minisab76.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2016 Harlequin Books S.A.

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Vingança e desejo, n.º 76 - abril 2018

Título original: To Blackmail a Di Sione

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-466-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

Bianca di Sione deu uma olhadela ao salão de eventos cheio de pessoas e procurou a sua irmã Allegra. O bulício era cada vez maior, mas estava demasiado preocupada para se aperceber. Tinha a sensação de que a irmã tinha problemas, embora não tivesse dito nada, pois isso teria sido impróprio dela.

Quando a conferência começara, viu que Allegra subia ao palco e soubera que alguma coisa estava mal. Tinha o aspeto impecável que mostrava sempre ao mundo, mas estava pálida e Bianca sentiu remorsos, para além de preocupação. O pedido do avô, doente terminal, preocuparia mais Allegra, mas tinha de falar com ela. Tinha de desabafar com alguém e Allegra sempre fora essa pessoa. Adotara o papel de mãe depois da morte trágica dos pais, quando eles eram crianças, e sempre estivera ao seu lado.

Apresentaram o último orador, mas não conseguia concentrar-se, pois não parava de pensar no que o avô lhe pedira na semana anterior. Estivera tão fraco que não insistira para lhe pedir mais informações, mas arrependia-se. Só tinha a história das suas Amantes Perdidas, que contara aos irmãos e a ela. Além disso, não fora a única a quem pedira a tarefa de recuperar uma dessas «Amantes», mas ela entendia como eram importantes para ele. Recordava quantas vezes lhes contara que, graças a essas joias, conseguira criar a empresa Di Sione quando chegara aos Estados Unidos. Sempre se referira a elas como o seu legado.

– Menina Di Sione, que prazer tão inesperado!

Aquela voz, que ainda tinha um certo sotaque, afastou-a dos seus pensamentos. Virou-se e olhou para o rosto duro, mas inegavelmente atraente, de Liev Dragunov. O fato escuro realçava a dureza irradiada pelos seus olhos cinzentos como o gelo e o corte de cabelo curto e castanho era tão severo como a sua expressão. Era imponente, como quando o conhecera, quando entrara em contacto com ela para que a empresa dela o representasse. Embora tivesse os dentes cerrados, conseguia ver um sorriso. Ficou atónita. Era o que menos lhe apetecia naquele momento, mas aceitaria um não como resposta?

– Senhor Dragunov, espero que esteja aqui por algum motivo… legítimo.

Sentiu o mesmo calafrio que sentira na semana anterior, quando ele aparecera no seu escritório. Até começara a questionar-se se estava a perder a capacidade de conhecer as pessoas. Allegra parecera esquiva, certamente, por ter viajado tanto ultimamente, mas aquele homem autoritário e dominante desassossegava-a demasiado.

– Tudo o que faço tem um motivo legítimo.

Percebera um certo tom ameaçador? Bianca arqueou uma sobrancelha enquanto olhava para ele. Não se sentia completamente imune ao seu aspeto de rapaz mau e observou-o com discrição enquanto ele observava o salão. Puxou os botões de punho da camisa branca como se estivesse a preparar-se para uma batalha ou um confronto e ela sentiu vontade de se esticar para tentar ficar à sua altura.

– É possível, mas que motivo pode ter para estar aqui, senhor Dragunov? Genebra é muito longe de Nova Iorque.

Ele voltou a concentrar a atenção nela, que o observou e teve de fazer um esforço para não tremer devido à sua frieza. Manteve o queixo erguido com um ar impassível para disfarçar a inquietação, algo que aprendera ao longo dos anos.

– Como fiz uma doação considerável à Fundação Di Sione, parece-me prudente verificar o trabalho que faz. Não está de acordo, menina Di Sione?

Ele aproximou-se um pouco mais e baixou o tom de voz. Embora sorrisse com cortesia, ela percebeu algo mais.

– Interessa-lhe que as mulheres dos países em desenvolvimento tenham mais oportunidades, senhor Dragunov?

Bianca não pôde evitar dizê-lo com uma certa ironia e também não ignorou que ele cerrava os dentes com um brilho resistente nos olhos. Estaria a usar a Fundação Di Sione para voltar a falar com ela? Deixara muito claro que a sua empresa não podia encarregar-se da sua próxima campanha de lançamento e ele, evidentemente, não o aceitara com agrado.

