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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Carole Mortimer

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Amante de outro, n.º 2123 - novembro 2016

Título original: Claiming His Christmas Bride

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9182-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

– Já sei que é um baptismo, mas não é um pouco cedo para molhar a cabeça ao bebé?

Molly ficou gelada enquanto levava a taça de champanhe aos lábios. O vinho espumoso, no entanto, não gelou e deslizou pelas costas da taça até lhe ensopar a manga do casaco.

– Também para ti… – acrescentou a voz num tom brincalhão. Molly levantou o olhar com indignação e olhou para o homem que olhava para ela da porta com uns olhos azuis-escuros como o mar. Gideon Webber!

Ela fechou os olhos um segundo. Só podia ser ele! Ele fora o motivo principal para ela escapar e ir beber aquela taça de champanhe às escondidas, sabendo que ia precisar de todas as suas forças para estar com ele cara a cara.

No entanto, esperara vê-lo mais tarde. Ele tinha o mesmo gesto desdenhoso e arrogante que da última vez que o viu. A última e a primeira.

Continuava a ser tão atraente como há três anos. O seu cabelo era de um loiro dourado, os seus olhos azuis, o seu nariz longo e altivo, uma boca delicada e o queixo quadrado e firme. Da última vez que o viu usava calças de ganga e uma t-shirt, mas naquele dia estava mais atraente com um fato escuro e uma camisa branca que realçavam um bronzeado que obtivera, sem dúvida, em alguma estação de esqui selecta.

– O que insinuas com isso? – replicou ela, enquanto pousava a taça numa mesa.

Molly procurou um lenço de papel na mala.

Metera-os na mala porque não queria começar a espirrar no baptizado do seu sobrinho.

Gideon Webber encolheu os ombros, sem deixar de sorrir com um certo desdém.

– Aparentemente, poder-se-ia dizer que adoras… beber um copo de vez em quando…

– Não, não se podia dizer essa tolice!

Molly guardou o lenço. Tinha a manga ensopada e só esperava que não deixasse mancha no seu fato caro.

– Só nos vimos duas vezes e nas duas tinhas um copo na mão – insistiu ele.

– Da outra vez era um copo com sais de frutos – defendeu-se ela com um olhar agressivo.

– Efectivamente – concedeu ele num tom ainda mais brincalhão, – lembro-me de que comentámos que certamente terias feito melhor em beber a mesma coisa que te tinha levado àquele estado.

Molly respirou fundo ao comprovar que ele não tinha intenção de disfarçar o tom insultante.

Andava atemorizada desde que Crystal lhe dissera quem iam ser os padrinhos de Peter. No entanto, também tinha acabado por se convencer de que Gideon Webber teria a delicadeza de não mencionar o seu último e inesquecível encontro. Evidentemente, enganou-se… Noutras circunstâncias, tê-lo-ia considerado muito atraente. Era impressionante, disso não havia dúvida, mas também era das poucas pessoas que a vira afectada pelo álcool.

– Foi uma situação excepcional – garantiu ela disposta a controlar a conversa.

– Hoje também é? – inquiriu ele com a testa franzida.

– Por favor! Quando muito, bebi dois goles de champanhe – Molly levantou a taça para beber outro gole. – Três com este.

– Se tu o dizes…

Molly reparou que corava perante o cepticismo evidente dele. Ele fazia com que parecesse uma alcoólica que se escondia para beber… Embora, por acaso não era isso que estava a fazer?

– Digo – afirmou ela com um suspiro. – Só estava… – Molly decidiu não dar mais explicações. – Não temos de ir à igreja?

– Crystal pediu-me que te procurasse por esse motivo – explicou ele ironicamente.

Crystal? Naturalmente, ela não sabia o quanto a aterrava voltar a vê-lo. Molly voltou a pousar a taça na mesa.

– Estou pronta.

Ele assentiu com ar de gozo e abriu a porta.

– Primeiro as senhoras.

