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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Jane Porter

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A princesa e o sultão, n.º 896 - Maio 2016

Título original: The Sultan’s Bought Bride

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicadacom a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estãoregistadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8339-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

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Prólogo

 

– Não vais – disse a princesa Nicolette com firmeza. – Telefona ao sultão e diz-lhe que não vais passar outra vez pela experiência de um casamento combinado. És uma mulher, Chantal, não um objecto!

O sorriso de Chantal não se revelou nos seus olhos.

– É extremamente rico, Nic. Existe a possibilidade de conseguir comprar a liberdade de Lilly. Se esta é a forma de o conseguir…

– Não, não é! Nem pensar. Quase não sobreviveste a um casamento terrível. Como podes considerar a possibilidade de te voltares a casar?

– Porque o nosso país precisa disso. O nosso povo precisa disso. A minha filha precisa disso.

A resignação de Chantal desarmava Nic. A sua irmã perdera a coragem e a determinação que costumava ter. Ao longo dos dois anos anteriores, a elegante princesa, a mais velha das netas da família real Ducasse, ficara praticamente aniquilada.

– Tu também tens necessidades. E precisas de ser tratada com carinho e respeito. Outro casamento de conveniência com outro playboy acabaria contigo definitivamente. Sei que queres ajudar Lilly, mas a tua filha precisa de vir para Melio, Chantal, não para outro país, outra cultura, outra ama estrangeira a dizer-lhe o que pode e o que não pode fazer.

– Com essa atitude não estás a ajudar-me, Nic.

Nic ajoelhou-se perante a sua irmã e rodeou as suas pernas com os braços.

– Nesse caso, deixa-me ajudar. Permite-me que faça qualquer coisa, para variar.

Chantal arqueou uma sobrancelha e acariciou o cabelo encaracolado e loiro da sua irmã.

– Eras capaz de te casares com o sultão? – perguntou, num tom irónico. – Vá lá, Nic. Tu nunca aceitarias um casamento de conveniência. Além disso, ainda não queres assentar. Ainda tens de ter muitas aventuras.

– Eu não tenho aventuras. Tenho encontros.

Chantal riu-se.

– Tu não tens encontros, querida. Tu caças e destróis.

– Fazes com que pareça o Exterminador! Mas garanto-te que não destruo homens. Simplesmente, ainda não encontrei o adequado.

– Como hás-de encontrá-lo se vais para a cama com todos os que não deves?

– Não vou para a cama com todos!

– Mas gostas de sexo!

Nic olhou para sua irmã pensativamente.

– E à minha maninha mais velha isso parece-lhe mal?

– À tua maninha mais velha preocupam-na a SIDA, as doenças venéreas, a herpes, a gravidez… – mas o que na verdade preocupava Chantal era a reputação da sua irmã.

– Lá vem o discurso das «raparigas boas não o fazem»?

– Já que a mamã não está aqui…

– Coisa que no fundo te parece bem, porque a mamã também não era uma «boa rapariga».

– Não fales assim da mamã – pediu Chantal com o sobrolho franzido. – Sabes muito bem que todas precisamos de conseguir um bom partido para nos casar. Este foi o plano durante cinco anos – uma vez que o seu reino era constituído por duas pequenas ilhas no Mediterrâneo, Mejia e Melio, e iria dividir-se no final de ano: Mejia ficaria nas mãos dos franceses e Melio nas mãos dos espanhóis, caso a família real Ducasse não conseguisse fazer frente aos seus impostos e acordos comerciais.

Chantal foi quem sugeriu o plano dos casamentos por conveniência. Se as três princesas se casassem bem, poderiam salvar Melio e Mejia. De maneira que Chantal foi a primeira a casar-se, com o príncipe Armand Thibaudet de La Croix. O seu casamento fora um pesadelo desde o início.

Nic não estava precisamente ansiosa por se casar, embora isso não significasse que não estivesse disposta a cumprir com o seu dever.

– Receias que já não possa conseguir um bom partido, não é?

– Não sei nada sobre a tua reputação – disse Chantal, – mas sei que todas temos a responsabilidade de cuidar de Melio. A sucessão depende de nós, assim como a segurança e a estabilidade do país. Nós somos a próxima geração.

