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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Carole Mortimer

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Heranças da paixão, n.º 1037 - abril 2017

Título original: Wife by Contract, Mistress by Demand

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9648-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Epílogo

Se gostou deste livro…

Prólogo

 

– O que raios estás a fazer?

Gabriella levantou as pestanas longas e pretas para mostrar uns olhos tão azuis que pareciam violeta e olhou para Rufus, que estava do outro lado do terraço, o homem por quem se apaixonara há um ano, quando a mãe dela se casara com o pai dele. Rufus, o homem de quem, o seu coração de dezoito anos, esperava que também se apaixonasse por ela.

Ouvira chegar o carro alugado ao chalé que a família Gresham tinha em Maiorca. Tentara acalmar-se e permanecer deitada ao sol, em vez de sair a correr para cumprimentar Rufus, que era o que queria fazer. Aprendera depressa que não era um homem que gostava que corressem para ele, mas que era necessário esperar que ele se aproximasse dela, apesar de ser o amor da sua vida e de apenas a sua presença conseguir que os seus joelhos tremessem de desejo.

Rufus parou na entrada do terraço, depois de tirar o casaco devido ao calor das primeiras horas da tarde. O seu cabelo comprido era louro e os seus olhos, de um verde-claro, escondiam-se por detrás de uns óculos de sol. Mas a pergunta que acabava de lhe fazer e a expressão de desaprovação da boca bastaram para indicar a Gabriella que não gostava que estivesse a apanhar sol no terraço, com um biquíni minúsculo. Rufus tinha o hábito de a tratar como uma menina incómoda ou de não lhe prestar atenção. Mas ela desejava que a considerasse uma mulher desejável.

– Estou a bronzear-me, Rufus. O que achas que estou a fazer? – sorriu e, ao mesmo tempo, espreguiçou-se languidamente, arqueando as costas, o que fez com que os seios se elevassem e se destacassem os mamilos através do tecido.

– Estou a ver – respondeu num tom mordaz. – Podes vestir alguma coisa, pelo amor de Deus? – perguntou-lhe enquanto entrava no terraço.

– Quero ficar mais morena, parvo! – replicou, fazendo uma careta. – Para que hei-de incomodar-me em vestir alguma coisa, se não há mais ninguém para me ver, excepto tu? – acrescentou numa tentativa de o provocar. Uma coisa era querer que a considerasse uma mulher desejável, outra, totalmente diferente, era manter aquela pose provocadora.

O chalé dos Gresham encontrava-se na ladeira de uma montanha sobre o Mediterrâneo.

«Com efeito, para que haveria de se incomodar?», pensou Rufus, com impaciência, enquanto agradecia por os óculos esconderem as suas emoções ao percorrer lentamente, com a vista, o corpo perfeito de Gabriella, dourado e brilhante devido ao creme que colocara no peito, nos braços e nas pernas compridas.

Era o corpo bonito e esbelto, sem um único defeito, que só as jovens possuíam e difícil de resistir para qualquer homem. E Rufus tinha muita experiência em fazer precisamente aquilo desde que Gabriella aparecera na sua vida, há um ano atrás, sem se esforçar para esconder que estava fascinada por dele, um capricho que Rufus, aos trinta anos de idade, não estava disposto a satisfazer. Ou, pelo menos, não tinha intenção de o fazer até entrar naquele terraço e vê-la ali deitada.

– Qualquer um pode entrar e…

– Ninguém entrou, só tu – respondeu, lisonjeadora. – Além disso, na praia da vila, as mulheres não têm mais nada vestido, para além disto.

Rufus sabia que, àquela hora do dia, a praia estaria cheia de famílias. A maior parte das mulheres usaria biquíni, algumas teriam tirado a parte de cima, claro que sim, mas não estariam sozinhas com o homem por quem se tinham encantado desavergonhadamente.

– Onde estão os teus pais? – perguntou-lhe com severidade e, teve de reconhecer, que com desespero.

Pelo menos, a presença do pai e da mãe de Gabriella, que era a madrasta de Rufus, aliviaria a situação, apesar de o papel de Heather, como madrasta, continuar a irritá-lo tanto como ter aquela bela criatura como meia-irmã. Estava ali porque fora visitar o seu pai alguns dias, ao voltar de uma viagem de negócios na península.

– James queria ir a Palma para comprar algo à minha mãe pelo seu aniversário de casamento. Estarão de volta dentro de algumas horas – Gabriella sentou-se e olhou para ele com olhos sedutores. – Estiveram à tua espera de manhã, mas, como não vinhas, telefonaram para a companhia aérea e disseram que o teu voo estava com um atraso de três horas. Também é a tarde livre de Margarida – encolheu os ombros. – Portanto, disse-lhes que ficaria à tua espera.