Molly levantou a cabeça consciente de que não lhe tiraria a vista de cima e consciente do que ele veria: uma ruiva baixa com olhos castanhos, que normalmente eram vivazes, e que nesse dia usava um fato e uns sapatos de salto, um pouco incómodos, que realçavam as suas pernas.

– Outra coisa… – sussurrou Gideon, enquanto ela passava junto a ele.

– Sim…? – olhou para ele com cautela.

Ele esboçou um sorriso sem rasto de humor que mostrou uns dentes muito brancos.

– Nunca ninguém te disse que as ruivas não deviam usar certos tons de rosa?

Foi um comentário tão inesperado e insultante, que ela ficou boquiaberta e incapaz de articular uma palavra.

Gostou do fato assim que o viu, embora não tivesse a certeza de que cor-de-rosa pálido fosse o mais adequado para ela. Até que a empregada, que devia querer assegurar a comissão, a convenceu de que estava muito bonita.

Molly voltou-se e olhou para ele, furiosa.

– A maioria dos homens teria a delicadeza de não o ter dito.

– A maioria dos homens não podia dizer-te o que tinhas usado no dia anterior – replico ele com um brilho nos olhos – já para não falar em dizer se te ficava bem ou não…

Molly teve de reconhecer que tinha razão e lembrou-se carinhosamente do seu padrasto. Tinha a certeza de que ele, Matthew, não sabia o que a sua mãe usava se não fosse uma coisa indecente.

– Eu…

– Molly! – gritou Crystal com alívio. – E Gideon – acrescentou enquanto ia até ao hall para agarrar o braço de Molly. – Pensámos que tinham desistido de serem os padrinhos de Peter e tinham fugido juntos.

Molly deixou escapar um gemido perante uma possibilidade tão improvável, mas não se atreveu a olhar para Gideon para observar a sua reacção. Conseguia imaginá-lo a fazer uma careta brincalhona. Reparou que a pouca confiança que o champanhe lhe dera desaparecia.

No entanto, ainda tinha um baptizado e um dia inteiro pela frente. Depois, poderia gritar e espernear na intimidade do quarto de hóspedes.

Crystal e ela eram amigas de escola, porém seguiram caminhos diferentes por motivos profissionais. Crys transformara-se numa cozinheira muito reputada com um restaurante próprio e um programa de culinária na televisão. Molly, por seu lado, seguira pela área da representação.

Crys casara-se há três anos e meio, mas o casamento terminara tragicamente quando o seu marido, James, morrera de cancro passado três meses. No entanto, para satisfação de Molly, Crys casara com Sam, o seu meio-irmão, há quase dois anos e tinham um filho de três meses que se chamava Peter James. Do baptizado até ao Natal só faltavam três dias.

A única questão era que Sam e Crys tinham pedido a Gideon, o irmão mais velho de James e ex-cunhado dela, que fosse o padrinho de Peter. O que pusera Molly num verdadeiro apuro. Ela não tinha boas lembranças do seu único encontro com Gideon e tinha a certeza de que os sentimentos dele em relação a ela eram pouco cordiais. No entanto, quando Sam e Crys lhe pediram que fosse a madrinha, teve de aceitar, não podia dizer que se negava porque Gideon era o padrinho… De modo que reuniu todas as armas femininas que lhe ocorreram para reunir a confiança que precisava para o enfrentar, penteado novo, maquilhagem profissional, roupa e sapatos novos… inclusive uma taça de champanhe. No entanto, não tivera em conta que Gideon, tal como o seu irmão mais novo, era decorador e captaria imediatamente que usava um tom de rosa que não combinava com o seu cabelo.

Pelo menos, Crys aparecera para evitar que ele continuasse a insultá-la.

Subitamente, Molly viu-se dentro de um carro com o seu padrasto a caminho da igreja. A sua mãe e o segundo padrinho tinham preferido ir com Gideon no Jaguar deste e Sam e Crys foram por sua conta com Peter James.

