.

Draco ficou tenso e pensou que, se lhe tivesse dito aquilo um homem, lhe teria dado um murro no queixo.

Mas não era um homem, portanto, Draco decidiu fazer a única coisa que podia fazer: ir-se embora dali antes que fizesse algo de que pudesse arrepender-se depois.

Desligou o seu computador, meteu-o na pasta, fechou-a, pendurou-a ao ombro e deu um passo em frente. A mulher retrocedeu. Ficara pálida.

Era como se tivesse medo dele. Como se se tivesse dado conta de que tinha ido demasiado longe.

«Ainda bem», pensou ele, apesar de saber que estava a exagerar.

– Poderia ter-se aproximado tranquilamente de mim – disse-lhe com tom demolidor, – poderia ter-me dito que tinha um problema e que necessitava da minha ajuda.

Ela recuperou a cor das faces.

– Foi o que fiz.

– Não. Veio e disse-me o que queria, mas errou na abordagem, signorina. Porque me é indiferente o que queira e não vai sentar-se naquele lugar.

Ela ficou boquiaberta.

E ele perguntou-se como podia ter sido tão mesquinho.

«Continua a andar», pensou e tê-lo-ia feito... Se ela não se tivesse posto a rir. A rir!

Draco sentiu-se humilhado.

E soube que só podia fazer uma coisa.

Aproximou-se dela, que retrocedeu novamente, e passou-lhe a ponta do dedo pelos lábios.

– Talvez – disse-lhe com tom suave – se me tivesse oferecido alguma coisa interessante em troca...

Rodeou-a com os braços, apertou-a contra o seu corpo e possuiu-lhe a boca como se tivesse direito a fazê-lo. Como se fosse um príncipe romano na época em que Roma dominava o mundo.

Ouviu-a a lançar um grito contido. E à assistente de terra também.

E depois deixou de ouvir e perdeu-se naqueles lábios doces...

Ela bateu-lhe com força nas costelas. Draco afastou-se e viu que estava a fulminá-lo com o olhar.

– Boa viagem, signorina – disse-lhe.

E Anna Orsini ficou ali, vendo como as portas se fechavam atrás dele e recriminando-se por não ter batido mais abaixo àquele porco sexista.