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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Susanne James

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A senhora da casa, n.º 1219 - fevereiro 2018

Título original: The Playboy of Pengarroth Hall

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-001-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Aquilo devia ser o Paraíso, pensava Fleur, enquanto passeava pelo jardim enorme e cuidado da propriedade Pengarroth, os seus pés esmagando o cascalho do caminho. Embora o sol pálido de Dezembro, que se filtrava através dos ramos das árvores, não tivesse conseguido secar por completo o orvalho da manhã, aquele sítio era absolutamente maravilhoso.

Como seria na Primavera e no Verão, quando tudo tivesse florescido?, perguntava-se.

Ao encontrar o portão fechado, decidira deixar o carro na estrada e entrar para dar um passeio, mas, depois de caminhar durante mais de vinte minutos, pensou que devia haver um caminho mais curto para chegar à casa.

O que tinha tomado perdia-se entre as árvores, mas era tão bonito que decidiu continuar em frente só para esticar as pernas e respirar o ar fresco do campo, tão agradável depois da longa viagem de Londres.

Mia Conway, a amiga que a convidara para passar o Natal na mansão familiar que partilhava com o seu irmão, dera-lhe instruções vagas para chegar a Pengarroth:

– Entra no primeiro portão aberto que encontrares – dissera-lhe. – Não podes perder-te.

Um pouco depois, e com certa ansiedade, Fleur começava a ficar cansada e repreendeu-se. Tinha trabalhado até muito tarde no laboratório durante as últimas duas semanas e a longa viagem até à Cornualha tinha-a deixado exausta.

Teria sido melhor esperar até ao dia seguinte, a véspera de Natal, para sair de Londres, mas Mia tinha-a convencido a vir um dia antes…

– Os outros convidados ainda não terão chegado e o meu irmão também só chegará na manhã seguinte, portanto, teremos a casa só para nós – tinha-a animado. – Será como na escola!

Tinham andado no mesmo colégio interno e eram amigas desde então, embora aquela fosse a primeira vez que visitava a propriedade Pengarroth.

Suspirando, Fleur deixou-se cair sobre um tronco. Não poderia ficar ali muito tempo porque fazia frio, mas tinha de descansar alguns minutos. Eram quatro horas e já começava a escurecer. Ou o sol não conseguia abrir caminho entre as copas das árvores…

De repente, uma voz sobressaltou-a:

– Posso ajudá-la?

A pergunta fora feita com tal brusquidão que Fleur se levantou de um salto. À frente dela havia um homem muito alto, com um casaco de couro sujo de lama e uma espingarda ao ombro. Era muito atraente, mas os seus olhos eram tão penetrantes que sentiu um calafrio de apreensão… misturado com algo mais que não queria reconhecer.

Devia ser o guarda da propriedade, pensou, ou outro empregado da casa.

– Não preciso de ajuda, muito obrigada. Só estava a dar um passeio.

Incapaz de desviar o olhar das feições femininas mais atraentes que tinha visto em muito tempo, exclamou:

– Está numa propriedade privada, menina! E a propriedade não está aberta aos turistas. Há um cartaz à porta, não o viu?

– Sim, vi-o.

– E não viu também que o portão estava fechado?

Fleur, incomodada com o tom autoritário, recusou-se a dizer-lhe que era amiga da proprietária.

– Ah, sim? Então, deveria ter tido mais cuidado.

– Certamente.

– Não me diga que dispara contra quem entra na propriedade sem permissão.

O homem limitou-se a abanar a cabeça.

– É melhor acompanhá-la até à estrada. Há vários caminhos e poderia perder-se.

– Não se incomode, não preciso que me acompanhe.

– Mas está a fazer-se de noite. Por favor, volte para a estrada – insistiu o estranho, cravando nela os seus olhos escuros. – Esta secção da propriedade está a ser replantada… Uma tempestade de granizo causou danos consideráveis e há que transplantar muitas das árvores. Não queremos que as pessoas andem por aqui.

Depois, acenou com a cabeça, virou-se e desapareceu sem dizer mais nada.

Bom, pensou ela, enquanto o via a desaparecer entre as árvores, evidentemente, aquele homem era dos que diziam o que pensavam e pensavam o que diziam.

