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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Maisey Yates

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Esposa em público… e em privado, n.º 1541 - Junho 2014

Título original: Her Little White Lie

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5157-3

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

– Explique-me isto ou pode ir juntando as suas coisas e ir-se embora.

Paige Harper levantou o olhar para os olhos pretos e furiosos do seu chefe. Tê-lo ali no seu escritório bastava para a deixar sem fôlego e sem fala. Ao longe, era muito atraente, mas ao perto era irresistível.

Custou-lhe um esforço enorme desviar o olhar para o jornal que ele tinha atirado para cima da mesa. Ao fazê-lo, formou-se-lhe um nó no estômago.

– Hum... – murmurou, agarrando no jornal. – Bom...

– Não tem nada a dizer?

– Isto...

– Pedi uma explicação, menina Harper. E os seus murmúrios não estão a explicar nada – cruzou os braços e Paige sentiu-se minúscula na cadeira.

– Eu... – voltou a olhar para o jornal, aberto na secção de sociedade, e leu o título «Dante Romani fica noivo da sua funcionária» e abaixo havia duas fotografias, uma de Dante, impecavelmente vestido com um fato feito à medida, e outra dela, num escadote, a pendurar as decorações para preparar a época natalícia nas lojas Colson’s. – Eu... – balbuciou novamente enquanto lia rapidamente o artigo.

 

Dante Romani, o mau rapaz do império comercial Colson, que na semana passada encheu a imprensa por despedir um alto-executivo e homem de família e substituí-lo por um jovem sem responsabilidades familiares, ficou noivo de uma das suas empregadas. Deve perguntar-se se o passatempo favorito deste infame empresário não será brincar com o seu pessoal. Ou os despede ou as desposa.

 

Paige sentiu um aperto no estômago. Não sabia como tinha chegado o rumor à imprensa. Tinha contado uma mentira à assistente social, mas esperava ter algum tempo para desfazer a ofensa. Nunca, nem nos seus piores pesadelos, imaginara ver-se naquela situação.

E, no entanto, ali estava, a ler a mentira do século.

– Estou à espera – pressionou-a Dante.

– Menti – confessou ela.

Ele olhou à volta e Paige seguiu o seu olhar para as pilhas de amostras de tecidos, caixas cheias de missangas, sprays de tinta e quinquilharias natalícias espalhadas por toda a parte.

– Pensando bem – disse, olhando-a novamente, – é melhor que não arrume nada e que se vá embora neste preciso instante. Envio-lhe as coisas por correio.

– Espere! Não... – perder o seu emprego era impensável, tanto como que descobrissem o seu engano. A última coisa que precisava era que os Serviços Sociais descobrissem que tinha mentido a Rebecca Addler na entrevista de adoção.

Continuou a ler o artigo.

 

Custa a acreditar que alguém capaz de despedir um funcionário por dedicar mais tempo à família do que ao trabalho possa assentar a cabeça e converter-se num homem de família. A questão é se conseguirá esta mulher do campo mudar o executivo desumano ou se será mais uma na longa lista de vítimas que Dante Romani deixa à sua passagem.

 

Uma mulher do campo... Sim, era ela. Inclusive ao mentir dizendo que estava noiva do multimilionário mais sensual da cidade se apresentava como uma mulher do campo.

Engoliu em seco e enfrentou a expressão irada do seu chefe.

– Não passa de um rumor da imprensa cor-de-rosa. Nada que possa levar-se a sério.

– O que esperava conseguir com isto? – perguntou ele com dureza. – É assim tão ingénua que não pensou nas consequências? Ou fê-lo deliberadamente?

Ela levantou-se. Os joelhos mal a seguravam.

– Não, eu só...

– Talvez não seja digna de aparecer na imprensa, menina Harper, mas eu sou.

– Eh! – protestou ela, embora o seu chefe tivesse razão. Bastava olhar para as fotografias para ver as diferenças.

– Ofendi-a?

– Um pouco.

– Pois, imagine como me sinto ao vir para o escritório e descobrir que estou noivo de alguém com quem apenas troquei algumas palavras.

– Estamos na mesma situação. Não acreditava que isto pudesse chegar à imprensa. Não... Não esperava que alguém o descobrisse.

– Pois, enganou-se. Descobri-o. É melhor que se vá embora pelo seu próprio pé e que não me obrigue a chamar a segurança – virou-se e encaminhou-se para a porta, deixando Paige com um nó no peito.

