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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2000 Leanne Banks

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um desafio, n.º 353 - abril 2018

Título original: The Doctor Wore Spurs

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-326-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

Jill conteve a ansiedade enquanto arrumava a sua sala temporária no sector administrativo do hospital. Tinha anos de experiência e raramente agia contra a sua vontade. Não se considerava covarde, apenas detestava ser manipulada.

Assim, uma semana depois do desafio proposto pelo doutor Tyler Logan, ela instalava-se em Fort Worth certa de que ele ignorava a dimensão da proposta. O médico não fazia ideia de que estava a dar a Jill a oportunidade de se confrontar com a sua mais secreta dor, ao envolver-se com crianças hospitalizadas.

Com gestos lentos, ela retirou alguns papéis e o computador da mala. Olhou pela janela e examinou a paisagem central da chamada «Fort Worth». A poucos quarteirões dali, viam-se os antigos casarões, a estátua do pioneiro William Pickett e o bar Billy Bob, o maior saloon do Texas. Onde quer que o trabalho de Jill a levasse, ela julgava que se integraria melhor caso se adaptasse aos costumes locais. Teria de se comportar, portanto, como uma rapariga do campo, hábil na montaria e devoradora de churrascos. O que não seria fácil, uma fez que era vegetariana.

– É por pouco tempo – murmurou para si mesma, completando o pensamento com um gracejo: – Insanidade temporária.

Imaginara que, durante a estada em Fort Worth, aquele escritório seria o seu refúgio, o lugar onde poderia isolar-se para rir ou chorar, o seu recanto de paz e realização profissional.

Mas enganara-se, pois naquele momento a porta abriu-se com um estalido.

– Bem-vinda a Fort Worth!

Uma contracção no ventre acusou a sua surpresa com mais intensidade do que a expressão facial. A voz era a mesma que a assombrara constantemente, na última semana, mas Jill resolveu não dar tanta importância ao detentor de tal voz. Tyler Logan tinha apenas estendido uma ponte entre o presente e o passado. Do outro lado dessa ponte, ela esperava reencontrar a sua paz de espírito.

Jill espantou-se com a exótica combinação de bata branca e roupas de cowboy: calças de ganga justas, camisa xadrez e botas. O estetoscópio parecia um corpo estranho pendendo do pescoço dele. Os ombros largos e o olhar penetrante no rosto bronzeado poderiam atrair fisicamente uma mulher, mas Jill não costumava impressionar-se assim.

– Obrigada – disse finalmente.

– Se faltar algum material na tua sala, avisa-me. Procurei deixar tudo pronto e arrumado.

Ela riu de leve e relaxou um pouco.

– Tinhas assim tanta certeza de que eu viria?

– Se seguiste os teus instintos… – ele aproximou-se da janela. – Este é um bom lugar para se viver.

– Temporariamente – repetiu ela, mais para si mesma do que para Tyler.

– Porque é que demoraste uma semana a decidir?

Aquela fala arrastada do Texas e os passos duros aborreceram Jill, que esboçou um sorriso complacente. O homem demonstrava impaciência, e ela conhecia bem tal sensação. A duras penas, tinha aprendido a lidar com a sua própria ansiedade.

– Tive de concluir um projecto em andamento, antes de me mudar para cá. Além disso, tive de pensar bem no tipo de trabalho que me espera. Não gosto de tomar decisões apressadas.

– Bem, isso surpreende-me. Tu és uma estrela na tua profissão.

Jill voltou à mesa e fingiu terminar os arranjos.

– É assim que tu consegues o que queres?

– Assim como?

– Disfarçando chantagem emocional com gentileza?

Ele arregalou os olhos com ar de inocência.

– Não fiz nem uma coisa nem outra. Só disse a verdade. E chantagem é um termo duro demais. Não sou tão mau como tu pensas, apenas fiz o necessário para garantir os teus serviços em prol da nova ala de pediatria do hospital. Por acaso, eu deixei-te preocupada com o meu desafio?

– Um pouco.

Jill disfarçou o efeito que a presença de Tyler lhe causava. Examinou-o com atenção e percebeu um detalhe diferente numa das extremidades do estetoscópio. Era um pequeno urso.

– Gostaste do Wild Cody?

– Wild Cody? – Jill olhou para ele com ar de interrogação.

– O meu ursinho. Distrai as crianças enquanto eu as examino.

Ele retirou do bolso um minúsculo urso de pelúcia. Ao dá-lo a Jill, manteve a sua mão fechada sobre os dedos dela, provocando uma espécie de corrente eléctrica na sua pele.

– Agora, tu és oficialmente sócia do Clube do Ursinho.