Como o seu pai, pensou depois.

Fleur abanou a cabeça ao pensar nos seus pais, Helen e Philip, que aquele ano estavam a passar o Natal em Boston. Sempre tinham passado as festas juntos, mas o professor Richardson, um catedrático de Matemática de renome, decidira aproveitar a oportunidade para misturar os negócios com o prazer indo a uma conferência, de modo que os planos familiares tinham mudado.

Fleur virou-se, certificando-se de seguir o caminho correcto, mas era quase de noite quando chegou à estrada. Era lógico que o portão estivesse fechado, pensou. O estranho era que não tivessem posto arame farpado para que ninguém entrasse.

Depois de percorrer mais quinhentos metros de carro, a mansão Pengarroth apareceu diante dos seus olhos e, pouco depois, a entrada que Mia lhe tinha indicado. O portão estava aberto e, enquanto subia pelo caminho, animou-se ao pensar que ia passar as festas noutro sítio, com outras pessoas, porque Mia tinha convidado vários amigos.

– Mas só conheces Mandy. Lembras-te de Mandy? É muito engraçada.

Sim, recordava Mandy, uma devoradora de homens. Mas muito divertida.

– Os outros são colegas do escritório, mas prometo não deixar que ninguém fale de trabalho – dissera-lhe Mia, que trabalhava numa empresa de relações públicas em Londres.

Nada a ver com o trabalho de Fleur como investigadora num hospital universitário.

Embora as suas vidas tivessem seguido caminhos diferentes, nunca tinham perdido o contacto e Fleur invejava com frequência a vida de Mia, livre e sem restrições dos pais.

Philip Richardson tinha tantos planos para a sua única filha que nunca lhe ocorrera que Fleur pudesse ter as suas próprias ideias. E, como uma boa filha, Fleur tinha conseguido o seu título universitário em Físico-Química e, além disso, nunca levara a casa nenhum dos seus namorados. A sua mãe não teria colocado nenhuma objecção, mas nenhuma das duas queria zangar o patriarca.

Suspirando, Fleur tocou à campainha. Uma mulher de cinquenta anos abriu a porta e apresentou-se, com um sorriso nos lábios:

– Olá, sou Pat, a governanta de Pengarroth.

– Eu sou Fleur Richardson.

– Sim, disseram-me que chegaria hoje. Entre, por favor. Mia está a lavar o cabelo, vou dizer-lhe que já chegou.

Assim que entrou no hall, Fleur soube que Pengarroth era um lar em todos os sentidos. Sabia que o edifício tinha mais de duzentos anos, mas era muito quente e acolhedor. Num canto do hall havia uma árvore de Natal enorme, cheia de fitas, bolas e enfeites de todo o tipo. À frente, um relógio de carrilhão, dois sofás e uma mesa coberta de jornais. Do outro lado, sobre uma poltrona antiga, dormia um labrador.

Quando se deu conta de que Fleur estava ali, o animal abriu um olho, respirou fundo e depois voltou a adormecer.

Fleur não conseguiu evitar um sorriso. Aquele sítio era tão diferente da casa dos seus pais em Surrey… Para não falar do seu apartamento em Londres. Mas sentia-se quase abraçada por aquele ambiente e intuiu que ia passar umas festas óptimas ali.

Então, Mia apareceu no cimo da escada, de calças e sutiã, e o cabelo enrolado numa toalha.

– Sobe, Fleur! – gritou-lhe. – Vamos divertir-nos imenso! Eu adoro o Natal!

Depois de beijar a sua amiga, seguiu-a até ao seu quarto e sentou-se na cama, enquanto Mia secava vigorosamente a cabeleira com a toalha.

– Espero que não te importes de partilhar o quarto comigo.

– Não, claro que não.

– Não é que não haja quartos suficientes nesta casa, pelo contrário. Mas não quero que Pat tenha muito trabalho. Os rapazes, certamente, não se importarão de partilhar… Vais gostar deles, vais ver. Gus e Tim são velhos amigos meus e Rupert e Mat são encantadores – Mia atirou a toalha sobre uma cadeira e ligou o secador.