Merlin, o cachorro de Sam e guarda de Peter James desde que este chegou a casa vindo do hospital onde nasceu, observou a marcha da comitiva.

– Matthew, como é que a mamã está vestida hoje? – perguntou Molly.

– O que é que vestiu? – repetiu Matthew, que estava muito concentrado em seguir Sam.

– Sim, o que é que vestiu? De que cor, por exemplo?

O padrasto de Molly franziu o sobrolho, enquanto pensava na pergunta;

– Bom – respondeu dubitativamente, – é qualquer coisa azul. Se calhar é verde. Um vestido, acho eu, mas pode ser um fato de casaco. Em qualquer caso, tenho quase a certeza de que é verde ou azul – concluiu abanando a cabeça num gesto firme.

Molly já tinha visto a sua mãe há uma hora e sabia que usava um vestido com um casaco longo de um tom turquesa lindo. Algo que para a maioria dos homens poderia ser azul ou verde. O que lhe demonstrava que Gideon Webber não era como os outros homens. Molly já sabia e suspirou enquanto observava a paisagem de Yorkshire.

Desejava com toda a sua alma que o dia tivesse acabado. Então, podia continuar a desfrutar do Natal com Crys, Sam e o pequeno Peter James. Os seus pais iam, no dia seguinte, fazer um cruzeiro a algum sítio mais quente do que a Inglaterra e por esse motivo o baptismo era nesse dia.

Ao fim e ao cabo, disse Molly para si, era apenas um dia.

Na verdade, umas horas. No entanto, essas horas na companhia do desagradável Gideon poderiam ser eternas se continuasse empenhado em insultá-la.

 

 

– Uma taça de champanhe?

Molly voltou-se com o sobrolho franzido, mas acalmou-se ao ver David Strong, um actor que protagonizava uma série de televisão que Sam escrevera. David era o outro padrinho de Peter. Era alto, moreno, com um olhar atraente e de quarenta e poucos anos. David dera um contributo especial à série, mas enviuvara há uns meses a sua mulher morrera num acidente de carro e a sua dor notava-se no seu olhar e nas rugas que tinha junto à boca.

– Obrigado – Molly aceitou a taça.

Já conhecia David de outras festas e sentia-se bem na sua companhia, mas não conseguiu evitar dar uma olhadela à sua volta para ver se Gideon a vira aceitar a taça. Efectivamente, ele, do outro lado da sala cheia de gente, levantou um copo com o que parecia ser água com gás. Molly desviou o olhar daqueles olhos carregados de sarcasmo. Quem pensava que era? Um supervisor do consumo de álcool ou só do que ela consumia?

Voltou a desejar que tivesse sido qualquer outro a tê-la encontrado naquele estado naquela manhã de há três anos.

Embora beber fosse uma coisa muito normal entre os actores, Molly bebia muito pouco e certamente por isso aquela garrafa de vinho de há três anos esteve prestes a deixá-la em coma. No entanto, tivera um bom motivo. Dar-se conta que estava apaixonada por um homem casado que não pensava deixar a mulher faria com que qualquer mulher se virasse para a bebida. Além disso, fora apenas uma miserável garrafa de vinho branco e não a caixa inteira, como parecia insinuar Gideon Webber.

Molly decidiu que tinha de se dominar e concentrou-se em David Strong. Ao fim e ao cabo, era quase tão bonito como Gideon e muito mais simpático.

– Fico contente por voltar a ver-te, David.

– O mesmo digo eu – David sorriu. – Embora pelo que percebi vamos ver-nos muito mais no futuro próximo – ele arqueou as sobrancelhas.

Evidentemente, alguém lhe contara. Certamente, Sam, como cortesia ao protagonista da sua série vencedora. Embora talvez tivesse sabido de algum jeito…

– Importas-te? – perguntou ela com um sorriso hesitante.

– Absolutamente – respondeu ele com o sorriso que o fizera famoso entre as mulheres. – Acho que já vai sendo altura de Bailey ter um amor mais permanente na sua vida.