Porque é que o seu coração batia acelerado ao toque de Tyler? Ele recolheu a mão quando ela olhou para o boneco e suspirou.

– Obrigada. Também dás estes ursinhos aos teus pacientes?

Tyler ergueu as sobrancelhas.

– Não é má ideia, mas teria de comprá-los em grande quantidade. Vou ver se convenço o Clarence a requisitar uma caixa – ele gesticulou enfaticamente, não sabendo onde enfiar as mãos, e Jill quase desejou que Tyler a tocasse de novo. – Estás a ver? Ainda nem começaste a trabalhar connosco e já deste uma óptima sugestão.

– Ter ideias é a parte mais fácil. A mais difícil vem depois – Jill referia-se ao seu drama pessoal, reconhecendo que Tyler não compreenderia o comentário.

– É como eu disse. Tu precisas de desafios – interpretou ele.

– Porque é que insistes nisso, se mal me conheces?

– Bem, a tua reputação precede-te. Preferias ter sido contratada por causa das tuas belas pernas? Ou que eu dissesse que sei identificar uma alma generosa?

– Por acaso estás a fazer um teste? – a sua voz traiu o seu nervosismo.

– Talvez – ele aproximou-se mais e encarou-a com os olhos azuis penetrantes.

«Estava a tentar ter um flirt com ela», concluiu contrariada. O seu ex-marido não tinha sido menos insinuante quando o conhecera. Mas não queria repetir a experiência.

– Olá, menina! – a saudação veio de uma mulher que estava parada à porta. O olhar dela desviou-se imediatamente para Tyler e o tom de voz mudou. – Ah, como vai, doutor Logan?

– Olá, Trina. Já conheces Jill Hershey, a nossa especialista em relações públicas?

– Sou Trina Morgan – estendeu a mão a Jill. – Serei a sua assistente pessoal enquanto estiver em Fort Worth.

Tyler fez menção de sair.

– Cuide de Jill por nós, Trina. Ela é uma preciosidade.

Ele não passou a porta sem antes olhar para as pernas de Jill e subir o olhar de cobiça pelo resto do seu corpo. Trina esperou que ele saísse e então comentou:

– Gosto de fazer tudo o que posso pelo doutor Tyler.

– Ele é muito simpático.

– Simpático? Esse homem sabe como fazer uma mulher sentir-se uma rainha!

Jill não pôde deixar de sorrir.

– Não estás a exagerar?

– Quando o doutor Tyler descalçar as botas ao lado da minha cama, poderei dizer se estou a exagerar ou não – Trina riu sonoramente. – Todas as mulheres do hospital o adoram. Ele é charmoso, carismático, inteligente, divertido, generoso e gosta de crianças. Deve ter os seus casos, mas é discreto. Nunca se ouviu falar de nada.

A mulher fez uma pausa no seu discurso empolgado e reparou no boneco que Jill mantinha na mão.

– Oh, Deus! – murmurou em tom baixo, com um toque de inveja. – O doutor Tyler deu-lhe um ursinho. Deve gostar de si.

Sem demora, Jill guardou o boneco na gaveta.

– Não se preocupe. Para mim, isto não tem nenhum significado romântico. Tyler só quer que eu ajude a angariar fundos para a nova ala de cardiologia pediátrica.

– Está a dizer-me que não pensou em namorá-lo? – Trina pestanejou, incrédula. – Por acaso é casada?

– Não, apenas não estou interessada – sorriu para a assistente. – Já tive uma grande decepção e não pretendo envolver-me com ninguém.

 

 

Mais tarde, uma batida na porta interrompeu a concentração de Jill no ecrã do computador. Tyler irritou-a com as suas habituais passadas longas e com a vigilância que parecia manter sobre ela.

– Está na hora de darmos uma volta por aí – propôs, sem se abalar com o olhar de censura que recebeu.

– Mas Trina já me mostrou todo o hospital e apresentou-me a meio mundo. Foi muito prestativa.

– Tenho a certeza disso, só que comigo o passeio vai ser diferente. Quero que conheças alguns dos meus pequenos pacientes.

Jill ficou inquieta e o estômago doeu-lhe outra vez.

– Não precisas de fazer isso, Tyler. Não no primeiro dia.

– Perdão, mas eu insisto. É a maneira certa de dar um sentido maior ao teu trabalho.

– Concordo, mas vamos deixar para amanhã. Tive um dia cheio e ainda estou a digerir tantas informações. Estou exausta e…

– Porque é que não queres ver as crianças internadas?

O peso no estômago subiu para o coração e secou a garganta de Jill. Como convencer Tyler de que ainda não estava preparada para se encontrar com os pequenos doentes? Sentia-se incapaz de encará-los. Respirou fundo, tentando acalmar-se.