– Nunca deixei de cumprir os meus deveres. Enquanto estiveste fora ocupei-me de todas as tuas organizações de beneficência.

– Muito bem, mas do que precisamos realmente é de dinheiro…milhões de dólares. E tiveste duas propostas de casamento, Nic.

– Há anos.

– Exacto! Desde então, não tiveste outras porque toda a realeza europeia sabe que foste escolhida pela imprensa como a princesa Ducasse com menos possibilidades de assentar.

– Estás a querer dizer que o teu sultão, o rei Nuri, jamais proporia casamento a alguém como eu?

– Não o fez, pois não?

Nic olhou um momento para a sua irmã. Embora conscienciosa e responsável, Chantal queria ir para Baraka e casar-se com o sultão. Não o ia permitir. A sua irmã já sofrera o suficiente ao longo dos anos anteriores. Ninguém, excepto ela, conhecia o inferno vivido por Chantal. Nem sequer Joelle, a irmã mais nova, sabia muito sobre o sofrimento de Chantal nas mãos do seu marido.

– Não há motivo para que nenhuma de nós se case com o sultão – disse por fim. – Podemos conseguir que nos ajude sem renunciar à nossa liberdade, algo que tenho em grande consideração. Libertaremos Lilly e conseguiremos trazê-la para casa.

– Os seus avós nunca a deixarão partir.

– Fá-lo-ão se forem devidamente pressionados… se o rei Nuri insistir. Disseste que era muito poderoso.

– E rico.

– Serei eu a ir pedir ajuda ao rei Nuri – disse Nic, num tom decidido. – Não será capaz de dizer não à sua futura esposa, não achas?

– Nic…

– Irei, finjo que sou a princesa Chantal e conseguirei que se apaixone por mim…

– Nic!

– É um homem, Chantal. Eu sei como manipular os homens.

– Não te vais sair bem. Jamais te poderás fazer passar por mim. Tu és loira e eu sou morena…

– Pintarei o cabelo. Se o pintar conseguirei fazer-me passar por ti – Nic riu-se. – Vou chegar e escapulir-me sem que ele chegue a perceber o que realmente se passou.

– Oh, Nic, receio que possas causar um autêntico desastre…

– Não, se for preparada. Confia em mim. Posso consegui-lo. Arranjarei um plano. Já me conheces, Chantal, quando quero alguma coisa, vou até ao fim.

Capítulo 1

 

O rei Malik Roman Nuri, sultão de Baraka, aguardava no porto a chegada do iate da família real Ducasse. A sua princesa chegara. Perguntou-se no que estaria ela a pensar, afinal deixara o seu mundo para vir para ali. O seu mundo era o ocidente e o dele, o oriente. A princesa sentiria algum receio? Ele receava por ela. Vinha de um mundo muito diferente do dele. A sua vida jamais voltaria a ser a mesma. Na coberta do Royal Star, Nic tentava controlar a tensão, arranjando o lenço preto que lhe cobria a cabeça. Estava decidida e totalmente concentrada no que devia fazer. O seu plano funcionaria. Não havia motivo para que falhasse.

Uma vez em Baraka, far-se-ia passar por Chantal e seguiria em frente com os preparativos do casamento, quando Chantal e Lilly estivessem a salvo nos Estados Unidos, o casamento seria cancelado. Simples e impossível de falhar.

A pouco e pouco, os impressionantes muros de Atiq, capital de Baraka, foram ganhando forma no horizonte. Com muitos séculos de existência, a antiga fortaleza já sofrera vários ataques inimigos: dos gregos, dos romanos, dos portugueses, dos turcos, dos franceses…

Toda a gente quer possuir algo, uma mulher, um pedaço de terra. Nic reprimiu uma onda de irritação. Devia ter cuidado e controlar o seu mau feitio, mostrar-se encantadora e não zangada. Era fundamental que o rei Malik Nuri acreditasse que era Chantal, embora não entendesse por que razão alguém como ele escolhera a sua irmã para futura esposa. E também não entendia por que motivo a sua irmã se dignava a dizer sim a outro Don Juan.

