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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Merline Lovelace

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

Mãe desconhecida, n.º 1238 - Março 2015

Título original: The Paternity Proposition

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-6437-5

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Se gostou deste livro…

 

Capítulo Um

 

– Oh-oh!

A exclamação do mecânico fez com que Julie Bartlett levantasse a cabeça. Tinha calor, estava a suar e cheia de manchas de óleo de motor. Não estava com disposição para mais um problema técnico. O avião agrícola em que estavam a trabalhar tinha quase três vezes a idade dela e conhecera anos duros antes de ter sido comprado pelos seus atuais donos. Não ia voltar a entrar naquele avião até ela e o chefe de mecânicos terem colocado novos anéis nas cabeças dos cilindros. Chuck Whitestone, que estava sempre a mascar tabaco, e o outro sócio de Julie, Dusty Jones, somavam entre todos oitenta e dois anos no negócio da aviação agrícola. Tinham sobrevivido arduamente aos tempos difíceis, quando a queda dos preços e a execução das hipotecas levaram muitos agricultores do Oklahoma a abandonar as suas terras. Com as colheitas norte-americanas agora em alta deveriam já ter deixado para trás aquela fase e deveriam estar a ter lucro.

Deveriam era a palavra certa. Dusty Jones batia qualquer piloto jovem ou experiente, disso Julie podia dar fé. Levara-a a sobrevoar rente aos campos de trigo dos pais quando ela tinha nove anos, e graças a ele conseguira o brevet de piloto antes de ter a idade legal para conduzir um carro. E conseguiu pagar a universidade de Oklahoma com vários trabalhos aéreos quando os pais morreram. E assim que se formou conseguiu emprego numa pequena companhia aérea regional.

Naquele momento os planos dela eram fazer mais horas de voo e passar para uma companhia de passageiros maior. A subida do preço do combustível deitara por terra aquele objetivo. As linhas comerciais reduziam rotas e pessoal, pelo que Julie tinha trocado o transporte de passageiros pelo transporte de mercadorias. Nos últimos quatro anos voara para tantas localidades remotas na América do Sul e do Norte que não recordava sequer um décimo dos lugares em que pernoitara. Seguramente, continuaria a saltar de país em país se Dusty não lhe tivesse ligado um par de meses antes para sugerir-lhe que se associasse a ele e a Chuck Whitestone. Ele e Jack estavam já a descer pela colina dos setenta anos, recordou-lhe. Queriam reformar-se em breve. Se Julie ficasse na Agro-Air por alguns anos, poderia comprar-lhes a empresa inteira. Tudo o que precisavam agora era de uma pequena injeção de capital para se manterem à tona até à aposentação.

Contudo, o conceito de «pequena injeção» de Dusty revelou-se muito diferente do de Julie. No entanto, não podia deixá-los em dificuldades. Assim, deixou o emprego e investiu todas as poupanças na Agro-Air. Mas nem alguém com tantas horas de voo como ela conseguia mergulhar de cabeça na agricultura aérea. Passar por baixo dos cabos de alta tensão e desviar-se das copas das árvores requeria habilitações de voo completamente diferentes. E também o equivalente a uma dupla licenciatura em biologia e química. Felizmente Julie recebera as aulas de ciências necessárias na universidade, mas ainda assim Dusty fez questão de que, durante aqueles dois últimos meses, fizesse o trabalho pesado: conduzir camiões, misturar pesticidas e fazer a manutenção do avião. Aprendeu todos os aspetos do negócio desde baixo, tanto literal como metaforicamente.

Durante a sua dura aprendizagem, Julie descobriu também que um dos seus novos sócios ia ao casino quase com a mesma frequência com que entrava no avião. O dinheiro que ela investira na Agro-Air deveria ter sido destinado à compra de novo equipamento. Mas Dusty desviara-o para pagar as suas dívidas mais urgentes. De modo que ali estava ela agora, a tentar devolver aos céus aquele velho chaço de quarenta e cinco anos. E não queria ouvir que Chuck tinha encontrado um novo problema no motor do avião. Cruzou os dedos e espreitou por cima do suporte do motor.