Meu Deus! Nem sequer a cozinheira dos Gresham estava ali.

– Não faças essa cara, Rufus – Gabriella parecia indecisa ao aperceber-se do seu desagrado. – Ou sentes-te sujo e acalorado da viagem? Porque não vais tomar um banho?

Gabriella María Luzia Benito, filha de Heather e do falecido Antonio Benito.

Para além da cor violeta dos olhos, a jovem herdara todas as outras características do seu pai: o cabelo preto que lhe caía pelas costas e a pele morena que, naquele momento, tinha uma tonalidade mogno devido às semanas que Gabriella estava no chalé.

Rufus achava que a mãe de Gabriella, que vivia numa casa arrendada com a sua filha e tivera de começar a trabalhar como secretária de James para poder seguir em frente, se casara com o seu pai porque era multimilionário e proprietário dos prestigiados armazéns Gresham de Londres, famosos no mundo inteiro pelo seu carácter selecto.

Também achava que a filha de Heather, a bonita e sensual Gabriella, decidira de forma calculista, tal como a sua mãe, que o único filho e herdeiro de James seria o marido adequado para ela. O único problema era que Rufus não tinha intenção de voltar a casar-se. Já o fizera com Angela, que só se interessava pelo seu dinheiro e que o abandonara passado um ano, deixando-lhe uma filha de dois meses. O divórcio, seis meses depois, fora renhido e amargo, e estivera em todos os meios de comunicação. A sentença fora que Rufus desse a Angela metade da sua fortuna para poder manter a custódia da sua filha, na qual, por outro lado, aquela mulher não tinha interesse algum.

No meio daquela voragem, aparecera Gabriella, quando o pai de Rufus, que ficara viúvo e que, obviamente, não aprendera nada da experiência do seu filho, lhe anunciara que ia reformar-se e lhe deixava a presidência dos armazéns Gresham, e que se casava com a atraente viúva de cinquenta anos, que era sua secretária há um ano, e que tinha uma filha de dezassete anos do seu casamento anterior.

Gabriella, alta e de movimentos graciosos, vestida com t-shirts e calças de ganga muito justas, só precisara de olhar uma vez para Rufus para, cada vez que este visitava o seu pai na casa familiar de Surrey, fazer tudo o que estava ao seu alcance com o objectivo de o provocar e para que a considerasse uma mulher. O seu olhar faminto seguia-o para toda a parte.

Mesmo que Rufus contemplasse a possibilidade de voltar a casar-se, o que era pouco provável, para dar uma mãe à sua filha que já tinha dois anos, a experiência que tivera com Angela significava que Gabriella, por mais atraente que lhe parecesse, seria a última jovem que escolheria. Uma caçadora de fortunas na família era mais do que suficiente.

Voltou a percorrer Gabriella com o olhar e pensou que era, sem dúvida, uma beldade.

– Acho que vou dar um mergulho na piscina – murmurou enquanto começava a desabotoar a camisa. – Disseste que os nossos pais ainda estarão fora algumas horas?

– Sim – afirmou Gabriella, enquanto via, de soslaio, como tirava a camisa e as calças, e deixava a descoberto um peito musculado e umas pernas compridas e fortes. As cuecas pretas e justas que usava passavam perfeitamente por um fato-de-banho. Mas Gabriella corou ao ver-lhe os pêlos pretos do peito que desciam em forma de V. Ficou atónita ao confirmar que estava excitado. Rufus desejava-a! Engoliu em seco e voltou a dirigir o olhar para o seu rosto, menos comprometedor. Os olhos continuavam escondidos pelos óculos.

– Pões-me um pouco de creme nas costas? – pediu-lhe Rufus, enquanto se estendia ao lado da sua espreguiçadeira e o roçar da sua coxa queimava a dela.

As mãos tremeram-lhe ligeiramente ao pôr um pouco de creme nelas. Aplicou-o nos ombros largos e adorou como os músculos se contraíam e distendiam. Nem nas suas fantasias mais extravagantes com aquele homem, e tivera muitas no último ano, imaginara que ele consentiria que estivessem assim, que lhe deixasse tocar-lhe, que a sua força a fizesse tremer enquanto começava a sentir calor entre as coxas, ao sentir a tensão sexual que ia aumentando entre ambos.

– Agora, à frente – Rufus virou-se na espreguiçadeira e, finalmente, tirou os óculos.

