sab1316.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2010 Caitlin Crews

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O regresso do xeque, n.º 1316 - junho 2018

Título original: Majesty, Mistress...Missing Heir

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-315-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

A porta abriu-se de repente e Jessa levantou o olhar da secretária. Era como um sonho, um sonho que tivera muitas vezes. Ele entrou, envolto no frio húmido das noites de Yorkshire. Sem pensar, pôs-se de pé e abriu as mãos, como se assim pudesse defender-se dele, como se pudesse impedi-lo de entrar naquele escritório minúsculo, na sua vida. Não podia deixá-lo entrar novamente. Não podia permitir que isso acontecesse.

– Aqui estás – disse ele, num tom enérgico e intransigente, como se se contentasse em cravar-lhe o seu olhar frio, como se estivesse à procura dela.

O coração de Jessa pulsava descontrolado e a cabeça andava à roda. Seria uma alucinação? Cinco anos depois? Estaria a sonhar?

– Tariq – disse ela, aturdida, como se assim pudesse dissolver aquele pensamento.

Mas Tariq bin Khaled Al-Nur não parecia um sonho. Não havia nada de imaterial nele, um homem que nunca passava despercebido e que era muito difícil de esquecer. Dissera-lhe que não passava de um membro de uma das famílias mais ricas do país, um filho mimado e multimilionário, mas Jessa já sabia que era mais do que isso: Tariq tornara-se o governante do seu país. Não suportava sabê-lo. Era como se o tivesse escrito na testa, denunciando-se a si mesma, revelando-lhe que lhe tinha seguido a rasto ao longo dos anos, quando, na verdade, quisera esquecê-lo.

Mas não era capaz de desviar o olhar dele.

Mesmo depois de tantos anos, conseguia recordar todos os seus traços com uma clareza espantosa, mas ele era muito mais do que ela se permitia recordar. As linhas do seu rosto tinham endurecido e tornado mais enigmáticas e indecifráveis. Tornara-se mais homem. O tempo tinha-o transformado num homem feito.

As lembranças eram nebulosas, mas o Tariq que estava diante dela era poderoso, vibrante, deslumbrante…

Perigoso.

Jessa tentou concentrar-se no perigo. Não importava se o seu coração saltava cada vez que o via. O importante era o segredo que tinha de guardar. Com o tempo, começara a pensar que aquele momento nunca chegaria, mas enganara-se.

Todo ele era músculo, força e poder dentro de um corpo atlético e esbelto. A sua pele, ligeiramente bronzeada, parecia apanhar os raios do sol. O tempo parou e Jessa observava-o, tentando decifrar a expressão dura do seu rosto. Os seus traços tinham-se tornado mais pronunciados, as linhas escuras das sobrancelhas, o cabelo grosso e preto, o ângulo do seu nariz masculino, as maçãs do rosto, o seu porte aristocrático e arrogante… Sangue real.

Como tinha sido capaz de ignorar todas aquelas pistas cinco anos antes? Como podia ter acreditado nele quando lhe dissera que não passava de um membro insignificante da elite do país?

Aqueles olhos verdes e profundos, misteriosos e quase pretos ao entardecer, afectavam uma parte dela que julgava ter enterrado muitos anos antes, a parte que acreditara em todas as mentiras que lhe dissera, a parte que a transformara num brinquedo nas mãos de um mestre da manipulação, a parte que o amara incondicional e temerariamente, e que, apesar de tudo, continuaria a amá-lo.

Ele fechou a porta atrás de si com um gesto pausado, mas o clique do trinco soou como um disparo aos ouvidos de Jessa. Não podia permitir-se um momento de fraqueza, não quando havia tanto em jogo. Sem dúvida, ele quereria saber a verdade. Não havia qualquer outra explicação. Caso contrário, porque apareceria assim naquele escritório humilde situado num beco de York?

Estava ali para saber a verdade.