Oh-oh o quê?

O mecânico indicou um ponto atrás dele.

– Temos companhia.

Julie virou-se e olhou para as ondas de calor que radiavam por cima da estrada empoeirada que levava ao hangar da Agro-Air. Uma coluna de pó vermelho de Oklahoma levantava-se sobre as ondas iridescentes. O causador da coluna de poeira era um Jaguar.

– Maldição.

Sentiu o estômago às voltas. Só lhe ocorria uma razão para que um carro desportivo de mais de setenta mil dólares aparecesse naquela estrada poeirenta. E aparentemente Chuck pensara o mesmo. O mecânico abanou a cabeça.

– Dusty voltou a fazê-lo.

Julie cerrou os dentes, tirou o trapo do bolso do fato-macaco e limpou o rosto coberto de óleo. O calor brutal de julho levara-a a apanhar o selvagem cabelo castanho debaixo do boné de basebol. Logo, estava encharcada em suor e sem vontade nenhuma de ameaçar, persuadir ou negociar com nenhum credor da Agro-Air.

Exceto…

Quando o Jaguar prateado parou meia dúzia de metros à frente, o homem que saiu do carro não se parecia com nenhum dos credores que vinham reclamar-lhes pagamentos. Julie deslizou os óculos de sol até à ponta do nariz suado. O homem tinha o cabelo ruivo com reflexos dourados pelo sol, ombros de desportista escondidos sob uma imaculada camisa branca e antebraços musculosos. Uma fivela de cinto prateada brilhava sob o sol de julho por cima de umas calças desportivas que só os homens de barriga lisa e quadris estreitos podiam usar.

Aquele fulano fazia algo mais do que usá-las. Poderia ter saído de um anúncio com alguma modelo anoréxica a seu lado. Julie estava a apreciar a vista até que o homem tirou os óculos de sol e pendurou-os no colarinho aberto da camisa.

– Oh, meu Deus!

Reconheceu aqueles quadris estreitos e aqueles ombros largos. Fazia mais ou menos um ano tinham-na deixado presa aos lençóis. Outro tipo de calor apoderou-se dela. Forte e completamente inesperado. Sentiu-o queimá-la enquanto as imagens lhe rodopiavam na cabeça. Imagens daquele homem a suar enquanto ela se montava de cócoras sobre os seus quadris. As mãos dele nos seus seios, na sua cintura. As dela explorando cada centímetro da gloriosa virilidade que tinha por baixo.

Mas não se lembrava do nome dele. Andy? Aaron? Ela nunca ia para a cama com desconhecidos. Nunca! Exceto naquela única vez.

Se não tivesse aparecido naquele pequeno aeroporto nos arredores de Nuevo Laredo num jato bimotor privado… se não se tivessem encontrado na cabine de operações… se ele não se tivesse oferecido para pagar-lhe uma cerveja…

Oh, pelo amor de Deus, nada podia apagar a estupidez daquela noite. Nem a ansiedade que sentiu dias depois da sua louca maratona de sexo. Tinham usado preservativos, vários, na verdade, mas no mês seguinte teve um atraso de quase dez dias.

Mais tarde apercebeu-se de que decerto isso se devia às mudanças no ciclo do sono, mas foram dez dias muito tensos. Ao recordar o medo que sentiu ao ir à farmácia comprar um teste de gravidez subiu outra vez os óculos no nariz com um dedo firme. Não queria que houvesse qualquer sinal daquele sofrimento quando cumprimentasse aquele fantasma do seu não tão longínquo passado.

Ou talvez não o cumprimentasse. O homem olhou com desprezo à sua volta enquanto se aproximava deles e se dirigia diretamente ao chefe de mecânicos.

– Procuro Julie Bartlett. Está por aqui?

Meio cherokee meio afro-americano, Chuck não era particularmente sociável. Olhou para o desconhecido dos pés à cabeça.

– Talvez. Quem a procura?

– Chamo-me Dalton. Alex Dalton.

