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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Margaret Way, Pty., Ltd.

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

De onde menos se espera, n.º 1119 - Outubro 2014

Título original: Cattle Rancher, Convenient Wife

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2009

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5861-9

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Embora o seu estado de espírito fosse bastante sombrio, Rory Compton não conseguiu evitar sorrir. Era meio-dia, mas um homem poderia disparar um canhão na rua principal de Jimboorie e não acertar num alvo, nem sequer num cão. A rua larga estava deserta, tal como as calçadas, normalmente lotadas aos sábados. Não havia crianças a brincar nem mães a pedirem-lhes para pararem enquanto elas faziam as compras. Nenhum veículo.

Sentado no terraço elevado do pub de Vince Dougherty, dispunha de uma visão perfeita do centro da cidade, com a sua Junta de Freguesia impressionante e o seu parque atraente. Acabou a cerveja fresca que bebera com o almoço que a esposa de Dougherty, Katie, amavelmente deixara preparado: sandes de carne assada tão bem embrulhadas em plástico que demorara cinco minutos a conseguir tirá-lo. À excepção dele, toda a cidade fora à grande «inauguração» de Jimboorie, um histórico rancho ovino nos subúrbios que dera o seu nome à cidade. Ali sentado, com as pernas compridas apoiadas numa cadeira, pensou se devia ir ou não. Havia poucas possibilidades de o seu humor melhorar.

Permitira-se que a velha propriedade, outrora magnífica, caísse em decadência sob a custódia do seu antigo dono, Angus Cunningham. «Um canalha velho e miserável! Pensava que ninguém da cidade estava à sua altura!»

Rory conhecia o apelido Cunningham. Os Cunningham figuravam entre os primeiros pioneiros a chegar à zona mais remota da Austrália, o Outback. Ganadeiros ovinos. Não bovinos, como ele.

Os seus terrenos assentavam no lendário Channel Country, num deserto ribeirinho no canto mais a sudoeste das suas propriedades vastas. O novo proprietário, um sobrinho-neto, dedicara mais de um ano e muito dinheiro a restaurar o lugar. Vince convidara-o para a inauguração... «Não se importarão!», exclamara, como se Cunningham e ele fossem muito amigos.

– Talvez – dissera.

Ou talvez se importassem. Não estava no seu melhor estado de espírito desde que o seu pai e ele tinham tido aquela discussão desastrosa há algumas semanas. Depois, andara na estrada, passeando de uma cidade para a outra, perdido numa bruma furiosa, com o fim de verificar se havia alguma propriedade de pastoreio no mercado que estivesse ao seu alcance com um empréstimo substancial do banco. Não podia pensar nos terrenos multimilionários. No total, incluindo a herança que recebera do seu avô, Trevis Compton, dispunha de quase dois milhões de dólares. Muito dinheiro para algumas pessoas, mas não suficiente quando se falava de uma propriedade decente de pastoreio.

– Ao teu irmão Jay não deixarei nada, para além das coisas pessoais de que gosta – dissera Trevis, há anos. Estavam sentados nos degraus do alpendre a observar outro crepúsculo desértico glorioso, com o braço do seu avô à volta dos seus ombros. – Jay é o herdeiro. Ele recebe Turrawin. Sempre foi assim. O primogénito dos Compton herda com o fim de garantir que a herança da família se mantenha intacta. Jay é um bom rapaz. Amo-o muito. Mas não é como tu. Tu estás destinado a grandes coisas, Rory. Um pouco de dinheiro para emergências pode ajudar-te quando eu já não estiver cá.

Ainda conseguia ouvir o tom de voz gentil e profundo do seu avô. Perguntou-se como dois homens podiam ser tão diferentes como o seu avô e o seu pai. Para ser justo, o seu avô tivera uma vida maravilhosa com uma esposa que o adorava. No entanto, a vida do filho que tinham tido, Bernard, começara a correr mal desde cedo. A amargura destruíra a sua alma. E aquela última discussão fora a gota de água. Para ambas as partes. O seu pai expulsara-o, embora ele já tivesse tomado a decisão de se ir embora, com os insultos mais injustos. Passara à frente do seu irmão mais velho, Jay, herdeiro do seu pai, no hall de entrada.

Nunca tinham sido próximos. Instintivamente, Rory soubera porquê. Ele parecia-se muito com a sua mãe, que se fora embora, deixando o marido e os dois filhos quando Rory tinha doze anos e Jay tinha catorze anos. Uma idade muito má. Provocara o escândalo na família e uma vida muito árdua para os dois filhos de Laura Compton, que a adoravam. A partir desse dia, o seu pai sucumbira à amargura.