Apertou a pasta contra o peito sem saber muito bem o que aquele homem tinha para a deixar tão nervosa… E excitada. Criara algo dentro dela, provocara-a como nenhum outro homem, e a sua reação imediata era defender-se, mas de quê? Já era um combate dialético, como fora da primeira vez que aparecera no seu escritório. Então, contivera a sua reação devido ao choque do pedido do avô, mas já não tinha a certeza. Liev Dragunov era uma força da natureza que não podia ignorar-se e, naquele momento, não queria estar com ele.

Ele tinha os olhos fixos nela, mas recusou-se a desviar o olhar e a dar-lhe o mínimo poder sobre ela. Aprendera desde muito pequena a manter o domínio sobre si própria, mesmo que se sentisse nervosa. Tinham passado muitos anos desde que um homem a incomodara assim e nunca a afetara tanto. Nunca permitiria que aquele multimilionário russo soubesse, sobretudo, quando a deixava insegura com um simples olhar gélido.

– Não, mas estou interessado em si.

A resposta foi muito direta e ela quase ficou boquiaberta, mas conseguiu evitá-lo. Só houvera um homem que fora igualmente direto e quase acreditara nele. Dez anos depois, um homem de quem desconfiava instintivamente, embora a atraísse, fizera-a reviver a humilhação da noite da sua graduação. Não sabia porque a atraía e, naquele momento, a sua vida era demasiado ocupada para parar para pensar nessa tolice.

– Senhor Dragunov, na semana passada, já lhe expliquei que não posso representá-lo, nem a si nem à sua empresa.

O aborrecimento fez com que as suas palavras fossem cortantes e inflexíveis e ele semicerrou os olhos com receio, o que aumentou ainda mais o poder que irradiava.

– Não acredito.

Aproximou-se outro passo e ela sentiu o cheiro da loção de barbear, tão forte e dominante como o próprio homem. Não conseguia desviar o olhar. O coração acelerou e interrogou-se se voltaria a respirar de uma forma normal. Quando pensou que não conseguiria continuar a fingir indiferença, ele recuou um pouco.

– Também acho que não acredita – continuou ele, antes de ela conseguir recuperar. – Sei que não acredita.

Estava a pressioná-la demasiado e observou-o com raiva enquanto se questionava se conseguiria reunir uma certa segurança em si própria. Então, lembrou-se de que fizera uma doação considerável à fundação de beneficência da irmã e não podia pedir que o expulsassem. Allegra já tinha muitas preocupações e não queria acrescentar mais uma por causa de um homem que não entendia a palavra «não». Teria de lidar com ele sozinha. Era impossível fazer uma campanha de relações públicas para a empresa dele quando era adversário do seu cliente mais importante.

– Senhor Dragunov, o que lhe disse era a sério. – Manteve a máscara de profissionalismo, embora se sentisse alterada. – Agora, não posso falar, mas pode marcar uma reunião com a minha secretária quando voltar para Nova Iorque.

Ouviu-se uma ovação e dirigiu a atenção para o palco, embora não conseguisse esquecer a sensação de que tinha poder sobre ela. Não sabia como, mas ele conseguira ter vantagem e estava numa posição superior à dela.

– Se me desculpar, tenho de falar com a minha irmã – acrescentou ela.

Há muitos anos que não se sentia tão incomodada com uma situação. Observou-a e os seus olhos estudaram-na como se conseguissem ver tudo o que ela quisera deixar para trás. Não gostava daquilo. Já tinha muitas preocupações sem Liev Dragunov e a sua insistência acrescentarem mais uma.

– Jante comigo esta noite, menina Di Sione. Se, depois, continuar sem querer representar a minha empresa, deixá-la-ei em paz.

Jantar com aquele homem? Porque é que o coração acelerava só de pensar em sentar-se a uma mesa com um copo de vinho e jantar com ele?

– A minha resposta continuará a ser a mesma.

Ela manteve o ar de indiferença para tentar disfarçar o redemoinho de emoções que se apropriava dela. Há muito tempo que não jantava com um homem.

– Então, não perderá nada e teremos tido o prazer de estar juntos.

Ele esboçou um sorriso.