– Não disse que não queria vê-las. Só prefiro não fazer isso hoje.

– Vamos agora – ele foi taxativo.

Resignada, Jill mordiscou o lábio inferior e seguiu Tyler corredor afora. Teve de se apressar para sincronizar os passos com os dele.

– Temos três crianças na sala de recuperação e outras quatro em preparação para cirurgia.

Chegaram rapidamente ao elevador.

– Qual é a idade delas?

– De dois a doze anos.

Disfarçar as emoções exigia de Jill um esforço sobre-humano. Ver crianças hospitalizadas era algo que lhe despertava lembranças dolorosas demais. Para desviar o pensamento, ela concentrou-se no tórax vigoroso de Tyler, no qual pendia o estetoscópio com o ursinho.

– Porque é que tu escolheste esta especialidade?

– Acho que eu é que fui escolhido. Por vontade do meu pai, ainda estaria a cuidar do nosso rancho. Ainda bem que o meu irmão mais velho assumiu a missão.

– Soube que a tua família é tradicional na região.

– É verdade. Os Logan estão por aqui há três gerações, e temos muitos negócios com os rancheiros vizinhos. Mas alguns deles afirmam que carregamos uma maldição…

– Maldição? – Jill mostrou-se intrigada. A ideia de desgraças e catástrofes não combinava com a figura do médico.

– Nunca acreditei nisso, embora seja um facto que os homens da família Logan não têm tido sorte no amor. As esposas não ficam muito tempo com eles.

– Elas abandonam-nos?

– Ou morrem – ele encolheu os ombros, mas o seu olhar cobriu-se de tristeza.

– Meu Deus! É por isso que não te casaste?

– Não… – a resposta foi hesitante. – Ainda não encontrei a pessoa certa. E quanto a ti?

– Pensei que tinha encontrado, mas enganei-me.

– Ah, eu achava mesmo que tu carregavas uma mágoa do passado. O que é que ele fez?

– Deixou-me no pior momento possível – Jill suspirou, desconsolada, mas a chegada do elevador poupou-a de maiores explicações. – Felizmente, já superei tudo.

– Então estás pronta para a próxima batalha?

Tyler conduzia Jill pelo corredor da ala pediátrica, e a sua pergunta poderia referir-se à visita aos pacientes. Mas o seu olhar indicava que não.

– Quero dar tempo ao tempo – disse ela, ponderando que o homem ao seu lado representava uma tentação para qualquer mulher, ainda mais para uma carente, como ela. – Mas não é preciso tratares-me como um bibelot. Prefiro o assédio directo, pois assim é mais fácil livrar-me dele.

Tyler concentrou o olhar nos lábios trémulos de Jill e contemplou-a com o seu sorriso mais sensual.

– E se eu dissesse que gostaria de namorar contigo?

– Devias guardar o teu charme para a legião de mulheres que te querem conquistar.

– Ah, andaste a conversar com Trina… – Tyler riu.

– Não perguntei nada, ela é que me contou.

– Mesmo que não pretendas conquistar-me, podes estar a estimular as minhas fantasias.

– Estou certa de que vais sobreviver sem isso – Jill tentou gracejar em vão. – Não quero ter laços nem compromissos com ninguém. Prefiro ver-te de longe, nas fotos que vamos fazer para a imprensa.

– Qualquer homem tomaria essas palavras como um desafio – rebateu ele com firmeza.

– Mas tu és inteligente demais para isso – disse ela, procurando ser convincente. A inteligência era uma coisa e a vaidade masculina outra.

– Veremos – concluiu Tyler antes de abrir uma larga porta basculante no fim do corredor. – Olá, Betty. Como está o TJ?

Uma enfermeira veio ao encontro dele. A calma do corredor vazio deu lugar ao intenso movimento da unidade pediátrica.

– TJ está um pouco abatido – informou a rapariga de branco. – A mãe dele só pode vir amanhã de manhã.

Tyler balançou a cabeça com ar de reprovação.

– É um menino de sete anos que precisa de ser operado a uma válvula cardíaca – explicou ele a Jill. – A mãe tem mais cinco filhos e um marido inválido. Moram muito longe, na periferia.

Ela sentiu um aperto no coração, que se acentuou quando Tyler a fez entrar no quarto do menino. Era magro, com as faces pálidas e os olhos desorbitados de medo.

– Olá, amigo! – Tyler animou TJ, aproximando-se da cama. – E então?

– A minha mãe não vem passar a noite comigo – choramingou o menino.

– Já sei, mas tu precisas de descansar bastante para a cirurgia de amanhã.

– Vou poder jogar futebol depois da operação?