Não era isso que ela quisera perguntar-lhe.

Uma coisa era que o guionista da série aparecesse no estúdio de vez em quando, como Sam fazia, e outra muito diferente era ter a meia-irmã do guionista metida na série. Além disso, ia ser a namorada permanente, embora assobiada, da personagem principal.

Durante os últimos anos, Molly trabalhara sobretudo em peças de teatro nos Estados Unidos e estava decidida a continuar assim. No entanto, há alguns meses, Sam mandara-lhe o primeiro guião que escrevera para a nova série de Bailey, que ia começar a ser gravada no Ano Novo, com uma mensagem muito misteriosa: Como me baseei em ti para escrever a personagem Daisy, só tu podes fazê-la. Volta. Preciso de ti. Era suficiente para despertar a curiosidade de qualquer pessoa. Embora Molly não estivesse muito segura depois ler o guião desse capítulo.

A personagem Daisy era uma detective muito simpática e tremendamente meticulosa, mas comoventemente ingénua sobre a natureza humana. E, sobretudo, propensa a acidentes, até ao ponto de que os objectos, normalmente corpos, parecerem lançar-se literalmente no meio do seu caminho para que ela caísse. Molly perguntou-se no que é que se baseara nela. Era simpática, sim, e talvez um pouco excêntrica, mas não achava que o resto das características da personagem coincidissem com ela, embora Sam achasse o contrário.

No entanto, o director do programa ficara contente com a audição que Molly fizera a algumas semanas e não hesitou em oferecer-lhe um contrato para a próxima série de Bailey. Ela tinha achado que essa parte da informação não teria sido divulgada, porém, evidentemente, era um daqueles segredos bem guardados que toda a gente sabe.

– O que queria dizer era que se te importas que contracene contigo na série – corrigiu Molly.

– O director disse-me que fizeste uma audição muito boa – David franziu a testa. – Porque é que ia importar-me?

– Bom… Sam é meu irmão e não queria que pensasses ou que alguém pensasse que isso teve alguma coisa a ver com o facto de me terem dado o papel – Molly encolheu os ombros.

– A isso chama-se nepotismo – explicou uma voz impertinente.

Era a voz de Gideon Webber, que não desperdiçava nenhuma ocasião para a insultar.

Molly perguntou-se se a madrinha poderia bater no padrinho no dia do baptismo.

– Gideon! – cumprimentou David calorosamente. – Como fico contente por voltar a ver-te.

Voltar a vê-lo?, perguntou-se Molly. Desde quando os actores de televisão e os decoradores se davam?

– Esquece o nepotismo – continuou David com um sorriso. – Dizem que és uma boa actriz.

– Acho que vamos poder comprovar isso com os nossos próprios olhos – replicou Gideon com ironia.

David deu uma gargalhada e Molly sentiu-se indignada. Sabia que não era uma brincadeira. Olhou para ele com os olhos semicerrados e ligeiramente corada.

– Como sabes que é preciso despir a roupa, no quarto capítulo? – perguntou David.

– Foi um acaso – Gideon não deixou de a observar.

Molly não conseguia assimilar o que David dissera. Tinha de se despir? Acabava de voltar dos Estados Unidos e não conseguira ler os capítulos todos porque estivera muito ocupada a instalar-se no apartamento. Gostava do seu corpo e achava que tinha as curvas certas, mas não tinha a certeza de querer mostrá-lo a toda a gente. Nem sequer com alguém tão atraente como David. Além disso, se fizesse caso do olhar de Gideon, ele não achava que o seu corpo pudesse exibir-se em público.

Capítulo 2

 

Era um imbecil! O seu corpo não tinha nada de mal. Não estava gorda, os seus seios eram firmes, tinha uma cintura estreita, umas ancas esbeltas e umas pernas bem-feitas. Porque é que achava que não podia fazer uma cena de nus?

Molly levantou o queixo e voltou-se para David.

– Podia ser divertido – comentou ela, fingindo despreocupação.