O seu temperamento, sempre volátil, tornara-se tão pouco governável, que os seus dois filhos viviam num estado de medo e de ansiedade constantes. Jay chorava com frequência depois de receber uma sova com uma vara, mas Rory nunca chorara, o que servia para inflamar ainda mais aquele homem iracundo. Os dois jovens tinham recebido a notícia do internato como um presente de Deus.

Ao chegarem à idade de dezasseis e dezoito anos, ambos com mais de um metro e oitenta, mais altos e fortes do que o seu progenitor, as sovas tinham parado. O seu pai vira-se obrigado a concentrar-se outra vez na língua afiada.

– Assim que o pai morrer, tu e eu seremos sócios – prometera Jay, num tom de voz cheio de amor fraternal e orgulho. – Não conseguirei gerir Turrawin sem ti. Ambos sabemos. Os homens querem negociar contigo, não comigo. Tu és o ganadeiro. O homem que salvará o rancho. O pai não herdou as habilidades do avô nem a sua capacidade de liderança. E eu também não. Tu és o verdadeiro ganadeiro, Rory.

Rory suspirou, sabendo que Jay se meteria em problemas sérios sem ele. Bernard Compton batera muito nos seus filhos. «Mas não me derrotou», pensou com determinação. «Tenho tudo a meu favor. Juventude, saúde, força e as habilidades e conhecimentos necessários». Teria o seu próprio rancho. Avançaria por fases. Estava tão preparado para iniciar uma dinastia como os seus antepassados Compton tinham feito. Com o tempo, embora tivesse de ser em breve, já que fizera vinte e oito anos, encontraria uma esposa. Uma moça criada no Outback da Austrália. Uma mulher com um amor profundo pela terra, capaz de suportar uma existência isolada sem ceder à depressão ou ao desejo das luzes da cidade.

O amor romântico não ocupava um espaço de preponderância na sua agenda. O romance tinha prazo de validade. Devia aprender com a experiência. A maioria das pessoas não o fazia. Com ele, a história não ia repetir-se. A sua melhor aposta era uma companheira capaz de o acompanhar. Isso significava que teria de ficar com ele para sempre. Alguém com quem pudesse trabalhar com esforço para construir um futuro. Desde que a mulher fosse jovem e razoavelmente atraente, o sexo seria bom. Certamente, queria filhos. Sabia que não era nem nunca poderia ser um miserável cruel e implacável como o seu velho pai. Seria um bom pai para os seus filhos. Não havia dúvida de que o rancho criava homens duros, porém, felizmente, poucos como o seu pai.

Levantou-se e esticou os braços compridos, olhando para a rua vazia. Tinha muito tempo. Porque não ir a Jimboorie?

Vince explicara-lhe como chegar. Valia a pena ver um rancho antigo e bonito. Sabia que o novo dono se chamava Clay. Clay Cunningham. Só conhecera um Clay na sua vida, mas fora Clay Dyson, capataz de Havilah há alguns anos. Um tipo de aproximadamente a sua idade, adorado pelo chefe, o velho coronel Forbes, ex-oficial do exército britânico, falecido, que herdara Havilah de um primo australiano e, para espanto de todos, ficara no país para trabalhar a terra. Recordou que o coronel Forbes, um homem universalmente respeitado, tivera uma opinião extraordinária de Clay Dyson. Mas não era esse Clay. Não podia ser. O que ele conhecera carecia de história familiar e de dinheiro, ainda que se dissesse que o velho coronel se lembrara dele no testamento.

 

 

Quando chegou a Jimboorie, uma propriedade esplêndida e tão longe do seu alcance como Plutão, o complexo principal continuava cheio de gente, embora alguns começassem a ir-se embora em carros de todos os tipos e tamanhos. Ao aproximar-se, até vira vários aviões. Realizara um percurso rápido de uns jardins muito extensos, maravilhando-se com o desenho e a variedade rica de árvores, flores e matagais, que supôs que eram tolerantes à seca e capazes de resistir a tempestades de pó.

Sob um túnel de buganvílias cor de cereja que floresciam sobre uma estrutura de aço forjado, passou à frente de duas jovens da cidade que lhe sorriram com timidez. Retribuiu o sorriso e cumprimentou-as com um gesto da mão, completamente alheio ao facto de o seu sorriso bastar para lhe iluminar a cara e banir a expressão séria e sombria que exibia desde a adolescência.

Jimboorie House impressionou-o imenso. Nunca esperara que fosse tão grandiosa. Rivalizava, para não dizer que ultrapassava, com todas as casas históricas a que fora como convidado ao longo dos anos. Quando a sua mãe estivera com eles, quando tinham sido uma família, convidavam-nos para todos os eventos. A sua bonita mãe, Laura, fora muito popular e uma anfitriã excelente.