Nic passara a semana anterior na Internet, a investigar o mais possível. Sabia agora quem era o rei Malik Roman Nuri, um atraente mas irremediável playboy. As revistas cor-de-rosa garantiam que o sultão era um autêntico Casanova da Arábia. Diziam que dominava a arte da sedução e do sexo e mantinha esplendidamente várias amantes. Perfeito. Era um amante de primeira e maltratava as suas amantes. Depois da experiência prévia de Chantal, a última coisa de que precisava era de outro marido incapaz de manter os seus votos de fidelidade e lealdade. Chantal precisava de um homem autêntico, não de um sultão incapaz de manter as calças vestidas!

À medida que o navio se aproximava do porto, começava a distinguir-se a multidão que estava ali reunida para a receber, ao som da música de uma banda local.

Duas ou três semanas, disse a si mesma, tentando controlar o seu mau feitio. Nem mais um dia. Iriam para os Estados Unidos assim que fosse possível. Pois, proporia ao sultão um casamento na cidade natal da sua mãe, um casamento íntimo e com poucos convidados e, uma vez em Baton Rouge, cancelá-lo-ia. Pensava conduzir bem a situação: lisonjearia o sultão e oferecer-lhe-ia o tipo de atenção que ela sabia dar a um homem. Tratar-se-ia de uma simples aventura feminina e o compromisso seria de curta duração.

– Alteza! – o capitão do navio aproximou-se de Nic. – Estamos prestes a atracar.

Uns minutos depois, Nic descia a rampa do navio ao som da música da banda e com uma chuva de confettis a cair sobre ela. Foi como entrar num mundo de sonho, a música, as cores, o aroma temperado do ar, o som de uma língua diferente, os rostos das gentes… Nada do que via se parecia com a vida que conhecia até então. Tentou ignorar que começava a sentir-se nervosa. Ela era a mulher forte da família. «Concentra-te», disse a si mesma. «Procura um rosto na multidão. Recupera o controlo.»

Localizou então um rosto notável entre a multidão. Pertencia a um homem, claro. Sempre tivera fraqueza pelo sexo oposto e aquele homem despertou imediatamente o seu interesse. «Deslumbrante», foi o primeiro adjectivo que lhe veio à cabeça. Obscuramente deslumbrante. Gostava do seu rosto duro com óculos de sol, do cabelo forte e preto que emoldurava a sua testa. Gostava até de como lhe assentava o sofisticado fato escuro, com a camisa branca aberta no pescoço. Parecia calmo, diferente dos outros. Nic tentou imaginar os seus olhos. Seriam escuros, dourados, castanhos-claros…? O seu queixo era poderoso, o seu nariz bastante longo e os seus lábios curvavam-se ligeiramente. Eram uns lábios muito atraentes, que faziam pensar em beijos.

O homem tirou de repente os óculos e Nic ficou ligeiramente intrigada com a sua expressão. Era arrogante, orgulhosa, desafiadora. Parecia do tipo de homem que apreciava uma boa discussão. Interessante, pois ela também sabia desfrutar de uma boa discussão. Nada a estimulava mais do que um homem a discutir com ela, a retê-la sob o seu corpo, a segurar-lhe as mãos sobre a cama… Hum… passara demasiado tempo.

Era uma pena que não estivessem em Melio. O que teria dado por uma noite a sós com ele! Gostaria de provar o seu orgulho e saborear a sua intensidade. Mas ela era Chantal e estava em Baraka por causa de um casamento. Consciente das centenas de olhares concentrados nela, Nic desejou que o sultão se apresentasse de uma vez. Segundos depois, um homem baixo e robusto aproximou-se dela.

– Princesa Chantal Marie Ducasse?

– Sim.

– Apresento-lhe Sua Alteza real o rei Malik Roman Nuri, sultão de Baraka, príncipe de Atiq.

A multidão afastou-se e por um instante Nic lamentou ter-se metido naquela confusão. Mas logo ergueu os ombros, enquanto o homem do fato escuro avançava para ela.

«Não», pensou. «Ele não. Qualquer um menos ele.» Engoliu com esforço e tentou ver através dos seus óculos, que ocultavam o seu olhar, mas em vez disso olhou para a sua boca. A boca fazia-a pensar em lábios, em beijar… em sexo.