– Se aceitar – ela não soube de onde tinham saído aquelas palavras nem porque estava a brincar com o fogo –, vai descobrir que desperdiçou uma noite, senhor Dragunov.

– Estou pronto para aceitar essa possibilidade.

– O que estou a dizer, senhor Dragunov, é que não mudarei de opinião.

– Então, podemos jantar. Está alojada neste hotel, não está?

Olhou para o relógio e ela deu por si a observar as mãos poderosas. Corou ligeiramente.

– Sim… – confirmou, com receio.

Parecia que sabia demasiadas coisas sobre ela, mas descartou a ideia e decidiu que descobriria o motivo por que era tão insistente.

– Encontramo-nos no bar às sete e meia.

O seu tom não admitia discussão, mas ela não estava disposta a permitir que a dominasse. Se quisesse que a empresa dela o representasse, tinha de saber quem tomava as decisões.

– Não sei se será uma boa ideia – replicou ela, mantendo a firmeza.

Ele não se parecia com nenhum homem que conhecera. Era indomável, mas havia mais. Quando saíra do escritório dela, ela fizera as averiguações habituais, mas não encontrara nenhum motivo para o rejeitar, para além de ser um possível adversário da ICE, a empresa do irmão.

– Um jantar de trabalho, menina Di Sione.

Ele respirou fundo. Foi o único indício de que estava a fazer um esforço para manter a frieza.

– Ainda espero conseguir convencê-la a representar a minha empresa.

– Isso não é possível…

– Só um jantar.

 

 

Liev observou Bianca di Sione, que olhava à volta enquanto o orador acabava o discurso entre aplausos, e não pôde conter o sorriso de satisfação. Finalmente, a princesa de gelo começara a ceder. Todas as suas tentativas sérias e profissionais tinham sido em vão, mas, aparentemente, só precisava de um bom vinho e de um jantar à luz das velas, como quase todas as mulheres e uma do seu passado em concreto. O catálogo de um leilão que vira na mesa do seu escritório na semana passada dera-lhe essa pista. Se gostava de joias, também gostaria de sair para jantar, mesmo que fosse com a desculpa de um jantar de trabalho.

Enquanto tinham falado, tivera de fazer um esforço para não se sentir dominado pela imagem de Bianca, pelo cabelo comprido e escuro a cair sobre os ombros e as velas a realçar a sua beleza enquanto jantava à frente dele. Essa imagem dominava a sua mente e queimava-o por dentro, mas não podia permitir que ameaçasse os seus planos. Sabia muito bem como uma mulher bonita podia ser destrutiva. Descartara implacavelmente esses pensamentos. Desejar fisicamente a arrogante Bianca di Sione não entrava nos seus planos. A sua estratégia era fazer com que a sua empresa representasse a dele e que lhe permitisse aproximar-se do objetivo final. Ela era um meio necessário para um fim e mais nada.

– Só um jantar. E mais nada.

– Tem a minha palavra.

– Porque haveria de confiar em si? Não sei nada sobre si, senhor Dragunov. Para quem é dono de uma empresa tão próspera, é complicado encontrar alguma informação.

Investigara-o… Rejeitara a quantia generosa que lhe oferecera, mas, mesmo assim, mantivera interesse suficiente para descobrir mais coisas.

– Acho que poderia dizer o mesmo sobre si, menina Di Sione.

Ele conhecia todas as maneiras de manter a informação escondida e, a julgar pela discrição com que dirigia a empresa, era um conhecimento que ela também tinha.

– Isso significa que tentou descobrir mais coisas sobre mim? Eu fiz o mesmo consigo.

Daquela vez, ela disse-o num tom brincalhão e com um sorriso leve nos lábios. O que sentiria se os beijasse? Apagou imediatamente essa ideia da mente. Aborreceu-o que aquela mulher o alterasse assim.

– Fazer negócios não se trata disso, de saber quem são os nossos inimigos?

Ele, certamente, sabia quem eram os seus inimigos. Soubera-o desde que tinha doze anos, desde que os pais tinham morrido com alguns meses de diferença. Depois de perderem a empresa e a casa familiar, tivera de presenciar a queda do pai numa espiral de indiferença e bebida. Estava tão deprimido que não cuidara da esposa doente. Ele não pudera ajudar e dera por si a viver na rua e a ter de roubar para sobreviver. Essas lembranças estavam gravadas na sua mente. As cicatrizes ainda eram muito profundas. A raiva do pai perturbara-os, à sua mãe e a ele. Tinham-lhe arrebatado a família feliz que constituíra, com um futuro próspero e brilhante, e tivera de sobreviver sozinho, mesmo antes de os dois terem morrido, quando a mãe estava demasiado doente e o pai, demasiado ébrio.