– Senhor Romani! – chamou-o, desesperada. – Ouça-me, por favor – não se envergonhava de ter de lhe suplicar. Estava disposta a pôr-se de joelhos se fosse preciso.

– É inútil. Não me interessa nada do que tenha a dizer.

– Porque não sei por onde começar.

– Pode começar pelo princípio.

Paige respirou fundo.

– Rebecca Addler não gosta de mães solteiras. Nenhuma assistente social costuma gostar, mas ela perguntou-me porque é que Ana estaria melhor comigo em vez de com uma família normal, com um pai e uma mãe, e eu disse-lhe que teria um pai porque ia casar-me. Então, escapou-me o seu nome porque... Bom, porque trabalho para si e o vejo todos os dias. Foi o primeiro nome que me passou pela cabeça.

– Isso não é o princípio.

Paige voltou a respirar fundo e tentou acalmar os seus pensamentos caóticos.

– Estou a tentar adotar uma menina.

Ele franziu o sobrolho.

– Não sabia.

– Tenho a minha filha na creche.

– Não costumo ir à creche...

– Ana está comigo quase desde que nasceu – ao pensar em Shyla sentia um aperto no coração. A sua melhor amiga, tão bonita e exuberante... A única pessoa que apreciara as suas excentricidades em vez de se limitar a suportá-las. – A sua mãe morreu e eu cuido dela. Não houve nada oficial antes de Shyla... De qualquer forma, o Estado tem a última palavra sobre o seu futuro. Até agora, permitiram-me cuidar dela, mas a adoção é outra coisa. Há dois dias, reuni-me com a assistente social encarregue do caso. Não parecia provável que fossem conceder-me a adoção e não tive outro remédio senão mentir, sobre nós e o noivado, mas não tinha nada a ver consigo, garanto-lhe.

Não era totalmente verdade. Fizera-o passar por seu namorado porque era o homem mais atraente que vira na vida e porque, ao trabalhar no mesmo edifício que ele, mais de uma vez tinha fantasiado estar com ele fora do ambiente laboral. A sua vida amorosa primava pela sua ausência e, quando Rebecca Addler insistira em que lhe dissesse o nome do seu namorado, só conseguira pensar em Dante. E o nome brotara dos seus lábios no que fora mais uma das suas muitas asneiras.

– Sinto-me lisonjeado – disse Dante, arqueando os sobrolhos.

Ela levou uma mão à testa.

– É inútil que tente explicá-lo, mas agora não sei o que fazer. Isto não deveria aparecer na imprensa e, se agora se souber que não estamos noivos, saberão que menti e...

– E, então, será uma mãe solteira que, além disso, é uma embusteira – o tom de Dante era frio e impessoal.

Paige engoliu em seco.

– Exatamente.

Era um risco de todo inaceitável. Sobretudo para Ana, a sua menina inocente e indefesa, a melhor coisa da sua vida. Por mais ninguém seria capaz de se rebaixar ao ponto de fazer o que estava prestes a fazer: declarar-se ao seu chefe.

O homem que a deixava sem fôlego cada vez que entrava na mesma sala onde ela estivesse. O homem que estava tão fora do seu alcance que até a ideia de um simples encontro era ridícula.

Mas aquilo ia além de um amor passageiro ou do receio da rejeição.

– Acho... Acho que preciso da sua ajuda.

A expressão de Dante permaneceu inalterável. Era um homem que jamais denunciava as suas emoções. O príncipe obscuro do império Colson, o filho adotivo de Don e Mary Colson. A imprensa especulava que o tinham adotado pela inteligência que demonstrara ter em tenra idade.

Aquelas histórias sempre lhe tinham parecido muito tristes e injustas. Mas começava a perguntar-se se Dante Romani não seria tão cruel e desalmado como os outros o pintavam. Esperava que não fosse assim, pois ia necessitar da sua compreensão para resolver aquela confusão.

– Não estou em posição de oferecer a ajuda que me pede – disse ele.

– Porquê? – perguntou ela, levantando-se. – Não necessito de si para sempre. Só necessito...

– Que me case consigo. Não lhe parece que é pedir demasiado?