Gabriella colocou-lhe creme no peito. Reparou que ficava sem ar ao sentir-se apanhada por aquele olhar escrutinador.

– Mais abaixo – pediu-lhe com suavidade sedutora enquanto lhe punha a mão na coxa.

Gabriella sentiu o ardor das suas faces e evitou o seu olhar enquanto as mãos massajavam o estômago de músculos duros.

– Mais abaixo, Gabriella – pediu-lhe com voz rouca.

Gabriella pensou, com nervosismo, que já chegava de demonstrar a Rufus quão moderna era. As mãos tremiam-lhe de tal maneira que colocou demasiado creme nelas e salpicou o estômago e as coxas de Rufus.

– Sim, aí! – animou-a, ansioso.

O toque das suas mãos deixava-o louco. Suspirou, levemente, de alívio quando lhe colocou o creme nas pernas. Mas o toque, leve como uma pena, dos dedos de Gabriella não contribuiu para acalmar o seu desejo, mas aumentou a necessidade que sentia de fazer amor com ela. Mas não devia fazê-lo e não o faria. Dispunham de algumas horas até os seus pais voltarem e tinha intenção de lhe tocar da mesma maneira que ela lhe tocara. Tocar-lhe, não possuí-la.

– Agora, é a tua vez – murmurou com brusquidão, enquanto se endireitava e empurrava suavemente a jovem para que se deitasse.

Olhou-a profundamente nos olhos e demorou a colocar creme nas mãos antes de lho aplicar. O gemido de prazer que Gabriella emitiu, provocou uma resposta semelhante no seu corpo. Ia desfrutar de tocar naquela jovem provocadora, certamente! Em cada centímetro da sua pele.

Gabriella não conseguia desviar a vista de Rufus. Estava totalmente cativada pelas sensações que provocava no seu interior ao acariciá-la e massajá-la. Quando achava que não poderia suportar mais, Rufus afastou-se e olhou para ela com satisfação.

– Mais abaixo?

Gabriella quase não conseguia respirar, muito menos falar, portanto limitou-se a fechar e voltar a abrir os olhos como resposta, enquanto Rufus deslizava as mãos pela sua cintura esbelta. Novamente, este sustentou-lhe o olhar enquanto lhe tocava. As coxas de Gabriella moviam-se sensualmente, à medida que aumentava o ritmo das carícias, e ela sentia que a sua excitação também o fazia enquanto se precipitava para um tipo de prazer que nunca experimentara. Arqueou-se quando a excitação fugiu do seu controlo e todo o seu corpo se viu invadido por ondas de sensações. Soluçou e levantou as mãos para agarrar a cabeça de Rufus e abraçou-o enquanto as ondas se transformavam num mar de sentimentos que a mantiveram agarrada àquele homem, totalmente abandonada a ele e sem sentir vergonha.

Jamais experimentara algo semelhante na sua vida. Nenhum dos seus pensamentos românticos sobre Rufus a preparara para a realidade ou para a sua resposta completamente descontrolada. Nunca se sentira tão feliz como naquele momento, porque sabia que Rufus não poderia acariciá-la assim se não a amasse também.

Sorriu com olhos sonhadores ao imaginar o futuro com ele, como sua esposa. Que surpresa que a sua mãe e James teriam quando lhe contassem!

– Não foi mau, Gabriella! – observou Rufus, num tom brincalhão. Olhou para ela, mas os seus olhos já não manifestavam excitação, mas uma análise fria. – És muito sensível e receptiva – concedeu com secura enquanto olhava para ela com olho clínico. – Mas é melhor ires arranjar-te antes que os teus pais voltem. Não queres ferir a sua sensibilidade, pois não?

Gabriella pestanejou e franziu o sobrolho, sem saber muito bem a que se referia. Acabara de a acariciar como ninguém fizera e fizera-a atingir um clímax como jamais sonhara. Era verdade que não tinham feito amor, mas a intimidade que acabavam de partilhar tinha de significar algo para ele.

– Acho que vou tomar banho. E depois comerei algo – acrescentou num tom desdenhoso.

Ia comer algo? Tinham acabado de fazer amor, bom… Rufus acariciara-a. Portanto, como podia começar a falar tão tranquilo de comida, como se…?

– O que se passa? – Rufus olhou para ela com olhos frios e escrutinadores, e uma expressão de desdém na boca. – Ainda não estás satisfeita? – escarneceu. – Pois deixa-me tomar banho e comer algo, e talvez depois me apeteça continuar mais um pouco.

– Porque te comportas assim? – parecia magoada, os olhos cheios de lágrimas.