– Não logo a seguir, claro. Mas, dentro de algumas semanas, pode aparecer uma equipa da primeira divisão a convocar-te.

TJ sorriu e pousou os olhos na mulher estática atrás de Tyler, que notou o interesse do menino.

– É a tua namorada?

– Não – apressou-se Jill a responder. – Trabalho no hospital.

– Não me vais espetar com agulhas e tirar mais sangue, pois não? – desconfiou TJ, apesar de Jill não estar vestida de branco.

– Nem eu nem o doutor Tyler. Ele disse-me que tu tens muitos irmãos. És o mais velho?

– Sou o do meio – TJ balançou a cabeça, mais animado com as atenções recebidas. – Uma irmã minha está com gripe e eu tive que vir para o hospital porque não podia ficar engripado antes da operação. Já estou aqui há quase uma semana.

– Deve ser chato ficar fechado num hospital – comentou Jill, sob o olhar reprovador do médico.

– Chato para quem? – questionou Tyler.

– Bem, um cirurgião pode operar de pé e divertir-se com os bisturis – contrapôs ela.

– A comida é má – afirmou o menino com decisão. – Quando voltar para casa, vou comer bifes e batatas fritas e treinar futebol o dia inteiro. Também gosto de ler. A minha mãe lê-me uma história todas as noites.

Comovida, Jill olhou para a pequena pilha de livros amontoados na mesa-de-cabeceira.

– Queres que eu leia um pouco para ti?

– Sim, sim! – o rosto do menino iluminou-se.

Nesse momento, o pager do médico tocou e ele leu a mensagem no visor.

– É uma chamada de outro médico. Precisa de uma opinião no sector de emergências. Volto já.

Tyler saiu rapidamente, após acenar para TJ e brindar Jill com um olhar significativo. Não se enganara quanto à boa alma que ela possuía. Por sua vez, Jill não tinha motivos para agradar ao médico, mas comovera-se com a situação de TJ e sabia que podia ajudá-lo a distrair-se um pouco.

Depois de pegar num livro do Tarzan que estava na mesinha e aproximar uma cadeira, ela leu para o menino durante um tempo indefinido, concentrando-se nas páginas em vez de focalizar o rosto assustado de TJ. Acabou por adormecer junto com ele.

A mão grande e quente no seu ombro acordou-a. Tyler mantinha o dedo indicador sobre os lábios, pedindo silêncio.

– TJ está a dormir. Anda – tomou-lhe a mão e guiou-a para fora do quarto. – Desculpa, não queria fazer-te trabalhar esta noite.

– Não foi nada – argumentou Jill, livrando-se dos dedos assim que pode. – Gostei de ser útil.

Ele parou no meio do corredor e observou-a de cima a baixo.

– Porque é que escondes as tuas emoções? Fazes questão de parecer fria, como se nada nem ninguém pudesse atingir-te, mas vi como te comoveste com TJ. Pensei que não gostasses de crianças.

– Eu nunca disse que não gostava – Jill suspirou de frustração, sentindo-se injustiçada. – Só afirmei que preferia lidar com projectos para adultos. Como foi a tua consulta?

– Duas consultas e uma junta médica, por isso demorei a voltar. Sei que já é tarde, mas ainda há uma coisa que te quero mostrar – conduziu-a até ao elevador. – Depois podemos jantar.

– Para mim, o jantar é dispensável, Tyler.

– Claro que não.

– Ora, porquê?

– Nunca ouviste falar que não se deve discutir as ordens do médico?

– Isso é mais uma ficção que aprendeste na faculdade de medicina – apesar das palavras, o tom da resposta foi suave.

– Mais respeito, rapariga, mais respeito – Tyler reagiu com bom humor enquanto as portas do elevador se abriam. – Tu não poderás ler para ela, mas acho que vais gostar de conhecer a minha mais jovem paciente.

No andar superior, contornaram o corredor e chegaram a um berçário envidraçado, assistido por diversas enfermeiras de máscara no rosto. Pelo vidro, apontou para um berço separado dos demais, cuja ocupante estava ligada ao soro e ao monitor cardíaco.

– Está ali. Chama-se Annabelle Rogers. Tem três meses.

Lívida, Jill não conseguiu tirar os olhos da menina, embora fosse isso o que mais desejasse fazer. No fundo, queria sair dali a correr. Velhas imagens de outro hospital assaltaram a sua mente, provocando um sofrimento atroz.

Como numa longínqua ladainha, notou que Tyler continuava a falar. Mas o que ouviu foi a voz de outro médico, vinda dos desvãos da memória.

«Lamento muito, senhora Hershey. Não pudemos salvar o seu bebé.»

De repente, tudo ficou escuro.