Quando a porta se fechou, o barulho da hora de ponta no centro de York desapareceu, deixando-os à mercê de um silêncio insuportável. O escritório era muito pequeno e parecia estar a encolher. Jessa sentia que o coração lhe saltava do peito e umas garras de gelo pareciam cravar-se nas suas costas. Tariq era uma sombra enorme e ameaçadora que se abatia sobre ela.

Ele não se mexeu, nem disse nada, mas continuou a olhá-la fixamente, desafiando-a a desviar o olhar. Aquele homem arrogante e de aspecto feroz não tinha nada a ver com o jovem mulherengo e desenvolto que Jessa recordava. O seu sorriso espontâneo e o seu encanto subtil tinham desaparecido para sempre. O homem que tinha diante dela, temível e implacável, era o rei que espreitava de dentro do rapaz que ela conhecera noutros tempos, aquele que tinha visto fugazmente.

Um calafrio percorreu as costas da jovem.

Ele estava ali para saber a verdade.

Os ouvidos estalavam-lhe com cada palpitação do seu coração. O passado e os segredos tinham-na encurralado, arrastando-a para o redemoinho escuro do qual tanto lhe custara a escapar. Mas não tinha apenas de se proteger a si mesma. Tinha de pensar em Jeremy, no melhor para ele. Não fora o que sempre fizera, sem se importar com as consequências?

Olhou para Tariq de cima a baixo e tentou pensar que era só um homem, por muito feroz e temível que fosse. Além disso, mesmo que fosse um rei naquele momento, cinco anos antes desaparecera sem deixar rasto, sem dizer uma palavra, sem olhar para trás. Tariq era um homem traiçoeiro e cruel, tão cruel como o deserto exótico onde vivia. Os fatos elegantes de seda e caxemira feitos à medida não escondiam a realidade. Tariq bin Khaled Al-Nur era um guerreiro, selvagem e indomável, um relâmpago ofuscante numa noite escura. Era um predador. E ela sempre soubera disso, apesar do seu sorriso encantador e da sua atitude calma.

De repente, Jessa ficou sem ar. Tinha os pulmões duros, como se não houvesse oxigénio suficiente na sala. Tinha pensado que nunca mais voltaria a vê-lo e não sabia o que fazer agora que o tinha diante dela.

– Não – disse, surpreendida ao ouvir a sua própria voz quando o mundo tremia à sua volta. – Não podes estar aqui – acrescentou, num tom mais firme.

Ele arqueou os sobrolhos, com uma expressão altiva e prepotente. O seu cabelo, mais comprido do que o normal, brilhava com a chuva de Outono. Os seus olhos continuavam cravados nela, atravessando-lhe a alma. Como amara aqueles olhos noutros tempos… Uns olhos que pareciam tristes e tímidos, que nada tinham a ver com a ferocidade enigmática que os embargava naquele momento.

– Mas estou aqui – disse-lhe ele, num tom comedido, com um sotaque quase imperceptível que evocava terras longínquas.

Outro desafio que atingiu Jessa como um murro no estômago.

– Sem ser convidado – disse-lhe, tentando parecer sarcástica, fingindo uma força que não tinha.

– Por acaso, preciso de convite para entrar no escritório de um agente imobiliário? Peço-te desculpa se tiver esquecido os costumes ingleses, mas pensava que os clientes podiam entrar livremente neste tipo de estabelecimentos.

– Tens hora marcada? – perguntou Jessa, apertando os dentes, para conter os tremores.

– Digamos que sim – disse ele, como se quisesse dar-lhe a entender alguma coisa.

Olhou-a de cima a baixo, como se a comparasse com as lembranças que tinha dela.

Jessa corou, alvo de uma mistura de fúria e medo. De repente, teve a sensação de que não estava à altura e, então, zangou-se ainda mais, com ele, consigo mesma. Como podia preocupar-se com aquelas coisas num momento como aquele? Nada mudaria a realidade: ela era uma rapariga de Yorkshire e ele era um rei.

– Fico feliz por te ver novamente, Jessa – disse Tariq, num tom enganadoramente cortês.