Porque é que, então, os abandonara? Durante anos, Jay e ele tinham aceitado a razão que o seu pai lhes dera. Uma mulher da cidade, a sua mãe, só esperara pela primeira oportunidade depois de eles crescerem para renunciar à vida solitária em Outback. Sendo jovens adultos, tinham chegado a compreender o que podia ter sido a vida para a sua mãe, ainda que nessa altura o seu pai se mostrasse bastante razoável. Em qualquer caso, quase sempre. Na verdade, nunca lhes batera quando a sua mãe estava presente, à excepção de algumas vezes em que ela protestara com tanta veemência que ele parara. Fosse como fosse, ela voltara a casar-se depois de se divorciar. Era uma coisa que acontecia sempre, mas não deixava de ser horrível para as crianças.

O seu pai, como podiam esperar dado o apelido, o dinheiro e a influência que tinha, conseguira a custódia deles. Nunca estivera preparado para a partilhar com ela. O fracasso do casamento fora culpa exclusiva da sua mãe. Era um dos traços mais marcados do seu pai: considerava-se livre de qualquer culpa em todas as coisas. Em qualquer caso, partilhar as crianças era uma má ideia. O sensível Jay alterava-se sempre quando chegava o momento de a abandonar. Rory, que também se sentia alterado, mas não o mostrava, escolhia portar-se mal. Tinha de descarregar a dor sobre alguém. E escolhera fazê-lo com a sua mãe. Passado algum tempo, as visitas foram-se espaçando cada vez mais, até cessarem por completo.

– Não vos disse? – gritara o seu pai. – Não vos ama. Nunca vos amou! É uma ordinária egoísta, ególatra e desumana! Estamos melhor sem ela!

Nenhum dos dois teria ganhado um prémio de melhor pai, porém, estar melhor sem ela? As pessoas realmente morriam de dor. Nenhum deles, pai e filhos, foi capaz de digerir a sua perda.

O seu pai, um homem orgulhoso e arrogante, nunca fugira da dor e dos pensamentos de humilhação pessoal. As lembranças que ele tinha da sua mãe eram tão dilaceradas que raramente deixava que lhe tocassem. Jay e ele tinham pensado que a sua mãe era a mãe mais doce, gentil e divertida do mundo. Não parecia possível que tivesse fingido tudo, tal como o seu pai afirmara. No entanto, fora-se embora, sem pensar na devastação que deixava para trás.

Há algum tempo decidira que, quando escolhesse uma mulher para ele, devia certificar-se de que mantinha os pés firmemente no chão. Era susceptível à beleza de uma mulher como qualquer um, «talvez mais», pensou com ironia, mas sob nenhum pretexto ia deixar-se seduzir por ela.

Ou, pelo menos, era o que pensava.

 

 

Vince Dougherty viu-o enquanto percorria as divisões enormes da antiga casa, deixando que a sua magia operasse.

– Vieste! – Vince mostrou-se contente e foi ter com ele para lhe apertar a mão com vigor como se tivesse passado semanas sem o ver. – O que te parece agora? Diz-me – deu-lhe uma palmada no ombro. – Pareces um tipo com bom gosto.

– És muito amável, Vince – foi a resposta lacónica de Rory. – É magnífico! – exclamou, com sinceridade. – Certamente, merecedor de uma visita!

Vince mostrava-se tão orgulhoso como se fosse o dono, o decorador e o paisagista dos jardins numa só pessoa.

– Eu disse-te, não foi? Devias ter vindo há uma hora. Já conheceste os Cunningham?

– Ainda não – abanou a cabeça. – Na verdade, só vim ver a casa. Estou de passagem, Vince. Tal como te disse.

– Nunca se sabe! – esboçou outro sorriso. Esperava que o seu amigo ficasse no distrito. Olhou para cima, para o terraço. – Aquela que está ali é Carrie, a senhora Cunningham – com discrição apontou para uma rapariga loira com um bonito rosto inocente e um sorriso radiante.

Estava no meio de um círculo de amigas que se riam com alguma coisa que ela dizia.

– É muito bonita – comentou. – A casa encaixa perfeitamente com ela.

– É um anjo! – anunciou Vince. – Clay considera-se o homem mais sortudo do mundo. Queres que to apresente? Acho que gostarás deles.

«Porque não?», disse para si.

– Indica-me onde está – replicou Rory. – Vejo a tua mulher a chamar-te.

– O meu pequeno tesouro! – exclamou, apesar de Katie não ser pequena. – Tenho de voltar para o pub mais cedo ou mais tarde. Tenta lá fora, perto da fonte. Clay estava lá há alguns minutos. Não acho que tenha voltado para a casa.

– Fá-lo-ei.

Seria uma das melhores decisões que alguma vez tomara.

 

 

A fonte de mármore de três níveis, monumental e a condizer com as proporções grandiosas da casa, era um objecto de fascínio para as crianças, cujas mães tinham de as arrancar à força da água antes de se meterem nela ou de subirem para a fonte, como fizera um menino ousado de seis anos.