Era isso! Alex. Era esse o nome dele, pensou Julie enquanto Chuck dirigia ao homem outro olhar lacónico.

– Você está no negócio dos casinos?

Surpreendido com a pergunta, Dalton abanou a cabeça.

– Não. Equipamento para explorações petrolíferas. A Julie Bartlett – repetiu. – Está aqui?

Chuck permaneceu em silêncio para que ela respondesse. E fê-lo, mas primeiro limpou outra vez as mãos no trapo e soltou um sentido suspiro.

– Sim, sou eu.

Podia aceitar o facto de não a ter reconhecido imediatamente com o boné de basebol e o fato-macaco. Mas não gostou do modo como a olhou pela segunda vez. Era surpresa o que refletiam aqueles olhos azuis? Ou não podia acreditar que tivesse tido uma noite de sexo com aquele fato-macaco oleoso? O que quer que fosse, magoou-a. Pelo que o comentário seguinte de Julie pareceu muito frio.

– O que é que posso fazer por ti, Dalton?

– Gostaria de falar contigo – olhou de soslaio para Chuck. – A sós.

Sentiu-se tentada a pedir-lhe que dissesse ali mesmo o que tinha para dizer. Ainda estava aborrecida com aquele breve olhar.

– Muito bem. Entremos. No escritório há ar condicionado.

Chamar escritório àquele cubículo de madeira situado dentro do hangar era demasiado pretensioso, mas tinha ar condicionado ao lado da única janela e servia para combater o calor do verão.

O ar condicionado foi como uma lufada de frescura bem-vinda quando Julie entrou à frente de Dalton e fechou a porta atrás dele. Imaginava o que aquele lugar devia parecer-lhe. Ela teve que engolir em seco quando lá entrou pela primeira vez dois meses antes. Relatórios meteorológicos, planos de pulverização, faturas de combustível e de produtos químicos ocupavam todas as superfícies horizontais disponíveis e praticamente cobriam o computador. O pó acumulava-se desde a Idade Média. Havia um candeeiro curvado sobre a secretária e outro no canto onde estava o armário de metal. A gata de Dusty, gorda e zarolha, estava esparramada sobre a única cadeira. Belinda abriu o olho bom para observar o intruso com pouco interesse e voltou a fechá-lo.

Julie fez um movimento para tirar o animal da cadeira, mas ao ver a imaculada camisa e as calças pretas de Dalton parou. Se se sentasse ali levantar-se-ia depois cheio de pelos de gato. Aparentemente, ele chegara à mesma conclusão, porque optou por ficar de pé.

Julie continuava sem conseguir relacionar aquele executivo sofisticado e elegante com o piloto astuto com o qual passara algumas horas tão intensas. Julie afastou a imagem das suas duras coxas e dos musculados ombros e inclinou-se sobre a secretária de Dusty.

– Isto é o mais a sós que podemos estar – disse indicando a gata com a cabeça. – De que é que querias falar comigo?

Em vez de responder, Dalton fez-lhe, por sua vez, uma pergunta.

– Lembras-te de mim?

– Demorei um pouco a reconhecer-te quando saíste do carro – disse, encolhendo os ombros. – Mas finalmente lembrei-me. Nuevo Laredo, há cerca de um ano.

Dalton deslizou o olhar do rosto dela ao largo fato-macaco. Desta vez disfarçou melhor, mas Julie imaginou o que estaria a pensar.

– Parece que também te foi difícil reconhecer-me – disse com ironia. Tirou o boné de basebol e os óculos e deixou-os na secretária. – Está melhor assim?

Foi evidente que a reconheceu assim que viu o seu cabelo arruivado e olhos de estranha cor. Um era verde e o outro de um tom entre o mel e o castanho. Recordou de repente que Dalton brincara sobre eles antes de beijar-lhe as pálpebras. E depois seguiu numa deliciosa linha pela boca, o queixo e o pescoço antes de continuar numa deliciosa tortura pelos seios. A recordação daquele erótico ataque fez com que os mamilos se lhe endurecessem imediatamente.