Sim, efetivamente, sabia quem era o inimigo.

Duvidava muito que ela soubesse o que era um inimigo. Era mimada e fora protegida dos males do mundo por causa do nome da família. Se ela quisesse, ter-lhe-iam dado qualquer luxo. A única coisa que tinham em comum era a perda dos pais, à exceção disso, pertenciam a dois mundos diferentes.

– Inimigos? Somos inimigos?

– Como é que um homem poderia ser inimigo de uma mulher tão bonita como a menina?

– Acabou de ir demasiado longe, senhor Dragunov.

As palavras foram firmes, mas o seu sorriso iluminou-lhe o rosto.

– Até esta noite, menina Di Sione.

Foi-se embora antes de dizer mais ou de permitir que o hipnotizasse e o fizesse esquecer o que queria. Estava convencido de que, depois do jantar, ela estaria a gerir uma campanha lucrativa e de prestígio para a sua empresa. Finalmente, daria o primeiro passo para se vingar da empresa que destruíra a dos pais.

 

 

– Tens a certeza de que estás bem? – perguntou Bianca a Allegra, enquanto a irmã, cansada, se deixava cair numa poltrona.

A conferência fora um sucesso enorme, mas nunca vira a irmã com aquele aspeto de cansaço. Normalmente, teria estado exultante depois de um evento assim. Evidentemente, a doença do avô estava a ter o seu preço… Ou melhor, o esforço de encontrar os tesouros, as suas Amantes Perdidas. Impressionara-a que também tivesse pedido a Matteo, o irmão, para encontrar uma. Tinham ouvido as histórias que o avô contava sobre uns objetos preciosos que tivera de vender quando chegara aos Estados Unidos, mas não sabiam a história completa. Ela, como Allegra e Matteo, tencionava fazer tudo o que pudesse para recuperar a pulseira que o avô lhe pedira.

– Claro que estou bem. Além disso, temos de falar de coisas mais importantes, como quem era esse homem com quem estavas a falar antes.

– Esperava que me dissesses, já que é um dos teus patrocinadores mais importantes. – Bianca, preocupada com a palidez da irmã, serviu dois copos de vinho e assustou-se mais quando nem sequer isso lhe interessou. – É um multimilionário russo que quer que represente a sua empresa. Está bastante empenhado. Demasiado, na verdade. Até diria que fez uma doação considerável só para me pressionar.

– E qual é o problema? – perguntou Allegra.

– Para começar, represento a ICE e o Liev Dragunov é um adversário. No entanto, há mais alguma coisa e não sei o quê. Ele tem qualquer coisa…

Era algo selvagem, como se a vida ainda não o tivesse dominado. Bianca ficou pasmada com o que pensara e incomodou-a que a afetasse tão facilmente.

– Alguma coisa, para além de ser tão bonito? – perguntou Allegra, num tom brincalhão. – Bianca, não devias rejeitar todos os homens bonitos que aparecem na tua vida. O que se passou com o Dominic foi há dez anos.

– Então, vais gostar de saber que aceitei jantar com ele… Para falar sobre representar a empresa, claro.

– Entendo.

Allegra sorriu e Bianca sentiu-se aliviada. Embora isso não significasse que pudesse preocupá-la mais com o avô. Quando voltassem a Nova Iorque, teriam tempo para falar calmamente. Bianca abanou a cabeça.

– Não, Allegra. Suponho que esteja preocupada com a saúde do avô e o seu último pedido. Falou tanto das Amantes Perdidas que passaram a fazer parte da nossa infância. Questiono-me porque serão tão importantes neste momento.

– Não sei, mas parece-me que o colar do Matteo e a minha caixa Fabergé não têm relação. Como é que o avô conseguiu uns objetos tão caros? Entusiasmou-se ao ver a caixa e acariciou-a como se fosse realmente uma Amante Perdida.