– Sua Alteza – disse o homem pequeno ao mesmo tempo que fazia uma grande vénia.

Nic sentiu que as pernas lhe tremiam quando o sultão parou perante ela. Foi a primeira a baixar o olhar para ocultar a sua confusão. Mas o sultão não a deixou escapar. Apoiou uma mão sob o seu queixo para a fazer levantar o rosto e logo, aparentemente satisfeito, beijou-a em ambas as faces.

Salam alikum – disse num tom tão grave que Nic teve de fazer um esforço para conseguir ouvi-lo.

– A paz esteja contigo – traduziu o homem baixo com outra reverência. – Sua Alteza dá-lhe as boas-vindas a Baraka, a terra dos mil sonhos.

– Obrigada – murmurou Nic, que ainda estava a assimilar o facto de o sultão não falar inglês. – Pode dizer a Sua Alteza que me sinto muito honrada pela recepção do seu povo?

O intérprete transmitiu a sua mensagem antes de se voltar novamente para ela.

– Sua Alteza julga que chegou a hora de se irem embora. O carro está a aguardar ali – e apontou para uma limusina rodeada de guardas fardados.

O intérprete ocupou um lugar da limusina enquanto Nicolette e o sultão ocupavam o outro. Nenhum falou durante o breve trajecto e, embora mal olhasse para ela, Nic jamais se sentira tão desconfortável com alguém em toda a sua vida. Era estranho. Não reagia assim perante um homem desde… desde… Mas não queria pensar nisso. Já era bastante complicado controlar os seus sentimentos. Quanto mais misturá-los com as lembranças de Daniel.

– A sua bagagem chegará em seguida – disse o intérprete depois de uns minutos tensos. – Mas se necessitar de algo, só tem que pedir.

Nic assentiu e agradeceu.

Quando atravessaram o portão que dava para os terrenos do palácio, Nic apercebeu-se de que este era na verdade um forte modernizado. Guardas vestidos de branco e com botas pretas se inclinavam ao passar do carro do sultão. O interior era impressionante: uma grande cúpula dourada cobria o hall e reflectia a luz sobre as paredes cheias de mosaicos, tapeçarias e todo o tipo de tesouros. Maravilhada, Nicolette seguiu o rei até uma sala elegante cujo chão de mármore estava coberta de tapetes vermelhos macios. O rei apontou para uma das poltronas baixas que se encontravam no meio da sala. Nic sentou-se.

– Apetece-lhe beber alguma coisa? – perguntou o intérprete quando entrou uma criada com uma bandeja de prata.

Ao cheirar a café acabado de fazer, Nic pensou que nunca precisara tanto de uma bebida estimulante.

– Sim, por favor.

Ainda de pé, o rei Nuri falou. A sua voz era tão profunda e suave, que as suas palavras soaram como chocolate derretido.

– Sua Alteza espera que tenha feito boa viagem – disse o intérprete.

– Sim, obrigada. Foi uma viagem sem problemas.

Al-hamdu-li-llah – respondeu o rei com um pequeno sorriso.

Nic afastou o olhar da sua encantadora boca. «Lembra-te das suas amantes, da sua reputação.»

– O que significa isso? – perguntou.

– Significa «graças a Deus». É costume na nossa terra agradecer a Deus pelas suas bênçãos.

– E a minha chegada é uma bênção?

– Sem dúvida – respondeu o intérprete pelo rei.

Nic olhou para o rei cautelosamente. Considerava-se bem preparada para aquela viagem e pensava que o seu plano era perfeito, mas depois de ter visto o sultão em pessoa, já não estava tão certa.

O rei ocupou a poltrona contígua à dela para beber o seu café e tornou a falar. Nic contemplou o seu lindo perfil. Era um homem muito bonito e muito masculino.

– Sua Alteza quer expressar a sua satisfação pelo facto de estar aqui. Diz que tanto o seu povo, como ele há muito que esperavam por este dia.

Nic apertou a chávena que tinha na mão.

O sultão inclinou-se ligeiramente para ela e olhou-a como se fosse absolutamente fascinante.