– É pela minha filha – declarou ela, com uma voz alta e crua que ecoou pelo escritório. Não se arrependia de o ter dito. Faria qualquer coisa por Ana, mesmo que isso significasse a sua demissão imediata. Pela primeira vez na sua vida, havia algo mais importante do que a sua própria segurança e sobrevivência. Algo pelo qual merecia a pena arriscar-se a outro fracasso. Mais um na sua longa lista...

– Ela não é sua filha.

Paige cerrou os dentes e tentou conter a raiva.

– O sangue não é tudo. Você, mais do que ninguém, deveria entendê-lo – talvez não fosse a resposta mais apropriada, mas era verdade.

Ele olhou para ela por alguns instantes, com os dentes apertados.

– Não vou despedi-la... Por agora. Mas quero uma explicação razoável. O que tem na agenda para hoje?

– Estou a tratar das decorações natalícias – disse ela, assinalando os objetos espalhados pelo escritório. – Para a Colson’s e para a Trinka – estava a preparar uma série de montras elegantes para os centros comerciais e uma coisa mais moderna para as lojas de roupa juvenil.

– Estará no escritório?

– Sim.

– Muito bem. Não se vá embora até voltarmos a falar – virou-se e saiu do escritório, e Paige caiu de joelhos ao chão, com as mãos a tremer e o corpo tão tenso que só queria aninhar-se.

Era uma estúpida, mas já o sabia. Falara sem pensar, como sempre, só que naquela ocasião arranjara um problema grave com o homem que lhe pagava o salário. Estava tudo nas mãos do seu chefe. O seu futuro, a sua família e o seu dinheiro.

– Tens de aprender a pensar antes de falar – disse a si mesma.

Infelizmente, já era demasiado tarde para isso.

 

 

Dante acabou o último assunto pendente da sua agenda, guardou o documento e apoiou os cotovelos na mesa para olhar para o jornal.

Tinha voltado a ler a notícia ao regressar ao seu escritório. Uma crítica feroz ao impostor da família Colson, que controlava as pessoas como peças num tabuleiro de xadrez. O artigo estava cheio de detalhes sobre Carl Johnson, despedido uma semana antes por ter faltado a uma reunião importante para assistir a uma competição desportiva infantil.

A imprensa encarregara-se de expor o assunto, pois Carl tinha denunciado ser objeto de discriminação laboral. Para Dante, não havia nada de discriminatório em despedir um empregado por ir ao jogo de basebol do filho em vez de assistir a uma reunião. Infelizmente, a imprensa tinha-o utilizado para o atacar a ele e à sua falta de escrúpulos pela decência humana.

Mas o artigo também dizia algo interessante... Poderia Paige Harper mudá-lo? A ideia agradava-lhe. Mal tinha contacto com ela. Ele deixava-a fazer o seu trabalho, pois fazia-o bem e não havia necessidade de se envolver. Por outro lado, era impossível não notar a sua presença quando estava no escritório. E Dante tinha de admitir que sentia curiosidade. Era uma janela para um mundo de luz e cor que ele nunca habitaria.

Mas, por muito que o intrigasse, não era o tipo de mulher que lhe ocorresse abordar.

Pelo menos, até àquele momento...

«Poderá esta mulher do campo mudar o executivo desumano?»

Dante não tinha a mínima intenção de mudar, mas e se deixasse que a imprensa acreditasse nisso? Poderia ter exigido uma retratação ao ler a notícia... Poderia deixá-lo andar. Que os meios de comunicação mudassem a imagem de sociopata violento que tinham criado dele quando, sendo um rapaz adotado de catorze anos, chegara à cena pública e toda a gente assumira que era pouco menos do que um criminoso. A sua imagem fora vendida antes que ele pudesse fazer alguma coisa e fora por isso que nunca se incomodara em tentar mudá-la.

Mas, de repente, ofereciam-lhe um instrumento que talvez pudesse mudar as coisas.

Virou-se para a janela e contemplou a vista do porto. Continuava a ver a expressão de Paige, o profundo receio e desespero que os seus olhos refletiam. A imprensa não mentia em algumas coisas sobre ele e uma delas era a sua falta de sensibilidade.

Mas não conseguia deixar de pensar nela, nem na menina. Não gostava de crianças e não albergava o mínimo desejo de ser pai, mas também fora criança e órfão, e tinha passado oito anos a passar de uma família adotiva para outra, vivendo à mercê do Estado ou de pessoas que só lhe faziam mal.