– Assim como? – perguntou Rufus, laconicamente, sem se comover perante as lágrimas. Angela também as vertera, durante os dezoito meses de casamento, cada vez que não levara a sua avante. Lágrimas de crocodilo, completamente falsas.

– Acabámos de…

– Não, Gabriella, tu acabaste de – corrigiu-a com dureza. – Andas há um ano a querer que te acaricie. Já o fiz, portanto… – encolheu os ombros – de que te queixas?

– Não entendo – abanou a cabeça.

– Gabriella, estive sete horas metido num aeroporto e num avião – recordou-lhe com impaciência, resolvido a não se comover perante a perplexidade do seu olhar. – Estou cansado e tenho fome. Se quiseres mais alguma coisa de mim, terás de esperar até ter satisfeito, pelo menos, uma dessas necessidades.

– Mas pensei que tu e eu… – disse enquanto se endireitava e compunha a parte superior do biquíni.

– O que pensaste? – Rufus perdera completamente a paciência. – Que me seduzirias e te pediria em casamento, e que me comportaria como o parvo loucamente apaixonado do meu pai se comporta com a tua mãe, que só se interessa pelo seu dinheiro? Pois, podes ir mudando de ideias! – exclamou, friamente. – Já te dei tudo o que tinha para te dar. Se quiseres repetir, talvez esteja disposto. Mas, mais tarde, não agora.

Gabriella olhou para ele a chorar. Amava aquele homem e achara que a sua resposta significava que ele lhe correspondia. Mas fora apenas uma resposta física, que controlava completamente. Os seus comentários posteriores tinham tentado humilhá-la e tinham conseguido. O pior de tudo era que achava que a sua mãe só se interessava pelo dinheiro de James. A sua mãe maravilhosa, que fora extremamente infeliz quando fora casada com o pai de Gabriella e que merecia cada momento da felicidade que encontrara ao lado de James.

– Não acharás a sério que a minha mãe… Ama muito o teu pai! – protestou enquanto se perguntava o que pensaria Rufus dela se aquilo era o que pensava da sua mãe.

– Não me digas! – replicou com voz dura e desdenhosa. – É fácil amar alguém com os milhões do meu pai.

– Mas ama-lo a sério! – exclamou Gabriella com ardor.

– Claro que sim! – escarneceu. – Ama-lo tanto que aceitou que lhe desse cem mil libras para pagar dívidas, mesmo antes de estarem casados. É um pouco excessivo para comprar um vestido, não te parece? – acrescentou, num tom mordaz.

– O que estás a dizer? – levantou-se com um grito abafado. – Não sei do que estás a falar.

– Vá lá, Gabriella! – suspirou cansado. – Aceita que sei acerca do dinheiro e das dívidas, e vamos passar para outro assunto.

Era verdade que Gabriella não sabia do que lhe falava. Tinha a certeza de que se tratava de um engano. A sua mãe nunca teria agido assim.

– Estás amargurado e distorces as coisas porque todos sabem que Angela só se casou contigo por… – interrompeu-se ao aperceber-se, pela expressão de Rufus, de que fora demasiado longe.

– Continua – urgiu-a em voz baixa e perigosa. – Angela só se casou comigo por…?

A mãe de Gabriella, que conhecia todos os pormenores do casamento e do divórcio do seu enteado, considerara que o melhor era não falar daquilo. E Gabriella dissera-o na cara de Rufus!

Mas insultara a sua mãe e as suas acusações eram falsas. Era impossível que a sua mãe tivesse dívidas no valor de cem mil libras.

– Nem todas as mulheres são como Angela.

– Ah, não? Negas que, durante o último ano, não fizeste outra coisa senão tentar seduzir-me?

Sentiu que as faces lhe ardiam perante o seu desprezo. Continuava ligeiramente aturdida pelo modo como Rufus a atacara depois dos momentos de intimidade física que tinham partilhado. Era verdade que estava obcecada por ele há um ano, na realidade, desde que o vira pela primeira vez, mas era porque se apaixonara, não pelos motivos que ele insinuava. Embora não se tratassem de insinuações, já que, depois das acusações contra a sua mãe, Rufus afirmava claramente que o que lhe interessava nele era o mesmo que à sua mãe interessava em James: os seus milhões.

– Negas que ficaste hoje aqui com a intenção de me seduzires? – olhou para ela com desdém.

Gabriella sabia que também não podia negá-lo, mas apenas porque… Porque se mostrara imune a todas as outras tentativas de lhe demonstrar o quanto o amava. Mas já sabia a razão da sua imunidade: achava que a sua mãe se casara com o seu pai por dinheiro e que ela desejava Rufus pelo mesmo motivo.