Ainda bem que Chantal não estava ali. O rei Nuri iria seduzi-la, depois casar-se-ia com ela e, por fim, abandoná-la-ia antes de Chantal se aperceber do que acontecera.

– Estou desejosa de discutir as minhas ideias sobre o casamento com Sua Alteza – disse cuidadosamente Nic.

– As suas ideias? – perguntou o intérprete.

– Sim, claro. É o meu casamento. E tenho ideias sobre isso.

O intérprete traduziu as suas palavras e em seguida a resposta do sultão.

– O rei percebe que como acaba de chegar, tudo lhe parece novo e desconhecido. Mas pede-lhe que confie nele em relação aos detalhes do casamento, de maneira a que a cerimónia se realize de acordo com as nossas crenças e costumes.

– Diga-lhe que eu gostaria de deixar os detalhes nas suas mãos, mas um casamento é um acontecimento bastante pessoal e insisto em intervir no planeamento.

– O rei agradece-lhe o seu interesse e garante que não tem de se preocupar, já que todos os detalhes do casamento foram acordados. A única coisa que tem de fazer durante as duas próximas semanas é relaxar-se e familiarizar-se com a vida em Baraka.

– O que se passa dentro de duas semanas? – perguntou Nic, desconcertada.

– O casamento, Alteza – explicou o intérprete. O casamento já está organizado e terá lugar dentro de duas semanas.

Não era possível. Tinha de haver algum problema de tradução, pensou Nic.

– Receio que me escapou algo. Está a dizer-me que já existe data para o casamento e que os detalhes já estão tratados?

– Sim.

– Como é possível? – perguntou Nic, impaciente.

– Sua Alteza escolheu uma data sagrada, de acordo com o nosso calendário religioso e cultural.

– Mas o rei não consultou o meu calendário – disse Nic, com firmeza ao mesmo tempo que olhava directamente para o sultão. – A data não pode ser decidida sem me consultarem.

– É costume o rei consultar os seus assessores espirituais.

– O rei é muito religioso?

Aquela pergunta pareceu desconcertar por momentos o intérprete.

– O rei é o rei. Ele manda em Baraka…

– E eu sou a princesa Chantal, da família real Ducasse – Nic fez um esforço por controlar o seu génio. – Agradecia que dissesse ao rei que até eu concordar, não haverá nada em definitivo.

O intérprete hesitou. Era óbvio que não queria traduzir aquilo.

– Diga-lhe por favor – insistiu Nic.

– Mas, Alteza…

Impaciente, Nic pousou a chávena na mesa.

– Talvez tenha sido um erro vir. Julguei que o rei Nuri fosse um homem educado, civilizado…

– Ocidental? – concluiu o rei por ela ao mesmo tempo que se levantava languidamente da poltrona.

Nic ficou boquiaberta. O rei falava inglês… Mas claro que falava inglês! Vira na Internet que estudara em Oxford. No entanto, consentia que tudo se fizesse através do intérprete. Lidara com o seu primeiro encontro como se fosse uma entrevista.

– Por que razão utilizamos um intérprete? – perguntou, inclinando a cabeça. O lenço que trazia deslizou, deixando a descoberto o seu cabelo comprido e negro.

– Pensei que assim se sentiria mais confortável – disse o sultão, que não parecia nada arrependido.

– Que atencioso – disse Nic, entredentes, tentando controlar-se, enquanto se levantava. – Deveria estar-lhe… agradecida.

O rei Nuri sorriu.

– Foi um prazer – levantou a mão num gesto delicado e imperial e o intérprete abandonou discretamente a sala.

Quando ficaram a sós, o rei estudou a expressão zangada de Nic. Depois começou a caminhar ao redor dela com as mãos atrás das costas. Aparentemente queria avaliá-la antes de a comprar, como se fosse um camelo num mercado, pensou Nic, incomodada.

– Tenho a sua aprovação, rei Nuri? – perguntou, num tom sarcástico.

Aquilo não ia ser exactamente umas férias de duas semanas. Estava assustada. Não por Chantal, mas por si mesma. O rei Nuri tinha um plano que, como estavam a recordar-lhe os batimentos fortes do seu coração, estava a aniquilar o seu.