Como ia permitir que a pequena Ana tivesse a mesma sorte do que ele? Mesmo que a inserissem numa boa família, ninguém poderia amá-la tanto como Paige parecia fazê-lo.

E porque deveria importar-lhe isso? Essa era a grande questão. Nunca se preocupava com ninguém. Não estava na sua natureza.

A porta do seu escritório abriu-se e Paige entrou. Ou, melhor dizendo, irrompeu com a força de um vento impetuoso. Tinha uma mala dourada pendurada ao ombro, a combinar com as sapatilhas que acrescentavam quatro centímetros à sua estatura. Também tinha um rolo de tecido debaixo do braço, juntamente com um bloco grande de desenho. Inclinou-se para deixar tudo na cadeira que havia à frente da mesa, esticando a saia sobre a curva do rabo, e passou a mão pela cabeleira castanho-escura, revelando algumas madeixas cor-de-rosa por baixo.

Era uma mulher que brilhava com luz própria e não havia maneira de a ignorar. Usava uma maquilhagem tão radiante como o resto da sua pessoa: verde-lima nas pálpebras, magenta nos lábios e verniz a combinar.

– Queria ver-me antes de me ir embora?

– Sim – respondeu ele, desviando o olhar dela pela primeira vez desde que entrara no escritório. Passeou o olhar pelos objetos que Paige deixara de qualquer maneira na cadeira e sentiu o impulso de os ordenar ou de os pendurar no bengaleiro.

– Vai despedir-me?

– Não creio... Fale-me mais da sua situação.

Ela franziu o sobrolho e franziu os lábios.

– Em poucas palavras, Shyla era a minha melhor amiga. Mudámo-nos juntas para cá. Ela arranjou namorado, ficou grávida e ele deixou-a. Durante algum tempo, correu tudo bem porque estávamos juntas. Mas, ao dar à luz a Ana, ficou muito mal, perdeu muito sangue no parto e... formou-se-lhe um coágulo no pulmão – parou para respirar. – Morreu e Ana e eu ficámos sozinhas.

Dante conteve a estranha emoção que lhe atravessou o peito ao pensar numa menina órfã.

– E os pais da sua amiga?

– A mãe de Shyla já morreu. O seu pai ainda é vivo que eu saiba, mas não poderia, nem quereria ocupar-se de uma menina pequena.

– E você não pode adotá-la a menos que esteja casada.

Ela suspirou e começou a andar de um lado para o outro.

– Não é assim tão simples. Não há nenhuma lei que o exija, mas Rebecca Addler, a assistente social, não escondeu o seu desagrado quando viu o meu apartamento.

– O que tem o seu apartamento?

– É pequeno. É agradável e está num bom sítio, mas é pequeno.

– As casas são muito caras em San Diego.

– Sim. Muito caras. Por isso, não posso permitir-me uma casa maior e Ana tem de partilhar o quarto comigo. Sei que um apartamento num quinto andar não é o lugar ideal para criar uma criança, mas muita gente fá-lo.

– Então, porque não pode fazê-lo você? – quis saber Dante, sentindo como a frustração crescia no seu peito.

– Não sei. Mas assim me deu a entender ao dizer-me que Ana estaria melhor com um pai e uma mãe. Ficou muito claro que não queria conceder-me a custódia... E entrei em pânico.

– E como acabou o meu nome na imprensa?

Ela ficou corada.

– Não sei como pôde acontecer. Rebecca jamais faria algo do género. Talvez o tenha feito quem se ocupou da papelada, pois ela tomou notas.

– Notas?

– Sim.

– O que diziam?

– O seu nome. Que estávamos noivos. Disse que talvez fosse útil.

– E não acha que isso se deve mais ao facto de eu ser milionário do que a ir casar-se?

Não se iludia sobre o seu encanto. Ou, melhor dizendo, sobre a sua falta de encanto. A única coisa dele que atraía as mulheres era o dinheiro. Aquela assistente social não seria uma exceção. Poderia sustentar um ou vários filhos. Uma forma lamentável de decidir o parentesco.

Mas assim funcionava o mundo. Tinha-o aprendido passando da indigência a ter mais do que poderia gastar.

– É possível – admitiu ela, mordendo o lábio inferior.

O telefone começou a tocar e Dante ligou o altifalante.

– Dante Romani.

A voz nervosa do seu assistente encheu o escritório.

– Senhor Romani, a imprensa esteve a telefonar toda a tarde a pedir uma declaração sobre... o seu noivado.