Um homem alto e atraente erguia-se como um monarca no topo do jardim amplo que descia até um riacho banhado pelo sol. Nas margens cresciam lírios brancos, um contraste delicioso com a corrente cintilante e o verde dos juncos e das plantas aquáticas. Rory dirigiu-se para ele, cada vez mais animado. Era Clay Dyson? Ele sempre fora um homem fascinante, difícil de ignorar. Rory deixou que o seu espanto se reflectisse na sua cara.

– És Clay, não és? Clay Dyson? – comentou. – Costumavas ser capataz em Havilah há alguns anos?

O outro virou-se e, na sua cara, apareceu um sorriso de surpresa ao reconhecer o visitante. Dirigiu-se para Rory com a mão estendida num sinal de boas-vindas.

– Agora é Cunningham, Rory. A propósito, Cunningham é o meu apelido verdadeiro. Como estás e o que fazes tão longe de casa? – perguntou. – Não é que não me pareça fantástico ver-te…

– Fico contente por te ver! – exclamou com igual entusiasmo, apertando-lhe a mão. Não conhecera Clay Dyson, ou Cunningham, muito bem, mas gostara do que vira e ouvira. – Qual é a história, Clay? E que casa! – virou-se para observar a fachada principal. – É magnífica!

– É… – concedeu Clay, com um orgulho sereno. – Há uma história, é claro. Longa. Contar-ta-ei alguma vez, mas para a resumir, tudo se deve a uma inimizade familiar amarga. Sabes como são?

– Sim – afirmou Rory, com uma careta.

– Felizmente, tudo ficou bem – acrescentou Clay, com satisfação. – O meu tio-avô Angus deixou-me tudo isto – com um gesto elegante do braço abrangeu tudo o que os rodeava. – Caroline, a minha esposa, e eu parámos recentemente as renovações. São demasiado prolongadas e demasiado caras. O que herdei não se parecia em nada com o que vês agora.

– Foi o que me disseram – comentou Rory, num tom de voz de admiração. – Alojar-me-ei no Jimboorie pub durante alguns dias. Vince falou-me da inauguração de portas abertas. Fico contente por ter vindo.

– Eu também – Clay sorriu. – Já conheceste Caroline?

– A loira bonita dos olhos castanhos? – esboçou um sorriso.

– Essa é Caroline! – Clay não conseguiu conter o orgulho na sua expressão.

– Não tive o prazer. És um tipo com sorte, Cunningham.

– Olha quem fala! – gozou Clay, alheio às circunstâncias de Rory. – Como estão Jay e o teu pai?

– Jay está bem. É o herdeiro. O meu pai e eu tivemos uma discussão gigante. É por isso que estou na estrada.

Clay percebeu a dor e a fúria que se escondiam por trás do tom descontraído de Rory.

– Lamento ouvi-lo. Durante gerações, os Compton foram uma família ganadeira importante de Channel Country.

Perguntou-se onde isso deixava Rory.

– Há tempo que se esperava – replicou Rory, com calma. – Não tive outra alternativa senão ir-me embora. Tenho um pouco de dinheiro que o meu avô me deixou. Suponho que ele sabia que, em algum momento, precisaria dele. O que procuro agora é uma propriedade própria. Nada como Jimboorie, claro. Não estou na tua liga, só quero um rancho bonito e pequeno que possa desenvolver e vender depois.

Clay olhou para o riacho, onde as crianças corriam e gritavam.

– Não há possibilidade de o teu pai se acalmar, Rory? Não pode haver uma reconciliação?

Rory tirou o chapéu e o seu cabelo apareceu tão preto e lustroso como o azeviche. Uma madeixa caiu-lhe sobre a testa bronzeada.

– Impossível! Nem me importaria se o fizesse. Essa parte da minha vida acabou. A única coisa que lamento é deixar Jay lá.

Clay estudou-o, pensativo. Naquele momento, recordou a história da família Compton.

– Sabes? Talvez eu possa ajudar-te – confessou Clay, como alguém que já tinha uma ideia em mente. – Porque não vamos para dentro? Conhece Caroline. Fica para jantar. Vêm alguns amigos. Eu gostaria que os conhecesses. Não estás ansioso por voltares para a cidade, pois não?

– Diabos, não! – em dois minutos já se sentia melhor. – Eu adoraria ficar se a tua esposa encantadora não se importar.

– Será perfeito! – garantiu-lhe, seguindo o seu instinto a respeito de Rory Compton. Era um homem em que podia confiar; um homem que podia ser um bom amigo. – Caroline adorará conhecer-te e teremos tempo de falar sobre estes anos.

– Óptimo! – a hospitalidade de Clay satisfê-lo e fez com que mostrasse o sorriso que o transformava.

O destino era espantoso a juntar as pessoas.