Até àquele momento, ninguém lhe dissera que teria de aparecer nua em nenhum capítulo e já tinha assinado o contrato.

– Eu também acho – David sorriu. – Tenho de dizer que o casamento feliz de Sam com Crys deu vida à série.

Era o que parecia… Tinha de falar com Sam embora só para saber se havia mais surpresas que não lhe tivesse contado.

– Estão muito felizes, não estão? – sussurrou Gideon com tristeza, enquanto olhava para o casal.

– Claro que sim – respondeu Molly com irritação.

Parecia que Crys não podia ser feliz com Sam só porque fora casada com o irmão mais novo de Gideon. Molly sabia que Crys amara muito James, mas só tinha vinte e nove anos, como ela. Gideon não esperaria que permanecesse fiel à memória do seu irmão durante o resto da sua vida… Se assim era, nunca deveria ter aceitado ser o padrinho de Peter.

– Esperemos que continuem assim – replicou Gideon, olhando para ela fixamente.

– Porque é que não haviam de continuar? – Molly franziu o sobrolho.

– Acho que os dois já tiveram bastante azar no que se refere ao amor – interveio David pausadamente.

Molly sabia ao que se referia. A perda que Crys sofrera era suficiente e Sam não tinha olhado para uma mulher, até conhecer Crys, desde que a sua ex-namorada o humilhasse publicamente há doze anos.

No entanto, David também sofrera uma perda recentemente e era muito insensível que Molly e Gideon tivessem aquela conversa à frente dele. Embora a animosidade entre eles fosse evidente.

– Tens razão, David – Molly agarrou-o pelo braço. – Não tem, Gideon?

– Sim… claro – concordou Gideon.

No entanto, Molly captou um brilho fugaz no olhar que tinha cravado nela. O que teria querido dizer com o comentário? E com o olhar? Aquele homem era demasiado profundo para ela, demasiado enigmático. Sentia que começava a doer-lhe a cabeça.

Molly respirou fundo e desviou o olhar dele.

– Se me desculparem… Quero falar com os meus pais antes de se irem embora.

– Não te detenhas por minha causa – replicou Gideon, bruscamente.

Se não queria estar com ela, porque é que fora ter com eles e se metera na conversa?, perguntou-se Molly de mau humor.

– Até logo – David recuperou e sorriu.

– Até logo.

Molly nem sequer voltou a olhar para Gideon antes de se afastar para onde estavam os seus pais. Aquele baptizado podia ter sido uma celebração familiar maravilhosa, mas a presença de Gideon Webber transformara-o numa espécie de pesadelo. No entanto, estava disposta a acabar com aquele pesadelo assim que conseguisse.

 

 

– Tu!

Molly não queria acreditar quando na manhã seguinte encontrou Gideon Webber na cozinha. Ela tinha alegado uma dor de cabeça, verdadeira, para sair da festa do baptizado assim que os seus pais saíram. Naturalmente, não fazia ideia de que Gideon também ia dormir ali.

– Eu – confirmou ele com um sorriso perante o desgosto evidente dela. – Queres um café?

Ela teria preferido um brandi para recuperar do choque, mas isso só teria confirmado a má opinião que ele tinha dela.

– Obrigada… – conseguiu balbuciar Molly.

O que fazia ele ali?, perguntou-se com desespero. Estava um sol pouco comum para Dezembro e ela descera as escadas feliz pelo dia que a esperava. Até àquele momento.

– Bebe um pouco – Gideon aproximou-lhe uma chávena fumegante. – Ainda te dói a cabeça? – inquiriu ele num tom brincalhão.

Era ele que lhe provocava dores de cabeça. Além disso, efectivamente começava a sentir uma pressão atrás dos olhos que não tinha há uns minutos.

– Não sabia se querias com açúcar – comentou ele, enquanto ela se sentava.

Molly bebeu um gole de café e esteve prestes a devolvê-lo. Não só não tinha açúcar, como também estava muito forte.