– Será como nos velhos tempos. É verdade, cresceu-te imenso o cabelo, nunca o tinhas usado tão comprido.

Mia era muito alta e com o cabelo castanho a cair pelas suas costas agora parecia ainda mais alta.

– É por causa de Mat. Gosta assim.

– Ah, entendo… Ou seja, Mat é o homem do momento.

A sua amiga sorriu.

– Mais ou menos. Andamos a sair há algum tempo… Nada muito sério. De facto, pensei que seria boa ideia misturá-lo com outros amigos no Natal… para que não se anime muito. E tu, tudo bem? Há alguém especial na tua vida?

– Não, ninguém – respondeu Fleur.

E, provavelmente, nunca haveria, poderia ter acrescentado.

Mia olhou para ela, pensativa, mas não disse nada. Sabia que o pai de Fleur sempre tinha desanimado qualquer tipo de relação amorosa.

«Não desperdices a tua inteligência e a tua educação casando-te e tendo filhos», costumava dizer-lhe. «Terás tempo para isso.»

– Bom, pois deixa-me recordar-te que ambas fazemos vinte e sete anos no ano que vem. Não é que os nossos relógios biológicos estejam a chamar-nos a atenção exactamente, mas o tempo voa, querida – suspirou, desligando o secador. – Eu gostava de me casar e ter filhos, mas encontrar o homem certo parece uma tarefa impossível.

– Porquê?

– Porque, assim que conheço alguém a sério, perco todo o interesse – a sua amiga riu-se. – E, evidentemente, a culpa não é minha. Houve alguém especial desde que acabaste com Leo?

Fleur encolheu os ombros.

– Não, na verdade, não. Costumo sair com os colegas do laboratório, mas volto sempre sozinha para casa… como a boa rapariga que sou.

Embora nem sempre tivesse sido assim. Quando estava com Leo, quando eram tão importantes um para o outro…

Mas deixara que o seu pai interferisse na relação e, nos três anos que tinham passado desde então, dera-se conta de que acabarem fora o melhor. Fleur estava convencida de que o casamento não era para ela. Nunca se arriscaria a acabar como a sua mãe, que tinha passado a vida a fazer o que o seu marido queria.

Embora o seu pai fosse um bom homem, tinha dominado por completo a vida da sua mulher e da sua filha. Só havia uma opinião que importava naquela casa: a de Philip Richardson. E nunca aceitava que pudesse estar errado ou que os outros tivessem razão.

Com o seu intelecto analítico, Fleur sabia que era um erro terrível que um ser humano, fosse quem fosse, levasse sempre a sua avante. E, certamente, ela nunca conseguiria suportar um marido assim.

Suspirando, levantou-se e olhou pela janela para o jardim e o bosquezinho que rodeava a propriedade.

Mas Mia, intuindo a sua tristeza repentina, foi em seu auxílio:

– Infelizmente para o resto de nós, quando éramos jovens e inocentes, eras a rapariga por quem todos se apaixonavam. E tínhamos muitos ciúmes de ti, garanto-te.

– Não digas tolices.

– Tolices? Não sei como pudeste permanecer solteira tanto tempo, Fleur Richardson, a sério.

Era verdade que Fleur sempre parecera atraente aos homens. A sua figura delicada e rosto ovalado dominado por uns olhos verdes enormes despertavam grande admiração. Para além de mais duas características muito sedutoras: uma grande inteligência e uma natureza vulnerável que fazia com que os homens desejassem protegê-la.

– É fácil continuar solteira, garanto-te. Basta manter a cabeça baixa e trabalhar sem descanso. Tenho sempre coisas para fazer no laboratório, coisas que não podem esperar. Além disso, os homens querem controlar tudo e eu gosto de controlar a minha própria vida.

– Alguns são assim, é verdade – assentiu Mia, rindo-se. – Mas há muitas maneiras de lidar com isso. De facto, é fácil convencê-los de que és tu quem tem razão.

– Se tu o dizes… Mas eu prefiro não ter de negociar com ninguém. Se só tiver de me contentar, não há nenhum conflito. E eu gosto de levar uma vida tranquila.