Dante fulminou Paige com o olhar, mas ela não pareceu alterar-se. Tinha o olhar perdido na janela que dava para o porto e enrolava uma madeixa no dedo enquanto lhe tremiam os joelhos. Era, sem dúvida, a criatura mais descuidada que já conhecera.

– Uma declaração? – repetiu, sem saber como ia lidar com aquilo.

Para a imprensa, ia casar-se com Paige e adotar uma menina com ela. Desdizê-lo um dia depois de o terem tornado público acabaria com os últimos vestígios de venerabilidade e decência que ainda pudesse ter na sociedade. Talvez lhe faltasse tato e encanto, mas também não queria aparecer nos meios de comunicação como uma espécie de assassino em série.

Se as coisas piorassem, e tudo parecia indicar que assim seria, os negócios ver-se-iam afetados. E isso era inaceitável. Don e Mary Colson tinham adotado um filho para que herdasse o seu império e a sua fortuna. Não podia fracassar.

E, além disso, havia Ana. Dante não gostava de crianças, nem queria ter filhos, mas as lembranças da sua infância como um menino órfão que ia passando de um lar adotivo para outro eram muito persistentes.

Teria Ana a mesma sorte que ele? Teria a sorte de encontrar uma família boa e carinhosa? A única coisa que estava clara era que Paige a amava e que se preocupava com ela.

Aquela preocupação era-lhe alheia e estranha, mas não podia negar a sua existência. Era real e muito intensa. Era preciso salvar uma menina inocente dos horrores da vida. Horrores que ele conhecia muito bem.

– Querem detalhes – disse-lhe Trevor.

Dante cravou o olhar nos olhos de Paige.

– Claro... – «eu também». – Mas terão de esperar. Neste momento, não tenho nenhum comunicado a fazer – premiu o botão para desligar o intercomunicador. – Mas vou precisar de um – disse a Paige. Um plano começava a ganhar forma na sua cabeça. Uma maneira de converter aquele potencial desastre em algo que pudesse beneficiá-lo. Mas antes queria ouvir uma explicação. – O que sugere que façamos?

Paige parou de mexer a perna.

– Casarmo-nos? – disse, com expressão desesperançada. – Ou, pelo menos, manter o noivado durante algum tempo...

Nunca ninguém se tinha preocupado tanto com ele desde que perdera a sua mãe biológica. Não perdia tempo com lamentos. Era demasiado tarde para isso.

Mas não era demasiado tarde para Ana.

Baixou o olhar para o jornal. Não seria só por Ana, mas também por ele. Por fim, apresentava-se-lhe uma oportunidade para mudar a má fama que tinha na imprensa. Durante anos, tinham-no apresentado como um rapaz adotado, arisco e ingrato que não tinha lugar na família Colson. E, ao crescer, a imagem mudara para um chefe implacável e um amante sem escrúpulos que seduzia as mulheres com promessas, dinheiro e mentiras para depois se livrar delas.

Como seria a sua vida se o vissem de outro modo? Um casamento a sério era absolutamente impensável, mas ser visto como um anjo em vez de como um demónio... A ideia era tentadora. E facilitar-lhe-ia consideravelmente os negócios.

Há muito tempo que deixara de lhe importar o que pensassem dele, a menos que essa opinião afetasse os seus negócios. E sabia que muita gente se recusava a fazer negócios com ele por causa da sua má reputação.

Um mulherengo perigoso, cruel e desumano. Já lhe tinham chamado de tudo, a maioria das vezes sem fundamento. Como seria dar a imagem de um homem de família? Embora não fosse algo permanente, bastaria para mudar a opinião que tinham dele.

Sim, a ideia era certamente tentadora...

A imprensa perguntava-se se ela poderia mudá-lo. Mas a questão era se poderia ele valer-se dela para mudar a sua imagem.

Por um breve instante, permitiu-se pensar nas muitas maneiras como poderia usar Paige, em todas as fantasias que tivera com ela desde que começara a trabalhar para ele e que sempre tinha mantido encerradas no fundo da sua mente.

Contemplou-as por alguns segundos e voltou a encerrá-las. Não era do corpo de Paige que necessitava.

– Está bem, menina Harper. Com o fim de manter as aparências, aceito a sua proposta.

Os olhos azuis de Paige esbugalharam-se.

– O quê?

– Decidi que me casarei contigo.