– Não acredito numa única palavra do que disseste sobre a minha mãe! – abanou firmemente a cabeça.

– Pergunta-lhe, Gabriella! – desafiou-a. – Não faço ideia de porque o meu pai se incomodou em casar-se com Heather quando já estava a pagar-lhe para… – interrompeu-se, bruscamente, quando Gabriella lhe deu uma bofetada. Agarrou-a pelo pulso e aproximou, perigosamente, o seu rosto do dela. Os seus olhos tinham o brilho do gelo e a marca que a mão da jovem deixara começava a aparecer na sua face. – Se voltares a fazê-lo, juro-te que te arrependerás – disse-lhe, entredentes.

– Odeio-te! – exclamou com a respiração ofegante e fulminando-o com o olhar.

– Óptimo! – replicou com satisfação. – Talvez isto te ensine a excluir-me, no futuro, da tua busca de um marido rico.

– Não me aproximaria de ti, nem que fosses o último homem à face da terra! – garantiu-lhe com rancor.

– Que original! – escarneceu Rufus.

– Canalha! És um canalha! Odeio-te! – virou-se e entrou a correr na casa.

Rufus, furioso, permaneceu à beira da piscina durante vários minutos antes de se atirar à água e desfrutar da sua frescura enquanto nadava.

Gabriella odiava-o.

Isso era muito bom. Então, porque não se sentia tão satisfeito como pensara?

Capítulo 1

 

Cinco anos depois, ao vê-lo no escritório do advogado, Gabriella soube que continuava a odiá-lo.

– Podemos passar aos pormenores do testamento do senhor Gresham? – perguntou, cortesmente, David Brewster quando se sentaram.

– Continue – disse Rufus, laconicamente.

Gabriella sabia que Rufus não queria que estivesse ali. Nem Toby, o seu primo, a confiar no modo como os dois homens se tinham cumprimentado alguns minutos antes. Aquilo, Gabriella podia entender, depois do que Toby fizera.

Mas, embora soubesse que Rufus não acreditava, preferiria não estar ali. Se pudesse escolher, preferiria que James não tivesse morrido e que continuasse a dar-lhe o carinho e os conselhos paternais que lhe tinham sido inestimáveis depois da morte da sua mãe, que acontecera um ano antes. James ficara destroçado quando Heather morrera num acidente de carro e não conseguira recompor-se do golpe. Seis meses depois, sofrera um enfarte e, posteriormente, há um mês, outro, que fora mortal. Se pudesse escolher, Gabriella preferiria que James e Heather continuassem vivos a estar naquele escritório, naquele dia, para a leitura do testamento de James.

Rufus e ela não tinham falado, já que cada um chegara sozinho. De facto, não se falavam há cinco anos e não voltariam a fazê-lo depois de desaparecer aquele vínculo que os unia a James.

David Brewster tinha uma expressão grave ao abrir um documento de aspecto oficial que estava na sua secretária. Olhou para eles por cima dos óculos.

– Em primeiro lugar, já informei, por carta, os beneficiários de pequenos legados do testamento do senhor Gresham, como os membros dos serviços domésticos, etc. E também há um fundo fiduciário para a sua neta, Holly, que eu e o seu pai administraremos até atingir a maioridade.

– Que sorte para Holly! – exclamou Toby, alegremente. Sendo actor, a sua boa aparência física não se assemelhava ao seu talento, o que implicava que «descansava» mais do que trabalhava. – É uma pena que não tenha dezoito anos em vez de sete, porque casar-me-ia com ela.

– Terias de passar por cima do meu cadáver! – resmungou Rufus.

– Se fosse necessário… – replicou-lhe Toby de forma provocadora.

Gabriella mal os ouvia. A tensão que sentira inicialmente aumentou a um ponto insuportável quando David Brewster se referiu, com ligeireza, aos «pequenos legados». Quereria isso dizer que lhe correspondia um legado grande? Se assim fosse, Rufus iria detestá-la mais do que nunca, se fosse possível.

– Este testamento do meu pai é recente? – perguntou Rufus ao advogado idoso.

– Claro que sim! Está datado dois meses antes da sua morte.

A inquietação de Rufus, pelo conteúdo do testamento, aumentou.

Claro que a inquietação podia ter a ver com o facto de Toby estar presente, o seu primo de reputação duvidosa que se aproveitara da boa vontade de James, até tio e sobrinho terem discutido três meses antes.

E também havia Gabriella.