Ela desejou que não tivesse dito o seu nome. Ouvi-lo nos lábios dele era como uma carícia na nuca.

– Receio que não possa dizer o mesmo – respondeu ela, num tom frio. Tinha de garantir que ele não voltaria a aparecer por ali. O passado era demasiado complicado para o trazer para o presente. – És a última pessoa que queria ver. Se voltares para o lugar de onde vieste, poderemos fingir que isto nunca aconteceu.

Os olhos de Tariq emitiram um brilho fugaz, cor de jade. Enfiou as mãos nos bolsos, com indiferença e desenvoltura.

– Estou a ver que os anos te afiaram a língua – olhou-a por um instante. – Pergunto-me o que mais terá mudado.

Algo muito importante tinha mudado, mas ela não podia partilhá-lo com ele. Ou será que ele já sabia e estava a montar-lhe uma armadilha?

– Eu mudei – disse, finalmente, fulminando-o com o olhar, pensando que o ataque era muito melhor do que qualquer defesa contra o estranho que tinha diante dos seus olhos. – Cresci – levantou o queixo com um gesto desafiante e cerrou os punhos. – Já não ando por aí a suplicar pela atenção de um homem.

Ele não se mexeu nem um centímetro, mas Jessa viu como o seu corpo ficava tenso, como se se preparasse para a batalha. Ela fez o mesmo, mas ele limitou-se a observá-la. Fez um esgar demasiado cruel para ser um sorriso.

– Não me recordo de te ter visto a suplicar – disse ele. – A não ser na cama – acrescentou e guardou silêncio, dando-lhe tempo para recordar.

Jessa não respondeu, mas continuou a olhar para ele.

– Mas, se quiseres reviver esses momentos, podes fazê-lo.

– Acho que não – resmungou ela, entredentes. – Já acabaram os meus dias com playboys patéticos e convencidos.

A atmosfera rarefez-se de repente. Ele semicerrou os olhos e Jessa desejou não ter dito o que acabara de dizer. Ele não era um homem vulgar, nem sequer era o homem que conhecera cinco anos antes. Era selvagem, incontrolável… Só um louco cometeria o erro de o subestimar.

A antiga fraqueza que sentia na sua presença estava mais viva do que nunca, a fraqueza que nunca a abandonara, embora ele o tivesse feito. Podia senti-la por todo o corpo, como se nada tivesse mudado, embora tudo fosse diferente, como se ainda lhe pertencesse. Os mamilos endureceram-lhe sob o tecido fino da blusa e tinha a pele a arder.

Jessa mordeu o lábio e tentou conter toda a emoção que ameaçava transbordar dos seus olhos. Não podia revelar-lhe todas as coisas que tanto se esforçara para esconder. Não podia deixar que isso acontecesse. Não queria saber dele. Estava disposta a fazer o que fosse necessário para guardar o segredo e não se deixaria levar por uma simples reacção química.

Mas não era capaz de desviar o olhar.

Tariq olhou para a mulher que o atormentara durante anos, a mulher cuja lembrança o açoitara sem tréguas, a mulher que naquele momento ousava desafiá-lo sem saber o perigo que corria. Sempre se considerara um rei moderno, mas naquele momento só conseguia imaginar-se sobre um dos seus cavalos e a levá-la para a sua mansão do deserto.

De facto, gostaria muito de o fazer.

Fizera o que era correcto ao vir até àquele lugar. Devia enfrentá-la finalmente, mesmo que ela o desprezasse e o insultasse, tal como fizera há tanto tempo.

Tariq esboçou um sorriso feroz. Sabia que devia estar furioso com uma mulher que se atrevia a rejeitá-lo como se fosse um ser desprezível. Sabia que devia sentir vergonha de si mesmo. O xeque Tariq bin Khaled Al-Nur, rei de Nur, prostrara-se diante da única mulher que ousara abandoná-lo, a única mulher de quem tivera saudades, a mulher que naquele momento o olhava com desprezo, vestida com um fato horrível que disfarçava a sua exuberância… Deveria estar furioso, colérico.