– Sim – admitiu ele esboçando um sorriso. – Muito melhor.

Aquele sim, era o homem que ela recordava. Aquele sorriso lento e sexy enrugava-lhe a pele bronzeada nos olhos e transformava-o num deus grego.

Julie lembrou-se de que não fora preciso mais nada. Aquele sorriso letal, seguido de um jantar, um par de cervejas, várias histórias partilhadas sobre a guerra e três explosivos orgasmos. Infelizmente, o efeito de tudo aquilo fizera com que todos os homens que Julie conheceria a partir de então lhe parecessem aborrecidos e pouco interessantes. Não passavam da etapa do jantar. Embora nos últimos meses não tivesse tido muito tempo para homens. Mas as coisas poderiam melhorar.

– É muito difícil seguir-te o rasto – comentou ele.

Andara à procura dela? Aparentemente, as coisas já tinham começado a melhorar.

A não ser que…

Teria viajado até aquele recanto de Oklahoma em busca de mais uma aventura? A possibilidade deixou-lhe um sabor amargo na boca. Talvez fosse o preço que tinha que pagar por deixar que aquela cara bonita e sorriso irresistível fossem mais fortes que o seu bom senso.

E no entanto fora até ali. Julie decidiu fazer as coisas de outra forma desta vez. Iria mais devagar. Partilharia com ele algo mais do que um par de cervejas e umas quantas histórias antes de trocarem fluidos corporais. A possibilidade provocou-lhe um delicioso calafrio de emoção.

– Quando acordei tinhas ido embora – comentou ele interrompendo-lhe os pensamentos.

– Tinha que estar no aeroporto às cinco da manhã.

E também tinha um sentimento de culpa. Naquela altura saía com uma pessoa. Não era nada sério, mas era o suficiente para acrescentar uma incómoda sensação de deslealdade ao impacto de ter feito algo completamente incaracterístico dela. Terminou com Todd pouco depois, seguramente devido ao facto de tanto ele como os outros dois ou três homens com quem saíra desde então não terem superado as comparações com este outro.

Muito bem. Admitia-o. Pensara um par de vezes em procurar Dalton depois do breve encontro. Depois de terminar com Todd poderia até ter procurado nos arquivos do aeroporto de Nuevo Laredo para descobrir onde vivia. Mas aceitara um trabalho para transportar material para umas minas no Chile pouco antes de entrar na Agro-Air. Fora uma viagem extenuante através dos Andes, e desde que voltou aos Estados Unidos só conseguia pensar em fungicidas e fertilizantes. Felizmente, naquele momento estavam no breve período de descanso entre a colheita da primavera e os preparativos de inverno para o plantio do trigo. Finalmente tinha algumas semanas para terminar de arranjar o avião. Ao recordar a fuga de combustível do motor decidiu deixar as coisas claras.

– Sinto-me lisonjeada por teres vindo até aqui para me encontrares, Dalton, mas deves saber que não sou a mesma pessoa que conheceste então. Aconteceram muitas coisas na minha vida e não tenho nem tempo nem energia para uma aventura. Embora tenha sido muito bom da outra vez – esclareceu.

– Não vim aqui para continuar o que parámos.

Ótimo. Era melhor que as coisas ficassem claras.

– Então, porque é que me procuraste? – assim que disse aquelas palavras ocorreu-lhe que talvez só quisesse falar de negócios. Julie deduziu pelo avião que pilotava e o relógio caríssimo que trazia que era parente dos Dalton, com negócios petrolíferos em Oklahoma. Pelo que Julie sabia, a Dalton Internacional não estava envolvida na aviação agrícola mas poderiam estar a ponderar a possibilidade. Se a tendência atual das colheitas continuasse poderia tornar-se um negócio muito lucrativo. A menos, naturalmente, que fosses sócia de uma empresa cujo sócio mais antigo era viciado em slot machines. Julie esforçou-se por não fazer uma careta e esperou que Dalton continuasse. Fê-lo, desta vez sem vestígios de sorriso.

– Vim para saber se ficaste grávida naquela noite em Nuevo Laredo.