– Não te preocupes, encontrarás alguém que te faça mudar de ideias – Mia riu-se, olhando especulativamente para a sua amiga. Estava pálida e parecia ter perdido peso…

– Veremos – disse Fleur.

– Estás muito magra, querida.

– Na verdade, ultimamente não me sinto muito bem. Perdi o apetite e estou sempre cansada. O médico mencionou a palavra «stress»… Odeio-a! Foi por isso que decidi tirar umas longas férias este Natal, portanto, só tenho de voltar a trabalhar em meados de Janeiro.

– E porque não ficas aqui? – sugeriu Mia. – Os outros partirão depois do Natal, mas eu só penso voltar para Londres no dia dois de Janeiro. Podíamos ficar aqui juntas, iríamos divertir-nos.

– Não sei…

– Fazia-te bem um pouco de tranquilidade e ar fresco, e Pat adoraria cuidar de ti. E garanto-te que, se a comida de Pat não te devolver o apetite, nada o fará. Não tens outros planos, pois não?

– Não, mas não quero incomodar ninguém…

– Não vais incomodar ninguém, pelo contrário. Fica aqui comigo, Fleur. Podemos passear, ver filmes, ficar na cama até ao meio-dia, se quisermos. Não temos de dar explicações a ninguém e é o que tu queres, não é?

– A verdade é que parece maravilhoso – Fleur sorriu finalmente, – mas não quero que ninguém tenha de cuidar de mim.

– Pat adorará cuidar de ti – garantiu-lhe Mia. – Às vezes, a coitada fica aqui sozinha durante semanas – acrescentou depois, abrindo a porta do armário. – O que visto? O que visto? – murmurou para si mesma, antes de escolher umas calças de ganga e uma camisola de lã grossa. – Temos de trazer as tuas coisas do carro.

– Ah, é verdade!

– E depois, deixo-te um pouco em paz para que ponhas tudo ao teu gosto. Vamos estar sozinhas até amanhã, portanto, podemos mexericar sobre toda a gente. Viste a árvore de Natal? Está linda, não está? Pat é uma querida, a sério.

– Vive sempre aqui?

– Não, não, só quando eu ou o meu irmão vimos… ou algum amigo. Vive numa das casinhas da propriedade, com a sua mãe. O meu irmão trabalha num escritório em Londres e não vem muito aqui – Mia pegou numa escova e começou a escovar o cabelo. – Mas, como é o irmão mais velho, é o responsável por Pengarroth, agora que os meus pais já não estão cá.

– Não deve ser fácil para ele gerir o escritório e a propriedade ao mesmo tempo. E presumo que nunca tivesse imaginado que teria de o fazer tão cedo.

– Não, claro. Nenhum dos dois imaginou que aconteceria – Mia suspirou. – Os nossos pais terem morrido de forma tão inesperada há quatro anos, antes de fazerem sessenta anos, foi um golpe terrível para nós os dois.

– Eu sei – assentiu Fleur.

Nunca conhecera os pais ou o irmão de Mia, mas sabia tudo sobre eles.

– Seb teve de cuidar de tudo desde então. Só tinha trinta anos e apreciava a sua vida em Londres… Demasiado, na opinião de muita gente, na verdade. Mas o playboy do meu irmão teve de crescer de repente e não creio que tivesse gostado. Felizmente, habituou-se e a minha avó está muito contente. Os meus avós adoravam Pengarroth, porque viveram aqui durante grande parte das suas vidas.

– A tua avó ainda é viva? – perguntou Fleur.

– Sim, claro que sim. O meu irmão e eu vamos visitá-la com frequência. De facto, acho que em jovem era muito coquete… antes de conhecer o meu avô, é claro! E continua a adorar a cidade.

– Onde vive agora?

– Em Londres, num apartamento lindo. Embora já tenha oitenta anos, tem um enorme círculo de amigos com os quais vai ao teatro, ao cinema, jantar fora, jogar brídege… Não há quem a pare, mas adora saber que Pengarroth continua a ser da família. E adora Sebastian, é claro! É o seu menino bonito.

– E não vem passar o Natal aqui?