Mas, apesar de tudo, desejava-a.

Era assim. Finalmente, deixara de lutar contra si mesmo.

Tinha de voltar a sentir aquele corpo delicioso e sinuoso sob as suas mãos, nem que fosse apenas mais uma vez. Aqueles olhos cor de canela, os lábios duros… Podia sentir o sabor da pele dela na boca, ainda sentia o calor do desejo. Ou talvez fosse a recordação. Mas, fosse como fosse, tinha de voltar a estar dentro dela mais uma vez.

– Sou um playboy patético e mimado, não é? – perguntou-lhe, num tom mordaz. Recordava-lhe a outra vida desperdiçada, mas, mesmo assim, desejava-a e estava decidido a tê-la. – Uma acusação intrigante.

– Não faço ideia do que queres dizer – disse ela, corando. – Não é uma acusação. É a verdade. Tu és assim.

Tariq observou-a durante alguns instantes. Ela não sabia como ele se envergonhava daquela vida libertina que levara noutros tempos, como a associava a tudo o que quisera deixar para trás. Lutara durante muitos anos para quebrar o feitiço. Dissera muitas vezes a si mesmo que só a recordava porque ela o abandonara, que teria sido ele a deixá-la se tivesse tido a oportunidade, tal como deixara todas as outras mulheres.

E, no entanto, ali estava.

– Se eu sou um playboy, então, tu deves ser um dos meus brinquedos, não é? – perguntou-lhe, disposto a divertir-se com a sua reacção.

Ela, como era de esperar, não o defraudou. Os seus olhos relampejaram.

– Não me surpreende absolutamente nada que me tomes por um dos teus brinquedos – disse-lhe, esboçando um sorriso irónico. – Mas eu nunca fui tua.

– Deixaste-o muito claro há cinco anos – respondeu ele.

Ela ficou tensa.

– Mas dois velhos amigos não se cumprimentam desta forma depois de tanto tempo – acrescentou ele e atravessou a sala até parar à frente da secretária.

– Amigos? – repetiu ela, abanando a cabeça suavemente. – É isso que somos?

Só a secretária se interpunha entre eles. Jessa engoliu em seco. Tariq sorriu.

Era tal como ele a recordava. Estava bonita como sempre: caracóis acobreados, olhos cor de mel, pequenas sardas no nariz e uma boca feita para o pecado.

No fundo, nada tinha mudado. Ela respondia-lhe como noutros tempos.

– E o que sugeres? – perguntou ela, arqueando os sobrolhos. – Vamos beber um café? Falar dos velhos tempos? Isso não me agrada.

– Deixas-me desolado – disse ele, num tom incisivo. – As minhas outras ex-amantes costumam ser bastante mais receptivas.

A expressão de Jessa tornou-se séria e sombria, os seus olhos obscureceram.

– Por que vieste, Tariq? – perguntou-lhe ela, num tom directo e hostil que o irritava e excitava ao mesmo tempo. – Vais arrendar um apartamento na zona de York? Se for assim, terás de voltar quando cá estiverem os agentes. Estão todos fora a acompanhar clientes. Eu sou apenas a gerente.

– Por que achas que estou aqui, Jessa?

Olhou-a fixamente, deixando a pergunta no ar. Queria ver a sua reacção. Ela levou a mão à garganta, como se quisesse acalmar o ritmo do seu coração.

– Não faço a mínima ideia. Não consigo imaginar nenhuma razão pela qual quisesses vir aqui – disse-lhe, num tom não muito firme, pelo que teve de tossir para disfarçar o tremor. – Acho que deves ir-te embora. Agora – acrescentou, endireitando-se como se se julgasse rival para ele.

Tariq inclinou-se para a frente e preparou-se para a guerra. Ela teria de pagar pelo que acabava de dizer. Ele era o rei e ela devia aprender a falar-lhe com correcção.

– Se não me disseres o que queres… – começou a dizer ela, franzindo o sobrolho.

– A ti – ele sorriu. – Quero-te a ti.