– Encarreguei algumas pessoas de descobrir o paradeiro da pulseira. Vai ser leiloada em Nova Iorque na semana que vem. Entrei em contacto com o dono e ofereci-me para a comprar, mas não quis porque é uma peça única e prefere leiloá-la.

– Pelo menos, para ti, será fácil consegui-la, só terás de licitar – replicou Allegra.

Bianca voltou a sentir curiosidade pelo tempo que a irmã passara em Dar-aman, onde tinha encontrado a caixa Fabergé.

– Isto não tem sentido, mas se fizer com que o avô sorria quando está tão doente, farei o que for preciso.

– Não devias ir?

Allegra olhou para o relógio como a mãe que sempre fora para eles… Ou estaria a evitar as perguntas que ela desejava fazer? As dúvidas sobre aceitar jantar com Liev Dragunov começaram a corroê-la. Não tencionava representar a empresa dele e não gostava que a afetasse. Tinha algo que não conseguia definir e não queria mais uma preocupação.

– Sim, suponho que não devia deixar um homem tão rico e insistente à espera.

Quando Bianca chegou ao bar, viu-o imediatamente. Destacava-se por cima de todos os homens que o rodeavam e não só porque era tão alto e bonito. Tinha uma presença autoritária, mesmo entre os outros empresários muito prósperos. Estava sentado no bar, de costas para ela, e isso deu-lhe tempo para o estudar. O sucesso daquele homem era inegável e exibia-o com fatos feitos à medida e relógios caros. Também algo sem refinar que deixava entrever o perigo e que, provavelmente, servia para atrair as mulheres. Embora não a ela. Não voltaria a deixar-se arrastar por essa atração destrutiva.

– Lamento muito, atrasei-me um pouco.

Ele virou-se e olhou para o vestido preto e clássico que escolhera. Era suficientemente elegante para sair para jantar, mas não suficientemente atrevido para ele tirar as conclusões erradas. Se havia um homem com quem não queria enganos, era Liev Dragunov.

Sentou-se noutro banco e cometeu o erro de olhar para ele nos olhos. Eram cinzentos com tons azulados, como o mar na primavera, mesmo depois do inverno. Também parecia que a observavam com uma frieza premeditada.

– Não é um privilégio de todas as mulheres?

– Não. A verdade é que não é. Entretive-me com um assunto familiar e desculpo-me por isso.

hardwaresoftware

– Senhor Dragunov, represento a ICE, a empresa líder do mercado. Não vejo nenhum motivo para pôr esse contrato em perigo para representar a sua empresa, seja concorrência direta ou não.

Cerrou os dentes quando a ouviu a menosprezar a sua empresa. Talvez não fosse a empresa líder do mercado, ainda, mas o empresário que era naquele momento não estava habituado a ser menosprezado. Não o teria tolerado quando começara a reconstruir a empresa do pai a partir dos resíduos que a aquisição desumana da ICE deixara e não ia tolerá-lo naquele momento.

– Serviria de alguma coisa se fosse ao seu escritório e lhe mostrasse alguns dos produtos? Na quarta-feira que vem, por exemplo.

– Lamento muito, senhor Dragunov, mas não serviria de nada e, além disso, na quarta-feira que vem, tenho de ir a um leilão.

Levantou-se, pegou na mala e deu o jantar de trabalho por acabado antes de ter começado. Liev recordou o catálogo do leilão que vira no seu escritório e a pulseira que estava marcada. A rainha de gelo sentia paixão pelas joias e confirmava a primeira impressão que tivera dela. Era uma menina rica e mimada cortada pelo mesmo padrão que a mulher com quem pensara que se casaria.

– Muito bem, menina Di Sione. Deixou muito claro o que sente.

O seu tom tenso não alterou aquela mulher fria. Olhou para Bianca, deixando de lado o vestígio de interesse que tinha por ela como mulher, e recordou o motivo por que a procurara. O seu plano para descobrir tudo o que queria saber sobre a ICE poderia ter-se frustrado com a rejeição dela, mas ele ainda não acabara. Ela era a chave para se vingar de uma empresa que devastara os seus pais e lhe arrebatara a infância. Havia mais de uma maneira de conseguir o que queria e ela acabara de lhe oferecer uma alternativa. Arrebatar-lhe-ia algo que ela desejava e já sabia o que era.